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quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Sinais anódinos do Natal

 


É assunto que sempre me deixa inquieto, mas este ano ainda mais, até pela advertência vinda no norte do país, onde um padre (ainda jovem) se fez eco de uma espécie de ostracização do presépio em certos círculos sociais. Dá a impressão que os sinais cristãos do Natal têm vindo a encolher e, nalguns casos, a serem retirados, sabe-se porquê e para quê.

Os exemplos que ilustram este texto são disso algo revelador de que o Natal deixou de ser para festejar o nascimento de Jesus para ser trocado, substituído ou camuflado por outros intentos nem sempre claros tão pouco facilmente precetíveis...

1. As fotos apresentadas são de uma instituição relacionada com a Igreja católica e de um autarca em funções. Será que as ‘estrelas’ ganharam a disputa com a Estrela que é Jesus? Será que certos adereços vingaram sobre a mensagem cristã? Até que ponto não andaremos a brincar com coisas sérias, adjuvando-lhe tiques de neo-paganismo? Será que o dito respeito por quem não se sente cristão terá de fazer destes uma espécie de cobardes anónimos? Se aqueles que Lhe dizem pertencer são os primeiros a desertar, que futuro nos resta esperar?

2. Dá a impressão que os leves resquícios de cristianismo que havia na nossa sociedade estão a ser ardilosamente combatidos por forças bem organizadas e, porque não dizê-lo, combativas, seletivas e com propósitos definidos. As decorações de rua e dos espaços comerciais tresandam a consumismo. As linguagens incentivam a ficar pelo comer-e-pelo-beber, deixando de fora os valores típicos do cristianismo da fraternidade e da solidariedade. Sob a capa de tolerância de tudo e para com todos vão sendo varridos para debaixo do tapete social ou para fora do contexto cultural múltiplos valores humanos e de índole espiritual. O cristianismo quase só serve para promover a função horizontalista da vida, esquecendo o mistério de encarnação do Verbo. Com estes sinais caminharemos para um esvaziamento do verdadeiro sentido do Natal...

3. Citamos um pequeno excerto do recente livro do Papa Francisco, O meu presépio:
«São dois os sinais que, no Natal, nos guiam para reconhecer Jesus. Um é o céu cheio de estrelas. São tantas, infinitas, mas entre todas brilha uma especial, que impele os Magos a deixar as suas casas e a iniciar uma viagem, um caminho que não sabem aonde os vai levar. Acontece o mesmo na nossa vida: em certo momento, uma ‘estrela’ especial convida-nos a tomar uma decisão, a fazer uma escolha, a iniciar um caminho. Devemos pedir a Deus com força que nos mostre essa estrela que nos impele para além dos nossos hábitos, porque essa estrela levar-nos-á a contemplar Jesus, aquele Menino nascido em Belém que quer a nossa felicidade plena.
Naquela noite que se tornou santa pelo nascimento do Salvador encontramos um outro sinal poderoso: a pequenez de Deus. Os anjos mostram aos pastores um menino nascido numa manjedoura. Não um sinal de poder, de autossuficiência ou de soberba. Não. O Deus eterno reduz-Se a Si próprio a um ser humano indefeso, pobre, humilde. Deus rebaixou-Se para que nós possamos caminhar com Ele e para que Ele possa pôr-Se ao nosso lado; Deus não quer pôr-Se acima ou longe de nós.
Espanto e maravilha são os dois sentimentos que emocionam todos, pequenos e grandes, perante o presépio, que é como um Evangelho vivo que transborda das páginas da Sagrada Escritura. Não interessa como se arranja o presépio, se é sempre igual ou diferente todos os anos; o que importa é que ele fale à nossa vida».

4. Enquanto é tempo tentemos discernir (estas e outras) formas capciosas de combater ao Natal, mesmo que imbuídas de laivos de compreensão para com quem pensa e sente diferente de nós. Será que eles nos dedicam idêntica atitude? Não sejamos ingénuos nem papalvos... Os filhos das trevas são mais espertos do que os filhos da luz, mas será que são inteligentes?



António Sílvio Couto

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