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quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Premiar (novamente) a incompetência?

 Com a demissão do sr. Costa, a 7 de novembro, entramos num novo ciclo político em Portugal: por

causa de uma suspeita sobre o chefe do governo, este caiu e, de repente, uma maioria parlamentar claudicou com menos de dois anos de mandato... e o país entrou num frenesim eleitoral, que, em 2024, será, no continente, de dois atos para votação: março (legislativas) e junho (europeias). Mas eis que, repentinamente, se erguem tentáculos de reclamação, numa espécie de desresponsabilização das culpas próprias, atirando-as aos outros, a ver se pega...

1. Deveremos ser dos poucos países civilizados onde ainda os ocupantes de cargos políticos são tratados pelos títulos pretensamente académicos. Pior ainda é quando são eles mesmos a tratarem-se entre si com tais qualificações, como se estivessem a dirigir-se a entidades estranhas à linguagem normal e simples. Desgraçadamente os que ganham a vida nos trabalhos da política foram formados noutras áreas do saber e/ou profissionais, mas é na vida de serviço público que eles auferem os ganhos. Não seria de questionar que haja pessoas vindas da advocacia a mandar em autarquias ou que formados em engenharia sejam titulares de mandatos no parlamento? Não seria necessário e útil haver ‘escolas de política’ mais do que espaços de mentalização partidária/ideológica? Até onde continuará a ir a conivência com termos na condução dos destinos coletivos arietes de interesses económicos, esconsos e quase subterrâneos? Por que nos admiraremos da balbúrdia ambiental se uns se dizem defensores do (pretenso) equilíbrio climático, quando são suportados por forças que vivem (efetivamente) ancoradas naquilo que dizem combater?

2. Mais uma vez temos de pronunciar-nos sobre propostas políticas que já deram provas de incompetência reiterada. Se assim não fosse por que faliram em menos de anos de serem escolhidos, votados e empossados como responsáveis do país? Estamos num tempo em que a memória das pessoas é curta, seletiva e, por vezes, incongruente. A julgar – de forma simples, sincera e sem preconceitos – pelos resultados da governação, somos tentados em considerar que falta quem seja capaz de assumir com responsabilidade as ‘funções que lhe são confiadas’ – como dizem no ato de posse e sob juramento. Terá havido erro de casting nas escolhas? Não será já difícil pescar para que haja diferentes na qualidade e na competência? A avaliar pela redundância das personagens vistas nota-se que são poucos os que se sujeitam a terem a vida pessoal e familiar devassada.

3. Há questões do pretenso cardápio do ‘estado social’, como a saúde ou a educação que não se resolvem com o afunilamento estatal, pois a morosidade, a incerteza e até a falta de qualidade são colmatadas por outras entidades ostracizadas pela ideologia reinante. Segundo números publicitados – a fonte não é irrelevante – haverá 3,5 milhões de portugueses (ou aqui residentes) que têm complemento de seguro de saúde. Por que se terá de ignorar estes dados? A culpa não será só da falta de profissionais de saúde nos meios estatais...

4. Certos slogans – o que é público é de todos, o que é privado é de alguns; em defesa da escola pública; justiça cara para os pobres – podem encobrir algo mais do que disfarces de circunstância, na medida em que tudo depende de quem quer impingir uma pretensa ideia. Com efeito, alguns dos promotores daqueles slogans são os primeiros a desmentir o que dizem, pois, se a (dita) escola pública não responde às necessidades dos que dela necessitam, então só servirá para desmotivar quem nela ainda participa.

5. Mais do que banalidades e de ataques pessoais - muitas vezes funcionando como assassinato de caráter - precisamos nas propostas para as eleições que se avizinham de conteúdos com clareza, de sabermos qual é o caminho a seguir e de termos opção e não coação. Não acabará nada e muito menos será o final de ninguém. Saibamos ver as lições do passado e saberemos entender o presente e o futuro...



António Sílvio Couto

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