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segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Vestir – moda sem beleza?

 


Vestir e, sobretudo, vestir-se é muito mais do que enfiar uma farpela e sair para a rua. Vestir-se é assumir uma atitude de ser com os outros e, porque não, de saber estar no contexto da sociedade onde cada se insere. Se atendermos ao ditado – mostra-se como te vestes que direi quem tu és – tudo o resto implica uma espécie de identificação por aquilo que se veste, onde e quando…

1. A moda será, então, uma arte ou uma artimanha? O não vestir – que é diferente do despir de certas modas e tendências – revela o quê e, particularmente, quem? Não será que certas modas denunciam o estado de alma dos vestidos/despidos? As roupas e roupagens manifestam o estado económico de quem se veste e como se veste? Serão os (ditos) criadores de moda influenciadores sociais ou manipuladores das massas? E os (pretensos) críticos de moda não passarão de interessados em benesses quando se tiverem de vestir? Como entender, em matéria de modas, a frase de paulina: ‘tudo me é permitido, mas nem tudo é conveniente’ (1 Cor 6, 12; 10, 23)?

2. Estas e outras perguntas poder-se-ão colocar sobre este assunto, que tem tanto de social como de pessoal, tanto de relacionamento com os outros como de cada um consigo mesmo, tanto de passado como de atual, tanto de histórico como de implicações no futuro… Vamos tentar abordar – sem qualquer conotação moralista – este tema da ‘arte de bem vestir’, que bem pode ser um slogan, mas também um propósito que pode esbarrar em certos conceitos e preconceitos.

3. Três breves exemplos assaz divulgados nos tempos mais recentes: as calças rotas, o trajar de calções e os vestidos largos e compridos…

A moda das calças rotas ou rasgadas desde logo choca com um certo tempo de aprumo no vestir – tanto de homens como de senhoras – onde, por exemplo, as calças deveriam estar apresentáveis e, digamos, cuidadas. Há quem situe a moda das calças rotas/rasgadas com o protesto social do movimento punk da década de 70 do século passado. Deste modo poderemos considerar que aquilo que teve início como um protesto individual contra a imposição de padrões de gosto e de consumo coletivos, foi adotado, no século XXI, pela maioria dos consumidores como objeto de afirmação pessoal, quase de culto, especialmente entre os jovens, tornando-se uma espécie de contradição dos tempos em que vivemos…manipulados pela moda acriticamente.

O trajar de calções – muito divulgado neste quente verão – conseguiu colocar um traje nos lugares mais inadequados, quando deveria ser usado em lugares que julgávamos mais redutivos. Com efeito, certos corpos seriam mais dignos de serem escondidos do que mostrados nas suas misérias… Como o bom senso não se compra nem está em saldos, será preciso recorrer ao ridículo para corrigir tais modas?

Segundo algumas opiniões económicas as roupas femininas revelam a capacidade financeira dos utentes, podendo ajudar a ver o estado socioeconómico do país à mistura com as implicações nas pessoas. Assim os vestidos longos e largos recentemente introduzidos na moda refletem o melhor desempenho da nosso economia, apelidada de estar em crise? Se esta é real como interpretar este fenómeno da moda feminina?

4. Certamente todos conhecemos – embora nem sempre saibamos o seu real alcance – a expressão francesa – ‘noblesse oblige’ – que significa literalmente: a nobreza obriga (ou obrigação nobre), isto é, pelo facto de pertencer à nobreza (classe social dos tempos medievais) há um comportamento que lhe é correspondente… agora em sentido denotativo significará que, a uma determinada posição social, há um comportamento – desde o ser ao estar – que se deve ter ou que se espera que tenha a condizer com esse estatuto…

Se assim for, qual o caminho para onde vamos – de calças rotas/rasgadas, de calções (sob tamanhos diversos) ou de longos e largos vestidos? Saberemos vestir-nos a condizer para os lugares e as tarefas que temos?



António Sílvio Couto

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