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quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Radares e acidentes/mortes nas estradas

 

Só em dois dias (sábado e domingo, 9 e 10 de setembro) morreram nove pessoas nas estradas – em vários pontos – de Portugal. A ver pelas imagens alguns desses sinistros foram complexos e mesmo de gravidade extrema. Manobras perigosas, ultrapassagens pela direita, excessos de velocidade e falta de sistemas de segurança (cintos e não só) e desrespeito pelas regras (código) da estrada foram algumas das causas desta mortandade nas vias de comunicação rodoviárias. Entretanto, foram espalhados pelas vias mais perigosas radares de controlo à velocidade – não instantâneo, mas segundo o método de cálculo do tempo médio gasto entre dois pontos assinalados por radar – tendo, só no primeiro dia de funcionamento, registado mais de seis mil infrações…

1. A mortalidade nas estradas, em Portugal, sempre foi elevada com números escandalosos e a roçar quase uma espécie de guerra civil sem armas. Em 2022 houve mais de 130 mil acidentes rodoviários, com 474 mortos e mais de quarenta mil feridos daí decorrentes. Algo de muito grave se passa na nossa mentalidade e, particularmente, no comportamento de condutores e peões, tanto nas estradas como nas ruas. De referir que o número de atropelamentos tem vindo a aumentar de forma progressiva e quase assustadora, bem como têm crescido os acidentes com motas…

2. Do ponto de vista da fiscalização os dados são também de grande destaque. De entre as principais cláusulas eis alguns dos itens: controlo (de excesso) de velocidade, manobras perigosas em ultrapassagens, condução sob efeito do álcool e substâncias psicotrópicas, com ou sem cinto de segurança, aferindo da habilitação para conduzir (com ou sem carta), bem como a documentação necessária do veículo para circular na via pública… uso do telemóvel ao volante. Campanhas como a taxa ou tolerância zero promovidas pelas entidades responsáveis pela segurança rodoviária tentam atenuar a frieza dos números de vítimas de quem anda na estrada, mesmo que se não tenha em conta tantos dos erros e transgressões de condutores e de peões… Mesmo assim os números poderiam ser muito mais trágicos e irrecuperáveis…

3. Em abril de 2006, a Conferência Episcopal Portuguesa apresentou aquilo que designou de ‘sete pecados sociais’, colocando o tema da condução na estrada entre os visados como pecados. Dizia o texto: «a irresponsabilidade na estrada, com as consequências dramáticas de mortes e feridos, que são atentado ao direito à vida, à integridade física e psicológica, ao bem-estar dos cidadãos e à solidariedade». Efetivamente este problema exige formação ética/moral, pois da atitude menos correta de um, todos poderão ser prejudicados de forma irreversível.

Quantas vezes os acidentes que ocorrem são uma pequena parte dos erros de tantos dos utilizadores das estradas. Quantas vezes quase parece milagre que não haja mais acidentes, tal a negligente forma como muitos andam nas estradas e nas ruas. Quantos se julgam ‘bons condutores’ e não passam de disfarçados, se estiver a fiscalização!

4. Quem nunca cometeu uma infração – por muito pequena que tenha sido – mesmo que não tenha tido consequências funestas? Quem não terá incumprido alguma das regras da estrada, mesmo que não tenha sido visto pelo policiamento? Quem não terá de dar graças a Deus por ter escapado de algum acidente, por mais possivelmente insignificante que possa parecer?

Precisamos de reconfigurar a nossa aptidão de condutores e de recauchutar a nossa presença de peões… Cidadania precisa-se!



António Sílvio Couto

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