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quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Beijo maldito

 


A Espanha tinha acabado de sagrar-se campeã mundial de futebol feminino – 20 de agosto, na Austrália – quando o presidente da real federação de futebol festava com a jogadora que marcou o golo vencedor… Pareciam festejos normais, quando o dito senhor beijou a jogadora na boca… Daí para cá parece que tudo – literalmente tudo – roda em volta deste episódio com as mais complexas interpretações nos vários campos de atividade, desde o desportivo ao político, passando pelo social (local ou quase-mundial)…Só visto que contado parece ridículo e efabulação de sally season.

* Múltiplas instâncias entram na refrega, desde as nacionais – está-se a viver uma crise política e faz jeito este fait-divers – passando pelas europeias – os mais altos responsáveis vieram a terreno clamar castigo exemplar – e mundiais – o tema chegou às de nível da ONU, com tiradas políticas semelhantes às maiores atrocidades humanitárias.

* Embora dito em quase nota de rodapé, a intromissão política do governo espanhol na esfera desportiva pode valer a exclusão dos clubes e das seleções daquele país das competições internacionais… Isto era quando as coisas eram normais, mas este assunto tem tudo menos normalidade, por isso, poderá escapar ao dito castigo…

* Aquilo que se viu nos festejos pela conquista do mundial de futebol feminino teve alguma coisa de diferente que se não veja aquando dos jogos mais normais? Por que é que os beijos e abraços destes jogos não estão abrangidos pelo mesmo rigor (moralista e sexista) com que se tem analisado este episódio? Com tantos protestos feministas não soa a conluio entre lóbis ainda não totalmente descortinados?

* Voltando à situação da Espanha política – à procura de governo há mais de um mês, depois das eleições – percebe-se que o visado nas críticas – o presidente demitido e processado da RFEF – deve reportar-se a alguma das fações partidárias, pois o afã colocado não é normal ou o combate tão tenaz esconde algo mais do que um deslize de comportamento em público. Repare-se na colagem – de certos partidos e ideologias – do lado de cá da fronteira aos protestos e exigências para com os nossos dirigentes…

* Desgraçada sociedade e podre cultura que se entretêm a discutir um beijo que nunca devia ter existido em vez de analisar as situações em que se cultiva a banalização dos gestos de ternura e carinho quando deslocados do seu lugar e da sua correta expressão.

* Estamos num tempo ávido de escândalos e, quanto mais pareça atingir os adversários, melhor. Por isso, urge criar condições para haja uma educação para a responsabilidade, tanto pessoal como coletiva/comunitária. Precisamos de cuidar de que os cumprimentos entre as pessoas não sejam banalizados ou tornados de risco, como vivemos por ocasião do tempo de pandemia: aí conseguimos ser moderados e atentos. Não será avisado deixar cair a guarda, pois os vírus andam por cá.

* Em jeito de quase jocoso – foi com um beijo que Judas atraiçoou Jesus. Não haverá por aí muitos beijos que não passam de traição ou, pelo menos, de falta de respeito? Equilíbrio a quanto obrigas!



António Sílvio Couto

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