Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Esta é a juventude do Papa

 


Este foi o refrão com que os milhares de jovens das JMJ brindaram, múltiplas vezes, o Papa Francisco, por estes dias, em Lisboa. Seja qual for a tentativa de encetar um resumo do tempo que o Papa esteve em Portugal será algo redutor, pois, se um acontecimento ou homilia de Francisco respondeu a certas expetativas, outros marcaram de forma diferente e, acima de tudo, o que foi dito, vivido e celebrado, embora do foro íntimo, teve expressão comunitária inegável.

Fiquemos pelos números (quantitativos) das peugadas para todos: 300 mil na missa de abertura; cerca de meio milhão no acolhimento ao Papa e mais de 800 mil na via-sacra…acontecimentos ocorridos no Parque Eduardo VII, batizado de ‘colina do encontro’; um milhão de pessoas, na vigília; mais de um milhão e meio, na missa final…os dois no parque Tejo, designado de ‘campo da graça’… Sem esquecer os que passaram pelas confissões – ‘cidade da alegria’; ou ainda vivências com menos gente, mas exprimindo a afeição e escuta ao Papa Francisco, como no centro cultural de Belém (autoridades e sociedade civil), na universidade católica ou no mosteiro dos Jerónimos (bispos, padres, religiosos e leigos dos movimentos)… e nos contactos mais singulares e pessoais.

1. Igreja para todos – sem portas. Estas duas ideias perpassaram pelas comunicações do Papa em dias e espaços diferentes, mas com marcas similares: desafios à Igreja em geral e à que vive e caminha em Portugal particularmente. Na deslocação breve e simbólica a Fátima, o Papa serviu-se da falta de portas da ‘capelinha das aparições’ para promover uma Igreja em igual atitude, de portas sempre abertas. Desculpando a observação: os rostos dos participantes nas JMJ e os que estavam no santuário mariano deixam muito a entender qual a Igreja que temos culturalmente. Já reparamos nisso?

2. Igreja jovem ou com juventude acumulada (mais velhos)? Basicamente os participantes – nacionais e estrangeiros – tinham de ter meios económicos para virem cá. Aos custos de inscrição (estadia, refeições, transportes e seguros), numa base de quase quatrocentos euros por pessoa, teremos de acrescentar as viagens, muitas delas em voos aéreos...por isso, a imensa multidão dos que participaram nas JMJ é uma espécie de favorecidos no contexto mundial e nacional. E nem mesmo a proposta do Papa de trazer para a luz do dia situações humanas e culturais de jovens quase-excluídos consegue disfarçar a situação excecional dos milhares que vieram a Lisboa para estas JMJ…

3. ‘Lisboa – cidade dos sonhos’ Este poderá ser um novo e elegante slogan publicitário sobre a capital do nosso país. De facto, nos primeiros dias de agosto de 2023, vimos uma cidade transformada em grande e simultânea vivência de alegria dos jovens, mas também um espaço de confraternização cultural. Por momentos as hostilidades político-partidárias – com as críticas aos custos e outros intentos subentendidos – foram esquecidas, silenciadas ou até ultrapassadas, tendo em conta a mensagem de Francisco. Muitos dos (pretensos) descrentes (ditos ateus ou simulados agnósticos) saíram de cena ou entraram na onda… enquanto alguns dirigentes hibernaram sob o sol tórrido da capital.

4. Do voluntariado ao compromisso. Mais de vinte e cinco mil de t-shirt amarela – cor da bandeira papal – colocaram de pé um evento único e irrepetível: na sombra ou mais à vista, nas ruas de Lisboa ou nos espaços de acolhimento, deram corpo a um projeto que engrandece o país e faz revigorar a fé católica. Chegou o tempo do ‘depois’: queira Deus que se aprofunde o que, por agora, foi semeado com tanto esforço, dedicação e testemunho.

5. Os símbolos pelo rio acima…Na proposta do ‘stella maris de Moita’ e da marinha do Tejo, cerca de uma dezena de barcos típicos da zona ribeirinha (norte e sul) deram colorido marítimo às JMJ. Foram horas e reuniões com os responsáveis pela ‘safety and security’ para que tudo acontecesse com dignidade e bom ambiente. Para além da festa houve fé e responsabilidade. Vinte e cinco anos depois o rio teve visibilidade!



António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário