Foi parangona de jornal de razoável tiragem:
‘portugueses querem a Igreja afastada de questões políticas’… Embora o tema
seja, no texto do artigo, secundado, ele pode servir de chamariz para quem
possa ver os títulos e por eles se deixar cativar.
Eis a citação do referido texto: «a interferência da
Igreja em assuntos mundanos desagrada. Para metade das pessoas, deve limitar-se
a temas religiosos e, para um décimo, pode pronunciar-se sobre tudo, menos
política».
Dada a importância do tema – sobretudo pela
proximidade às eleições legislativas de outubro – talvez isto possa parecer uma
ameaça aos membros da Igreja – é abusivo dizer no sentido lato, pois hoje há
muitas Igrejas em serviço e com propostas – tanto do clero como dos leigos ou
ainda quem viva integrado nalgum dos partidos concorrentes.
Fazendo parte de uma sondagem – os portugueses e a
religião – as considerações de natureza opinativa deixam um tanto a desejar,
mas pelo preconceito do que pela leitura dos diferentes itens em análise. Com
efeito, meter no mesmo âmbito a frequência dos sacramentos com a ritualidade, o
leque de praticantes com as instruções morais à mistura com leituras exógenas
da frequência dos santuários… pode servir para denegrir a vivência religiosa,
mas não afiança da qualidade anticristã com que muita da comunicação social
olha, observa e rotula a Igreja, digamos, católica, sem pretensão de defesa nem
de favorecimento social.
= Dos dados apresentados decorrentes da tal sondagem
podemos respigar: 17% dos portugueses vão à missa todas as semanas; 36% vão,
pelo menos, uma vez por mês; os sacramentos – de conotação mais social:
batismo, casamento e funeral – fazem com que 34% dos portugueses vão à igreja
com regularidade…
Diante destes números de prática religiosa (87%) será
ainda mais inquietante aquela observação supra citada de que não querem que a
Igreja tenha intervenção na vida política. Será porque os milhões de
praticantes podem influenciar os resultados, quando certos valores vão
fascinando os mais incautos? Será porque do anódino de tantos se poderá
continuar a explorar a ignorância do resto? Será porque os votos dos devotos
podem sacudir a consciência de mistura, de conveniência e de confusão entre a
vida e a fé? Porque querem condicionar a intervenção da Igreja na vida
política, será por medo ou por incapacidade de continuar a manipulação de
alguma comunicação social e duns tantos interesses ideológicos subjacentes?
= A intervenção da Igreja católica na política –
enquanto designação da vida em público sem a conotação redutiva de natureza partidária
– é decorrente do compromisso dos cristãos na sociedade. Restringir,
condicionar ou obstaculizar essa intervenção é coartar uma das facetas de identidade
da missão dos cristãos no mundo. A ‘polis’ (cidade) é a organização da vida de
todos, tendo em conta os outros e conjugando-se todos no bem comum.
O Catecismo da Igreja católica diz-nos:
«A Igreja, que em razão de seu múnus e de sua
competência, não se confunde de modo algum com a comunidade política, é ao
mesmo tempo sinal e salvaguarda do caráter transcendente da pessoa humana. ‘A
Igreja respeita e promove a liberdade política e a responsabilidade dos
cidadãos’» - n.º 2245.
«Faz parte da missão da Igreja “emitir juízo moral também sobre as realidades que dizem respeito à ordem política, quando o exijam os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas, empregando todos os recursos - e somente estes - que estão de acordo com o Evangelho e com o bem de todos, conforme a diversidade dos tempos e das situações» - n.º 2246.
«Faz parte da missão da Igreja “emitir juízo moral também sobre as realidades que dizem respeito à ordem política, quando o exijam os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas, empregando todos os recursos - e somente estes - que estão de acordo com o Evangelho e com o bem de todos, conforme a diversidade dos tempos e das situações» - n.º 2246.
É diante do Evangelho que temos de aquilatar da
nossa intervenção política, seja qual for a vocação ou a missão de um cristão.
O resto poderá ser considerado deserção, medo ou cobardia…agora e no futuro.
Não queiram amordaçar a mensagem do Evangelho. A mim
não atemorizam, pois tenho tanto direito de me pronunciar sobre um assunto
qualquer, quanto um outro cidadão, pois tenho os impostos em dia e todos os
outros encargos de cidadania, votando sempre, de forma consciente, clara e
pensando nos outros. A política –já dizia Aristóteles – é a mais sublime das
artes…
António Sílvio Couto
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