Na
mensagem para a quaresma deste ano, o Papa Francisco resume, duma forma clara,
sucinta e incisiva como devemos viver, de forma renovada, as três dimensões
centrais deste tempo favorável de graça pessoal, familiar e eclesial:
«A Quaresma é sinal sacramental da conversão.
Ela chama os cristãos a encarnarem, de forma mais intensa e concreta, o
mistério pascal na sua vida pessoal, familiar e social, particularmente através
do jejum, da oração e da esmola.
Jejuar, isto é, aprender a modificar a nossa atitude para com os outros e as criaturas: passar da tentação de «devorar» tudo para satisfazer a nossa voracidade, à capacidade de sofrer por amor, que pode preencher o vazio do nosso coração. Orar, para saber renunciar à idolatria e à autossuficiência do nosso eu, e nos declararmos necessitados do Senhor e da sua misericórdia. Dar esmola, para sair da insensatez de viver e acumular tudo para nós mesmos, com a ilusão de assegurarmos um futuro que não nos pertence. E, assim, reencontrar a alegria do projeto que Deus colocou na criação e no nosso coração: o projeto de amá-Lo a Ele, aos nossos irmãos e ao mundo inteiro, encontrando neste amor a verdadeira felicidade».
Jejuar, isto é, aprender a modificar a nossa atitude para com os outros e as criaturas: passar da tentação de «devorar» tudo para satisfazer a nossa voracidade, à capacidade de sofrer por amor, que pode preencher o vazio do nosso coração. Orar, para saber renunciar à idolatria e à autossuficiência do nosso eu, e nos declararmos necessitados do Senhor e da sua misericórdia. Dar esmola, para sair da insensatez de viver e acumular tudo para nós mesmos, com a ilusão de assegurarmos um futuro que não nos pertence. E, assim, reencontrar a alegria do projeto que Deus colocou na criação e no nosso coração: o projeto de amá-Lo a Ele, aos nossos irmãos e ao mundo inteiro, encontrando neste amor a verdadeira felicidade».
Embora
cada um de nós possa deixar-se dinamizar por aspetos mais ou menos pessoais ou
individuais, encontramos nas linhas da mensagem papal ideias-força que devem
colocar-nos numa vivência referencial com os desafios de toda a Igreja e na
Igreja toda.
De
facto, não deixa de se revelador desse centralismo narcisista reinante que,
hoje, o jejum seja um tanto visto
como algo condicionador da nossa liberdade para fazer o que nos apetece, mas,
por outro lado, se cumpram programas de emagrecimento, desde que isso possa vir
a repercutir-se na boa figura, na pretensa imagem e na razoável impressão que
se dá através da dimensão do corpo. Á subtileza da abundância como que
contrapomos a ditadura da esbelteza, como se esta fosse uma nova dose de viver
das aparências e de possamos contentar-nos com o que outros dizem de nós nas
redes sociais.
Pelo
contrário, o jejum é (ou deve ser) uma aprendizagem sobre o domínio a que
devemos submeter a nossa condição de comunhão com quem não tem o suficiente
para comer e, em sintonia com esses, tentar viver a minha privação de alimento
– ou de algo que nos possa fazer viver dependente – para sentir por algum tempo
o que para outros é condição permanente…de privação não-escolhida, embora
aceite.
Na oração encontramos o alimento da nossa
vida cristã, seja qual for o compromisso vocacional ou de consciência em Igreja.
Com efeito, enraizada na Palavra de Deus, a oração é uma necessidade e não uma
obrigação religiosa e nem os ritos tradicionais – como a via-sacra, as
procissões penitenciais ou dos Passos – podem fazer-nos condicionamento, mas
antes poderão ser sinais para acertarmos a nossa vivência com a imensa multidão
de outros que se exercitam em tempo quaresmal como nós. Se há tempo espiritual
que deve viver ritmado pela misericórdia é a quaresma, tanto a divina como a
humana. Na sua mensagem o Papa traçava as etapas desta vivência:
arrependimento-conversão-perdão… recebido e dado.
Neste
ano litúrgico do ‘ciclo C’, tendo por base o evangelho segundo São Lucas,
talvez possa ser útil acertarmos um programa de leitura diária da Palavra de
Deus com base neste evangelista.
Por
último, encontramos a vertente da esmola,
que, no contexto quaresmal, se reveste de uma outra tonalidade: a renúncia
quaresmal. Se devemos estar sempre atentos às necessidades dos outros e com
eles partilharmos não meramente o que nos sobra, mas o que lhes faz falta,
tanto mais na Quaresma devemos atender aos desafios que a nossa diocese nos
apresenta para sabermos partilhar com quem possa precisar da nossa ajuda
organizada, simples, e por vezes, anónima, mas comunitária.
Talvez
não seja exagerado seguirmos o que, na sua sábia condução, a Igreja nos propõe:
um dia de salário para a nossa renúncia quaresmal. À semelhança do espírito que
enforma a vivência do jejum, assim através da renúncia quaresmal devemos
facultar aos outros aquilo que nos foi concedido como dom ou bênção nas coisas
materiais: a experiência do desapego dos ‘nossos’ bens poderá atenuar as
necessidades do essencial para outros, que podemos nem conhecer.
Jejum,
oração e esmola: três pilares da caminhada da Quaresma. Que sejamos assim
dinamizados, este ano.
António Sílvio Couto
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