Hoje, mais do que nunca,
temos de exercer ‘o poder da palavra contra a palavra do poder’, disse Adriano
Moreira, que intervinha numa das conferências do Simpósio do clero de Portugal,
a decorrer, em Fátima, de 31 de agosto a 3 de setembro, subordinado ao tema: «O
padre, irmão e pastor».
Para aquele professor
universitário, ‘nós vivemos numa época marcada pela falta de autenticidade’,
pois, muitas vezes, dizem-se umas coisas e fazem-se outras… política e
socialmente. Referindo-se ainda à condição do projeto europeu, Adriano Moreira,
salientou que falta ‘uma comunhão de afetos’ e que tem vindo a aumentar um
certo ‘desamor europeu’, seja por ausência de um conceito estratégico da própria
Europa, seja porque ‘consentimos que o credo dos valores tenha sido substituído
pelo credo do mercado’.
= Embora estas declarações e o evento do
oitavo simpósio tenha sido destinado ao clero – cerca quatrocentos de todas
dioceses estiveram presentes – nele se fez uma reflexão sobre a dimensão do
cristianismo na cultura e da intervenção dos padres na vida da Igreja e da
sociedade portuguesa.
De facto, mais do que
lições – algumas delas ministradas por leigos nem sempre visto e entendidos na
esfera da Igreja católica – colhemos atitudes de proposta e alguns elementos de
reflexão para a arte de ser padre neste tempo… cinquenta anos depois do
Concílio Vaticano II e cinco séculos após o nascimento de Beato Frei Bartolomeu
dos Mártires.
- Aos padres
exige-se-lhes que saibam ler o seu tempo… tendo em conta uma atitude acolhedora
de todos.
- As pessoas escolhem
[quando vão a uma e não a outra celebração] os seus padres.
- A voz da Igreja surge,
muitas vezes, como a voz autorizada sobre a ciência.
- Nada na vida se fez por
receita ou por decreto… precisamos de olhar o mundo com otimismo.
- Necessidade de
conhecer-se a si mesmo…numa maturidade da afetividade.
- Capacidade de diálogo…
aberto, sensato, atento e interpelativo.
- Cuidar da fé adulta
daqueles a quem servimos.
- Atenção aos distantes (periferias)
psicológicos e materiais.
- Mais do que recriminar,
saber consolar.
= Vivemos num tempo e num
mundo que apresenta novas e inauditas possibilidades, seja no âmbito cultural,
seja nas condições sociais…onde, por vezes, a figura e a pessoa do padre está
em contínuo escrutínio pelos ‘seus fregueses’ e pelos que observam a Igreja –
sobretudo na sua expressão católica – para dela tirarem lições… embora, na numa
parte significativa dos problemas, possa ser (mais) em jeito de acusação.
Pede-se compreensão e até misericórdia à Igreja e para com ela e os seus
ministros colocam-se exigências (quase) insuperáveis.
- Tentando unir alguns
aspetos supra citados poderemos considerar que a palavra que a Igreja usa para
a sua comunicação deve gerar autenticidade porque alimentada na Palavra de
Deus, sem se deixar coartar pela palavra do poder, tomando a dimensão profética
e a ousadia à maneira de Jesus.
- Perante esta economia
que mata – nas palavras do Papa Francisco – porque não respeita os outros, urge
que tenhamos uma nova visão humanista/cristã, onde as relações entre os povos,
as nações e as suas memórias sejam respeitadoras da própria natureza e desta
como rosto da beleza de Deus, de que a pessoa humana usufrui sem se apropriar,
mas tão-somente como administrador fiel e prudente…da casa comum.
- Numa simbologia usada
no ministério sacerdotal – particularmente por ocasião da eucaristia –
poderemos considerar que, em cada missa, se dá uma entrega das dores e dos sofrimentos
de toda a humanidade, tendo em conta o ‘credo dos valores’, semeando, cuidando
e tratando de que a mesa da festa seja partilhada por todos, onde o padre é
irmão (pecador e santificado) e pastor (como ovelha do mesmo redil), à maneira
de Jesus e não imitando qualquer outro que possa ofuscar a imagem correta e
verdadeira… do Mestre e Senhor.
António Sílvio Couto
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