Depois de alguma confusão – seriam emigrantes ou prófugos
– agora a onda de pessoas que tem chegado ao sul da Europa são chamados de
refugiados…embora ainda se não saiba bem se são de origem política, de
procedência religiosa ou de índole económica…
O que se tem visto é algo de impressionante para a nossa
pacatez ocidental, pois vemos famílias inteiras a deslocarem-se de países onde
há dificuldades de vária ordem e estes que chegam são dos mais ‘sortudos’, pois
tiveram meios e ousadia para saírem, pondo a vida em risco…com milhares de
mortos no cemitério do Mar Mediterrâneo.
A sensibilidade aos refugiados tem vindo a crescer e
muitos países da Europa comunitária tem estado a disponibilizarem-se a receber
alguns destes refugiados. O Papa Francisco pediu que cada paróquia, cada
convento ou cada santuário católico recebam, ao menos, um refugiado.
Nos vários países têm-se desenvolvido iniciativas para
serem acolhidos alguns dos muitos refugiados. Verificamos ‘manifestações’
públicas a favor e contra a receção destes refugiados. Dos que são a favor não
ouvimos que estavam disponíveis para acolher alguém… Ainda neste domingo ao
expor publicamente a necessidade de termos capacidade acolhimento a quem possa
vir, escutava uma voz (anónima, porque não identifiquei logo) dizendo que nós
(portugueses) também temos muitos sem-abrigo…
= Estancar as causas mais do que resolver as consequências
Agora que estas pessoas vieram ao nosso encontro temos de
as ajudar o melhor possível – sem nunca perdermos de vista que a maior parte
veio em família – criando condições de alívio às suas agruras e contribuindo
para recomeçarem uma nova vida… nesta Europa pretensamente rica, mas muitíssimo
egoísta.
No entanto, o mais importante é ir à fonte dos problemas nos
países de onde vêm estes refugiados, pois a onda emigrante ainda não terá abrandado.
Tendo ainda em conta que estes que chegam foram os mais afortunados – isto é, conseguiram
meios económicos suficientes para comprarem a saída, sabe-se lá com quem e com que
meios de suporte – outros poderão chegar ao verem que os temos recebido mais ou
menos bem.
Enquanto não forem detetados os intermediários que fazem
negócio com a vida destas pessoas, estaremos ainda a criar mais problemas, pois
mais vidas correrão risco e novas ilusões surgirão no horizonte incerto…
Será na origem que devemos socorrer, atendendo às causas
pelas quais fogem. Será nos vários países que teremos de encontrar a solução
para que essas pessoas estejam em paz e segurança. Será resolvendo os problemas
que os fazem fugir da terra-natal que poderemos ser ajuda aos atuais e futuros
refugiados.
= Abrir o coração sem medo nem resistência
Nesta como noutras ocasiões se pode perceber que estamos ainda
muito fechados a quem nos procura, tentando encontrar solução para os seus
problemas. Vivemos encerrados no nosso mundo mais ou menos comodista, onde, em
vez de atendermos a quem precisa da nossa ajuda, adiamos a assunção da nossa
incapacidade de sermos fraternos e solidários…e nem as ideologias mais ou menos
igualitárias – simbolizadas nas autarquias e em certos poderes adstritos – se
têm mostrado abertas quanto baste à solidariedade para com estes refugiados…
De referir que, em Portugal, há uma plataforma comum para
encontrar solução para este problema. Esperamos que muitos cristãos – pessoal e
eclesialmente – possam dar o seu contributo fraterno e em tempo… Nada nos
poderá desculpar nem mesmo a (possível) diversidade religiosa, pois a pessoa
humana é mais digna do que qualquer outra forma de expressão cultural ou
étnica.
Com efeito, a fé sem obras está morta. Mostremos pelas
obras a nossa verdadeira e autêntica fé!
António Sílvio Couto
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