Quem vir
mais atentamente o comportamento de tantos dos nossos contemporâneos – agravado
com a atitude de muitos europeus para com os refugiados – poderá (ou deverá)
interrogar-se sobre o nosso modo de estar coletivo diante dos problemas: quase
tudo se resume a comer/beber, entretendo-se em festas (com maior ou menor
duração)… desde que cada um esteja bem, no seu conceito e conveniência.
Vivemos
nessa psicologia de fim-de-império romano do ocidente, no século IV, onde era dado
ao povo pão e jogos, não deixando tempo para pensar sobre outros assuntos,
desde que houvesse que comer e distrações suficientes.Tudo isto é ainda mais agravado quando estamos em maré de decidir sobre o nosso futuro coletivo e o que vemos é o criar duma alienação tal que votar não parece fazer parte das preocupações mais essenciais…embora, depois, se reclame das medidas dos governantes, sejam eles quem forem.
=
Perante estes factos e tantos episódios como que nos ficam algumas perguntas:
Onde está o sal do cristianismo, que revigorou aquele tempo de promiscuidade?
Vê-se alguma diferença entre os crentes e os materialistas? Que paixões se
pretende desencadear para que seja mais fácil vencer os incautos? Onde está a
dita ‘crise’ com tanta abundância de exageros? Haverá rigor – termo bem mais
acertado do que o de austeridade – na gestão do orçamento familiar ao ver certos
comportamentos públicos? Os gestores das coisas públicas (governo ou
autarquias) estarão interessados em dizer a verdade, enquanto o povo andar
entretido e distraído? Não deveria haver mais contenção nos gastos, quando
vemos tantos outros – refugiados e não só – a sofrer na própria pele as
tribulações da fuga aos problemas na terra-mãe? O estado de egoísmo em que
vivemos não nos trará consequências terríveis e aterradoras num futuro próximo?
O que estamos a semear não vai dar grande colheita…a curto e médio prazo!
= Parece
que estamos a viver num tempo em que o que conta é, essencialmente, a
satisfação dos interesses próprios, procurando cada qual desenrolar a sua vida
(ou será antes ‘vidinha’?) desde que não o impeçam de conseguir os seus
intentos. Temos vindo a perder, de forma progressiva, o olharmos para os
outros, tornando-os parte da nossa conduta em conjugação num interesse comum e de
bem comum. Com efeito, vamos caminhando, cada vez mais, de olhos postos no chão
– quais toupeiras à deriva sob a relva fresca – sem nos darmos conta das
condições em que tantos dos nossos concidadãos vivem.
= Há
hoje comportamentos de pessoas que já foram dadas aos outros, mas que agora se
limitam a gerir o horizonte limitado a esta etapa da vida em condição terrena,
isto é, conjugando o ‘carpe diem’ epicurista, desde que não se seja incomodado
pelos outros. Nem a religião cria mais problemas, até porque também este
fenómeno da crença entra na lista das satisfações ‘à la carte’. Quantas vezes
temos visto pessoas que estiveram – ao menos na aparência – empenhadas (é
diferente de comprometidas) em serviços de Igreja – não o só à expressão
católica – mas que se foram desligando até se fecharem no seu mundo – a família
costuma ser um dos alibis – quando podiam servir com mais disponibilidade e
consciência.
= Como
nos têm dito, repetidas vezes, os Papas mais recentes, a nossa religião está
centrada na pessoa humana, pois esta tem dignidade mais do que importante para
que vejamos os outros como nossos irmãos e não como adversários e tão poucos
concorrentes ou muito menos como inimigos. Por isso, os problemas dos outros
não são só seus, mas antes nos devemos incomodar, pois eles são parte da nossa
caminhada humana e de fé. Diante desta promoção acintosa de ‘pão e jogos’ com
que nos vamos entretendo, esta é uma das maiores ofensas à dignidade de tantos
cidadãos/irmãos que precisam da nossa ajuda e comunhão.
Está na
hora de acordarmos deste sono social em que nos vão embalando muitos dos
promotores de festas e festanças…Assim haja silêncio, concentração e
disponibilidade para nos revermos e mudarmos (ainda) de conduta!
António
Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário