Quem conhece,
minimamente, a localização da sede da FIFA – organismo mundial do futebol –
saberá que esta se encontra numa rua transversal ao caminho para o jardim
zoológico de Zurique, na Suíça. Será que isto explica, suficientemente, o
pandemónio que tem invadido esta estrutura do maior negócio dos nossos dias?
Neste especial mundo do
futebol temos vivido, nos dias mais recentes, ao ritmo alucinante de factos e de
episódios, de personagens e de figurões, de intrigas e de milhões (euros ou
dólares)...ativos e passivos, no palco ou nos bastidores, mas quase sempre
fazedores de estórias e fomentadores de questões subterrâneas ou ao menos pouco
claras e aceitáveis.
= Por umas tricas (ou serão trocos?) de milhões de euros um treinador tornou o seu apelido digno do nome do traidor mais mal-amado contra o mestre da configuração religiosa do cristianismo: saltou dum para o outro lado duma via de grande circulação na capital, abespinhando antigos torcedores e consolando novos adeptos...desconfiados. Num tempo tão ávido de exemplos, esta situação como que se tornou num sinal suficientemente abjeto do fenómeno do futebol...sem ainda sabermos os resultados desejados e/ou conseguidos.
= Mais do que desporto, o
futebol é, hoje, uma indústria, onde a exploração da pessoa humana como que se
torna aceitável, legal e até promovida, seja no âmbito dos praticantes, seja
tendo em conta os que gravitam em volta dos negócios e das contratações. Vive-se
uma espécie de escravatura legalizada, onde os ‘atores’ vendem a sua força de
trabalho e sua habilidade, dependendo do preço que lhe paguem...antes, durante
ou depois do espetáculo.
= Sendo um desporto de
massas, o futebol usa uma espécie de linguagem universal, fazendo de cada
praticante uma espécie de cidadão do mundo e tornando os seus melhores
executantes quase heróis nacionais – por estes dias um deles vai ser
entronizado no panteão nacional ao lado de outras figuras da nossa história e
cultura – e venerados pelos mais novos e vulneráveis da sociedade...
= Criador de mitos e de
lendas, o futebol desenrola a sua atividade nos mais díspares espaços e
situações, fazendo-se eco da multiplicidade humana, onde o formato da bola
redonda se faz mistério de disputa e de comunhão. Dê-se uma bola a um grupo de
crianças e, rapidamente, se criarão sinergias de jogo e de cumplicidade... Este
seria o lado lúdico deste desporto, mas há tantos outros que são funestos, que
estes últimos correrão o risco de obnubilar aqueles...desde a exploração de
mão-de-obra na confeção de equipamentos e de estruturas até ao mais básico da
dignidade da pessoa humana...onde o pretenso desporto ofusca paz e compreensão.
= Na criação do fenómeno
desportivo – e do futebol em particular – há realidades que nem sempre
compreendemos, tanto na forma como no conteúdo. Afetivamente o futebol é
gerador de paixões, desde as mais simples e inteligíveis até às mais complexas
e ardilosas. Quantos tentáculos se podem estender ao falarmos do futebol.
Quantos interesses e provocações podemos encontrar nas redes de vivência do
futebol... Embora se falem dumas tantas que se veem, muitas outras são mais
subtis e menos bem percetíveis. Por que será que se diz que dificilmente alguém
muda de clube? Não é só porque marca o nosso inconsciente, mas também porque, entrando,
no foro do emocional, se estratifica por razões sem razão...
= Ocupando tanto tempo na
comunicação social – jogos e discussões, jogadas e intrigas, papeis e
palhaçadas – o futebol consegue ser dos assuntos mais tratados em maré de
crise, sobrepondo-se mesmo aos temas da política...como vimos por estes dias!
Até quando viveremos nesta distração coletiva e manipuladora?
António Sílvio Couto
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