Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



segunda-feira, 8 de junho de 2015

Loisas do futebolês


Quem conhece, minimamente, a localização da sede da FIFA – organismo mundial do futebol – saberá que esta se encontra numa rua transversal ao caminho para o jardim zoológico de Zurique, na Suíça. Será que isto explica, suficientemente, o pandemónio que tem invadido esta estrutura do maior negócio dos nossos dias?

Neste especial mundo do futebol temos vivido, nos dias mais recentes, ao ritmo alucinante de factos e de episódios, de personagens e de figurões, de intrigas e de milhões (euros ou dólares)...ativos e passivos, no palco ou nos bastidores, mas quase sempre fazedores de estórias e fomentadores de questões subterrâneas ou ao menos pouco claras e aceitáveis.

= Por umas tricas (ou serão trocos?) de milhões de euros um treinador tornou o seu apelido digno do nome do traidor mais mal-amado contra o mestre da configuração religiosa do cristianismo: saltou dum para o outro lado duma via de grande circulação na capital, abespinhando antigos torcedores e consolando novos adeptos...desconfiados. Num tempo tão ávido de exemplos, esta situação como que se tornou num sinal suficientemente abjeto do fenómeno do futebol...sem ainda sabermos os resultados desejados e/ou conseguidos.

= Mais do que desporto, o futebol é, hoje, uma indústria, onde a exploração da pessoa humana como que se torna aceitável, legal e até promovida, seja no âmbito dos praticantes, seja tendo em conta os que gravitam em volta dos negócios e das contratações. Vive-se uma espécie de escravatura legalizada, onde os ‘atores’ vendem a sua força de trabalho e sua habilidade, dependendo do preço que lhe paguem...antes, durante ou depois do espetáculo.

= Sendo um desporto de massas, o futebol usa uma espécie de linguagem universal, fazendo de cada praticante uma espécie de cidadão do mundo e tornando os seus melhores executantes quase heróis nacionais – por estes dias um deles vai ser entronizado no panteão nacional ao lado de outras figuras da nossa história e cultura – e venerados pelos mais novos e vulneráveis da sociedade...

= Criador de mitos e de lendas, o futebol desenrola a sua atividade nos mais díspares espaços e situações, fazendo-se eco da multiplicidade humana, onde o formato da bola redonda se faz mistério de disputa e de comunhão. Dê-se uma bola a um grupo de crianças e, rapidamente, se criarão sinergias de jogo e de cumplicidade... Este seria o lado lúdico deste desporto, mas há tantos outros que são funestos, que estes últimos correrão o risco de obnubilar aqueles...desde a exploração de mão-de-obra na confeção de equipamentos e de estruturas até ao mais básico da dignidade da pessoa humana...onde o pretenso desporto ofusca paz e compreensão.

= Na criação do fenómeno desportivo – e do futebol em particular – há realidades que nem sempre compreendemos, tanto na forma como no conteúdo. Afetivamente o futebol é gerador de paixões, desde as mais simples e inteligíveis até às mais complexas e ardilosas. Quantos tentáculos se podem estender ao falarmos do futebol. Quantos interesses e provocações podemos encontrar nas redes de vivência do futebol... Embora se falem dumas tantas que se veem, muitas outras são mais subtis e menos bem percetíveis. Por que será que se diz que dificilmente alguém muda de clube? Não é só porque marca o nosso inconsciente, mas também porque, entrando, no foro do emocional, se estratifica por razões sem razão...    

= Ocupando tanto tempo na comunicação social – jogos e discussões, jogadas e intrigas, papeis e palhaçadas – o futebol consegue ser dos assuntos mais tratados em maré de crise, sobrepondo-se mesmo aos temas da política...como vimos por estes dias! Até quando viveremos nesta distração coletiva e manipuladora?  

 

António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário