Recordo
uma conversa, em tempos, com uma senhora – mãe de cinco filhos, mas solteira no
bilhete de identidade – bem como o pai desses filhos...também ele solteiro na
identificação. ‘Então por que não se casam?... Não, eles depois de casados
mudam!’
Não
entendi as razões, mas aceitei as explicações.
Mais
tarde, numa outra conversa, doutro teor e alcance, ouvi a mesma expressão: ‘as
pessoas mudam’...numa tentativa de deixar que, passando o tempo, as coisas se
possam esclarecer melhor. Novamente fiquei sem atingir o que isso queria dizer...verdadeiramente!
= Ora,
nos tempos mais recentes, parece que comecei a vislumbrar algum entendimento de
tal expressão. Porque o assunto é um tanto melindroso, seguirei a preferência
pelas perguntas, que podem e devem ser respondidas...tanto quanto formos
capazes e a inteligência humana nos permitir.
As
pessoas mudam ou acomodam-se? As pessoas mudam por maturidade ou por recurso?
As pessoas mudam em razão de motivos ou segundo tentativas de adaptação? As
pessoas mudam de opção ou por mera estratégia? As pessoas mudam a partir de
dentro ou adaptam-se pelo exterior? As pessoas mudam, revelando o que são, ou
tentam iludirem-se, enganando os outros? As pessoas mudam em razão do ser ou em
virtude do ter? As pessoas reconhecem a mudança (boa ou má, sincera ou
simulada, verdadeira ou confusa) ou adiam a assunção dos seus erros e más
opções?
Mesmo
que de forma um tanto ousada, questiono: reconheço que tenho mudado? Será isso
algo de bom e de amadurecimento? Como reajo às (reais, virtuais ou fictícias)
mudanças dos outros? Aceito essas mudanças ou julgo as pessoas – sobretudo as
que penso conhecer – de forma preconceituosa?
= Quando
a mudança manifesta crescimento humano, psicológico e (até) espiritual,
deveremos percebê-lo numa maior humildade para com os outros e segundo uma
maior exigência para consigo mesmo... Parece que na maior parte das situações,
a mudança se manifesta no contrário: exigência para com os outros e
complacência para consigo mesmo. Se estivermos neste plano, poderemos
considerar que é uma mudança pouco abonatória e talvez sem a mínima
consistência...
= Outro
fator revelador duma mudança séria é a da correção dos próprios erros, num
processo de conversão – dizemo-lo em contexto cristão – que atende aos seus ‘pecados’
e, porque sabe quanto lhe custa viver essa conversão, torna-se mais
compreensivo para com as falhas dos outros...esperando o tempo do
reconhecimento do mal feito e da necessária vivência da mudança! Será sempre
uma questão de saber onde está o centro: em mim mesmo ou nos outros. Se estes
me ajudam a crescer numa mudança aos valores e critérios do Evangelho, então,
posso aceitar que me ajudem a corrigir-me sem nada temer ou rejeitar.
= Quase
nada terá sentido, se pretendermos ser intocáveis e não corrigíveis. Com
efeito, o tentador é que nos torna orgulhosos, justificativos e sem necessidade
de correção. Será na medida em que nos deixarmos ajudar a conhecer mais nas
falhas e nos erros do que elogiados nas façanhas e sucessos que perceberemos
que a mudança é algo de bom e de saudável...mesmo que à custa de sacrifício e do
domínio de si mesmo.
= Sem
pretendermos coisificar este tema da mudança, podemos recorrer à figura do
ouriço-cacheiro, que, em ambiente normal, anda vendo-se-lhe o focinho e,
quando, menos bem acolhido, se enrola na sua carapaça e volta os picos para
fora... Será uma questão de sobrevivência ou de adaptação? Não andaremos muito
longe da verdade, se virmos no ouriço-cacheiro, um sinal da nossa conduta para
a mudança na dimensão pessoal, familiar, social e até mesmo eclesial!
António
Sílvio Couto
As pessoas mudam porque PRECISAM de ajuda!
ResponderEliminarMesmo sem saberem bem do que pretendem de uma forma consciente!
As pessoas mudam porque muitas vezes são obrigadas a isso!!!
ResponderEliminarTambém isso, mas se a pessoa tem ressentimentos ou de alguma coisas mal resolvidas pode mudar para o pior? E que pode faltar comunicaçao tipo empatia para ajudar na mudança da pessoa?
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