Por
estes dias vemos muitas e variadas ‘festas de finalistas’...dos mais diversos
graus de ensino e de outras instâncias do saber e da incidência social, desde a
creche até à universidade, passando pelos diferentes graus de ensino – básico,
primário, secundário e complementar – há ‘festas de finalistas’ para todos os
jeitos, gostos e feitios.
Mas que
significa ser ‘finalista’? Não será uma ilusão ser, hoje, finalista e, amanhã,
ter de recomeçar do (quase) zero? Será (muito) pedagógico fazer-de-conta que se
subiu, mas logo se irá descer? As festas de finalistas a quem interessa: aos
visados ou aos familiares, à mistura com outros interesses comerciais?
=
Recordo-me de ter ouvido, em tempos, dizer a seguinte observação: ter uma licenciatura
(mesmo antes de Bolonha) só é uma autorização para começar a estudar!... No
entanto, o esforço para continuar a estudar não passa pela obtenção do tal canudo
(símbolo físico daquilo que se recebe como confirmação do grau obtido), mas
antes terá de estar na atitude de cada pessoa, que deverá ser sempre um
estudante mais do que um mero aluno...completo, feito e sem precisar de evoluir!
= Se
recorrermos à origem etimológica de ‘aluno’ (alumnus) veremos que é alguém que é alimentado, que recebe alimento
dado por outrem, dada a sua imaturidade é alimentado na boca e exige muitos
cuidados... Assim o aluno aprende com outros numa aprendizagem coletiva
ministrada por vários outros que cuidam dele. Por seu turno, estudante é
considerado aquele que estuda – e pode fazê-lo até a título pessoal – em ordem
a adquirir conhecimentos e atribuições que o valorizem nalguma das áreas em que
procura aprender...antes, durante ou depois do tempo em que presta provas...
= Se a vivência em ser ‘finalista’ – seja qual for a instância percorrida – lança sobre o passado recente um certo ar de vitória, pois foram conseguidos os objetivos mínimos para prosseguir para o degrau seguinte, tentar valorizar as diversas etapas como se valessem o mesmo poderá não ser muito honesto nem tão pouco verdadeiro... Sobretudo se tivermos em conta um certo afã em querer apresentar resultados, ao nível europeu, para acrescentar créditos na escolarização das pessoas, poderemos estar a enganar-nos e a iludir a verdade dos factos. Diante disto, certas festas de ‘finalistas’ podem ser uma atoarda à ignorância, mesmo que facultando a passagem administrada, certos números e resultados...tenham o rótulo de ‘novas oportunidades’, de cursos profissionais ou mesmo de ‘educação de adultos’, etc... A ver pelos efeitos – onde a capacidade de pensar por si mesmo pode ser um dos parâmetros – não podemos credibilizar em excesso as pretensões...pois, nivelados pelos pés não saberemos levantar a cabeça...sem a canga da ideologia!
= Nos
múltiplos campos da nossa vida – social, cultural, económica, política ou
religiosa – temos de estar permanentemente em estado de aprendizagem, sem nos
contentarmos com o já aprendido – tenha ele o grau de reconhecimento que tiver
– mas antes podemos e devemos estar em contínua valorização e em abertura aos
outros campos de intervenção humana e profissional. Há áreas do saber e da
instrução em que temos de estar em humildade, em consonância com as exigências
das nossas atribuições de ‘saber mais para servir melhor’. Nos tempos mais
recentes – desde fevereiro até ao início de junho – tive a salutar
possibilidade de participar num curso universitário (como ouvinte, embora
pagando propinas) sobre a ‘teologia e a espiritualidade da família’. Cerca de
quatro dezenas de ‘estudantes’ escutaram – uma vez por semana e durante quase
três horas, em jeito de módulos – lições duma dezena e meia de professores da
UCP... Foi um tempo de aprendizagem onde muitos dos ouvintes se foram valorizar
para servir a pastoral da família, agora que estamos a viver um tempo eclesial
de desafios e de propostas...
= Se
atendermos à linguagem dos ‘finalistas’ teremos muito de aprender e de nada
estar adquirido, mas a tentarmos crescer em sabedoria pela humildade e pela
valorização pessoal e comunitária...sempre mais!
António
Sílvio Couto
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