Por agora sinto a ecoar
na minha mente essa canção: há momentos em que as palavras não alcançam
aquilo que sinto...
Com este refrão a bailar
como que rememoro tantos e tão variados aspetos que escapam à subtileza
redutiva das palavras, sobretudo se ditas e/ou escritas... Nem mesmo as
recordações das pessoas a quem estimamos ou de quem cuidamos atenuam a
imprecisão de tudo e de quanto mais...se vivido na dor e no sofrimento
psicológico ou moral.
= Quem não teve já na sua
vida – particularmente na dimensão da idade em adulto – de refazer a direção do
seu viver, respeitando as raízes mais profundas da sua opção fundamental?
Quem não se viu
confrontado com episódios – mais ou menos significativos e envolventes – que fizeram
mudar o rumo, sobretudo reforçando a opção mais essencial da vida?
Quem não encontrou, de
forma simples e autêntica, pessoas que ajudaram a aprofundar, por uma maior
radicalidade, o que andava à deriva nas preocupações do urgente e atrasando a
vivência do essencial?
= Não adianta criticar o
que está mal, se não formos capazes de mudarmos, a começar por nós mesmos. De
facto, há muita gente que sabe fazer o diagnóstico daquilo que condena, mas com
alguma dificuldade se compromete para que isso que denunciou se melhore a curto
e médio prazo. Como se costuma dizer: somos bons a criticar e maus a cumprir...
= No elenco das
prioridades de tantas pessoas está mais a exigência dos direitos –
conquistados, assumidos ou adquiridos – do que a assunção dos deveres simples,
verdadeiros e comprometidos. Na medida em que vamos aprendendo a viver com as
nossas derrotas assim podemos viver novas conquistas, pois muitas destas são a
superação daquelas, seja qual for a instância de vivência e de compreensão...
= Quando vemos de tantas
e tão díspares formas de contactar e de viver com pessoas que nem sempre são
lógicas entre aquilo que dizem e o que fazem, com aquilo que dizem crer e com o
que tentam celebrar, com as ideias e com a prática...como que temos de repensar
sobre nós mesmos e de inquirir se vivemos daquele modo que julgamos, se não
somos capazes de nos corrigirmos, se temos a suficiente inteligência de nos
revermos com salutar ousadia e necessária coerência...
= Num tempo tão
superficial como é aquele em que vivemos – onde o revestimento do embrulho vale
mais do que o conteúdo – será preciso ser muito honesto mental e
espiritualmente para que sejamos pessoas que vivem numa unidade de vida
assumida e autêntica, aceitando-se como se é e deixando corrigir os seus erros
e lacunas, sem se fascinar pela execução mais ou menos bem conseguida das suas
qualidades, dons e virtudes... Estas vertentes são tanto mais válidas quanto
aquelas nos ajudam a sermos pessoas de corpo inteiro e de alma perdoada, curada
e lavada em Deus e por Deus.
= Bastará atender, neste
mês dos ‘santos populares’ (Santo António, São João e São Pedro), às vertentes
com que tanta gente se diverte à custa daqueles que são nossos modelos de
caminhada de fé em Igreja para percebermos que muitos usufruem das banalidades
dos ‘santos populares’ e ignoram os desafios que eles colocam à nossa vida
cristã, cívica e social... Nem tudo vale, mas quase tudo deve levar-nos a
sermos homens e mulheres deste tempo com os pés bem assentes na terra e o olhar
levantado em razão do horizonte onde aqueles ‘santos populares’ já estão
glorificados e nos atraem a viver a nossa fé pela esperança na caridade,
traduzida em gestos e sinais de vida...
Palavras só as essenciais,
desde que sejam tão-somente para explicar o que vivemos!
António Sílvio Couto
texto muito bonito e profundo. é bom reconhecê-lo.
ResponderEliminarO padre silvio quando diz # Não adianta criticar o que está mal, se não formos capazes de mudarmos, a começar por nós mesmos #
ResponderEliminartem toda a razão. há gente que se diz muito cristã mas na realidade não consegue vivênciar esta realidade.
Chega-se a um ponto de que através das críticas possa surgir algum efeito positivo em cada um de nós.. É preciso estar dentro do contexto da fé e do evangelho para compreender que está errado através das críticas.
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