Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



domingo, 15 de julho de 2012

Esperando sinais de não-austeridade

Massacrados com medidas de austeridade – resultado do destempero de governos anteriores e inseridos numa mentalidade social gastadora – parece que não vemos chegar a hora das boas notícias...
Encurralados por díspares atitudes de empregadores, de sindicalistas, de trabalhadores e mesmo de políticos, parece que não vivemos no mesmo país ou, pelo menos, não estamos ao mesmo ritmo psicológico e até cultural...

Baralhados pelas propostas de solução, onde cada qual se reveste dos objetivos que mais lhe interessa, nem que seja confundindo as turbas para tirar proveito do mal-estar...

Colocados mais ao sabor do imediato, numa sensação de que o momento presente pouco parece ter com as boas ou as más opções do passado, parecendo pode inferir-se que o futuro poderá ser melhor por arte e engenho de algum demiurgo....

Estão, no entanto, a ser dados indícios (reais ou virtuais) para a inversão do discurso da austeridade, criando, por outro lado, outros clichés mais ou menos populistas, como empreendedorismo, recuperação económica, mudança de atitude, sair do desemprego, mobilizar as forças positivas, semear esperanças... Onde e quando?

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Estando a viver uma época de (dita) crise, que tem tanto de cultural e moral como de económica ou social, onde muitas das certezas foram colocadas em causa pelos efeitos nas faixas mais vulneráveis – é preciso dizer, de fato,  ‘pobres’! – da população pelo desemprego, nas tensões sociais, na precariedade na saúde e na segurança... importa mais do que fazer um diagnóstico exaustivo dos sinais negativos que, por seu turno, possamos encontrar desafios ousados e sensatos, sérios e simples, serenos e superiormente capazes de envolver o maior número de cidadãos conscientes e mesmo de cristãos comprometidos.

- Sistema de poupança – mais que tentar impor um certo regime de poupança, aferindo as necessidades de consumir às possibilidades ponderadas do ter, importa que saibamos aprender a viver com o essencial e não só  maledizendo quem nos possa ter obrigado a reduzir ao mínimo aquilo que deveria ter sido opção de vida.

- Trabalho e não só emprego – após um tempo de faz-de-conta que ganha dinheiro sem trabalhar, temos de aprender a agradecer o dom do trabalho, que é muito mais do que o ganha-pão (pessoal ou da família) para ser, verdadeiramente, um projeto de realização humana, cultural e psicológica.

- Harmonia social e política – num certo clima de azedume, de crispação e mesmo de confronto, tanto nas relações humanas como sociais – vejam-se nas notícias as facetas de negatividade com que fomos bombardeados diariamente – é urgente favorecer sinais e fatos de boa convivência – que é muito mais do que paz podre! – tanto na vizinhança como nos vários estratos da sociedade... portuguesa e até europeia.

- Justiça pela caridade – citando esta frase de Santo Agostinho, gostaríamos de ir fazendo uma constante descoberta destes conceitos (humanos e, sobretudo, cristãos) para que se dê ao outro o que ele merece, por justiça, e se lhe faculte o que ele precisa, por caridade. De pouco basta fazer do Estado, o pai previdente, se não se acredita e se coloca na vida em Deus, o Pai providente. Um certo estatismo tem feito crescer muita preguiça, gerando uns certos paladinos do dito ‘Estado social’, que mais não é do que uma capa para nada fazer se não for na linha da ideologia... reinante, isto é, laica, republicana e agnóstica.



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Agora que já sabemos (quase) tudo sobre a austeridade, importa criar laços de fraternidade em que o bem comum seja mais do que uma treta de circunstância nem discurso heróico em colóquios sobre os 50 anos do Concílio Vaticano II. Temos de voltar a aprender a radicalidade do Evangelho ou tornar-nos-emos, cristamente falando, dinossaúrios de uma promessa com mais de vinte séculos... para realizar.

   

António Sílvio Couto

sábado, 7 de julho de 2012

Combatendo o síndrome da negatividade

Permanentemente somos inundados por notícias negativas. Poucos dão boas notícias. Aquelas sobrepujam-se a estas. Vivemos numa espécie de síndrome de negatividade. Com mais facilidade se acredita numa possível derrota do que numa ténue vitória.

A comunicação na sociedade – escrita, falada, visionada... pessoal ou intercomunicada – vai criando um ambiente onde é mais fácil acreditar na morte de alguém do que no seu sucesso. Quantas vezes nos deixámos influenciar mais por aquilo que dizem mal – real ou inventado – do que por aquilo que é dito de bem! Quantas vezes vemos regozijar com o mau desempenho do que com as vitórias... mesmo que pequenas! Quantas vezes nos alegramos mais com o mal dos outros do que com o bom-sucesso!

Dá a impressão que nos deixámos mais tomar pelo mau-olhado do que pelo bom-olhar. Vivemos numa espécie de cultura onde o negativo faz mais fulgor e consegue mais influência do que a dimensão positiva. As cores escuras ganham – mesmo em época de calor – às cores mais claras. Vamos criando um ambiente quase funesto... onde, com mais facilidade o espírito do mal tem campo de atuação propício para ganhar ascendente... sobre nós e à nossa volta.

  Breves apontamentos para irmos combatendo a negatividade

- Que os ‘nossos’ políticos falem (sempre e só) a verdade sobre a situação do país e que não tentem explorar o mau desempenho dos outros para (meramente) se promoverem com as derrotas alheias;

- Que os trabalhadores não desdenhem dos empregadores, mas que tentem construir empresas de sucesso, pois este só aparece antes de trabalho no dicionário;

- Que os mais novos apreciem o que os mais velhos lhes dão, cuidando de que possam usufruir com qualidade aquilo que lhes tem sido dado com sacrifício;

- Que os fazedores de opinião não tentem absolutizar leituras relativas, muitas delas ao sabor da ideologia, mas que façam os outros pensar pela sua cabeça, tendo também opinião favorável para com todos;

- Que os promotores do desporto – que é muito mais do que o futebol! – não tentem ganhar, ludibriando os adversários, mas antes sejam dignos das vitórias conseguidas com justiça e em verdade desportiva;

- Que os profissionais da saúde, dos transportes, da justiça, da educação, da segurança social... não olhem só aos seus interesses quando os defendem, através da greve ou de outra forma de luta, mas atendam a que a sua razão de ser está em função daqueles a quem servem e lhes pagam, indiretamente, os ordenados – nalguns casos chorudos – que auferem;

- Que as igrejas (tradicionais ou outras) e os seus ministros sejam dignos da confiança dos fiéis, que, através deles, procuram a aproximação ao divino, permitindo um amadurecimento espiritual e de esperança em Deus e para com os humanos;

- Que certos responsáveis – sobretudo purpurados e/ou afins – na Igreja católica, pelas posições que tomam, publicamente, mais não pareçam estar aproximados e/ou seduzidos por certos ritos do avental do que pela lógica do serviço humilde do Evangelho aos outros, fazendo a paz e não criando a dissensão social, eclesial e política.

Acreditando que o combate ao síndrome de negatividade começa, prioritarimente, no íntimo de cada um de nós, cremos que será abrindo-nos à confiança uns nos outros e de todos em Deus que conseguiremos fazer uma sociedade mais fraterna, mais solidária porque mais cristã, verdadeiramente!



António Sílvio Couto

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Apupos e assobios... contra o Presidente da República


Nas mais recentes deslocações do Presidente da República – Póvoa de Varzim, Guimarães, Castro d’Aire, etc. – verificaram-se algumas manifestações de descontentamento para com a figura do atual inquilino do Palácio de Belém. Os motivos de tais apupos e assobios andam – ao que (trans)parece – ligados mais a motivos sindicalistas e a contestações ao pagamento de portagens e coisas afins.

Valerá a pena recordar que os três símbolos na Nação Portuguesa – segundo a constituição: artigo 11.º – são o hino, a bandeira e o Chefe de Estado ou Presidente da República.

Se os dois primeiros têm andado em destaque de alta, particularmente, por razões desportivas, com o futebol à testa, o último, pelo que temos podido perceber é alvo de destaque em baixa... ao que se pode perceber por motivos ideológicos menos claros, por agora.

= Presidente de todos ou para todos... os portugueses?

Houve um candidato à presidência da República que, quando foi eleito, se fez aclamar ‘presidente de todos os portugueses’, mesmo daqueles que não tinham votado nele. Ora esta expressão tem tanto de demagógico, quanto de incorreto, pois o eleito – salvo em razão de unanimidade, o que não foi nem é o caso, ou estaríamos em ditadura de candidato único – tem sempre opositores e, por isso, não recolheu todos os votos; portanto não é ‘presidente de todos’, mas deverá ser ‘presidente para todos’, isto é, sem preveligiar os seus apaniguados nem os da sua simpatia ideologógica ou mesmo política.

Ora que temos visto, sobretudo, nos tempos mais recentes é que há fações que, não se revendo – política, económica ou sociologicamente – no atual Chefe de Estado/Presidente da República se dão ao trabalho – ou será ao crime? – de ofender um dos símbolos da Nação e com isso poderem incorrer em ofensa à Pátria.

Perante certo aparato contestatário – muitas vezes com umas dezenas de manifestantes... arregimentados por forças de quem ‘está sempre no contra’ – fica-nos a sensação de que são sempre os mesmos e que rodam para parecem bastantes. Talvez se devesse ver melhor a cara dos que por lá andam e teríamos outras certezas, descobrindo subterrâneas finalidades!... Talvez as autoridades devessem exercer mais as suas competências, identificando que profere palavras ofensivas à função – que não meramente a pessoa do dignitário – do Chefe de Estado/Presidente da República!... Se todos têm direito e liberdade a dizer o que querem também devem ser responsabilizados nas suas ações e comportamentos.

= Quando uma certa cobardia parece compensar!

Vivemos um tempo ávido de respostas um tanto imediatistas, onde a defesa dos interesses (pessoais, grupais ou de classe) como que se evidenciam por sobre uma outra visão em favor dos demais. De fato, algumas das manifestações sindicalistas, de contestação, de desempregados (ativos ou meramente passivos) ou de associações sectoriais nem sempre parecem ter em conta o necessário interesse comum e/ou coletivo. Com efeito, certas promoções em favor de uns quase revertem em favor de minorias, sejam elas as já habituais e quase institucionalizadas – onde algumas agremiações partidárias se acoitam – sejam as que aproveitam a onda contestatária contra tudo e em oposição a (quase) todos...

Quando o país precisa de fatores de unidade, não podemos continuar a tolerar a arrogância de certas forças que vivem (quase sempre) na retanca e no deita-abaixo, criando a sensação de tudo está perdido e como que favorecendo a discordância antes de que a harmonia numa certa perspetiva de futuro menos duro e crispado.


Basta de dogmatismo e de impunidade! Basta duns tantos intocáveis e de outros senhores da democracia – desde que seja a sua – votando ao ostracismo quem não pensa nem age como eles! Tendo na devida conta os intérpretes de cada fase da história, neste tempo que é o nosso, precisamos de líderes com visão e de cidadãos comprometidos na construção do amanhã de esperança e em confiança!...


António Sílvio Couto

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Empregada doméstica... a caminho dos altares

No passado dia 18 de junho foi dado início ao processo, em ordem à beatificação, de Salvadora del Hoyo Alonso. Esta mulher nascida em Castela, Espanha, em 1914... veio a falecer, em Roma, no ano de 2004. Viveu todo este tempo como ‘empregada doméstica’ entre Madrid e, posteriormente até à morte, em Roma. Esta mulher simples serviu, desde 1939 – época da guerra civil em Espanha – várias famílias e serviços do ‘Opus Dei’, ao qual aderiu, em 1946... tendo desde esse ano passado a viver em Roma, onde trabalhou com pessoas de todo o mundo ligadas à ‘Obra’.

Atendendo à singularidade desta pessoa e da função que viveu em santificação, ousamos transcrever excertos referidos naquele ato de caminho para a glorificação nos altares. Disse o prelado do ‘Opus Dei’: «Estou cada vez mais convicto do papel fundamental que esta mulher teve e terá na vida da Igreja e da sociedade. O Senhor chamou Dora del Hoyo a ocupar-se de tarefas semelhantes àquelas que foram cumpridas por Nossa Senhora na casa de Nazaré (...). O exemplo cristão desta mulher, com a sua fidelidade à vida cristã, contribuirá para manter vivo o ideal do espírito de serviço e para difundir na nossa sociedade a importância da família, autêntica Igreja doméstica, que ela soube encarnar com o seu trabalho diário, generoso e alegre».

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Num tempo ávido de figuras com protagonismo – real, empolado ou virtual; credível, irónico ou ideal; sincero, possível ou fabricado – como que temos de intuir nesta mulher que se santificou na ‘vida doméstica’ algo mais do que a promoção de um elemento do ‘Opus Dei’, mas antes nos devemos situar diante duma cristã com lições de vida normal, nas tarefas do dia a dia e sob a condição de simplicidade sem artifícios ou armadilhas...

= Quando vemos que tanta gente se encavalita para aparecer, seja qual for o palco ou mesmo o plano de difusão, torna-se urgente que se promova quem vive, por opção de vida, na sombra, embora seja mais do que a imagem projetada ao sabor dos interesses de ocasião!

= Quando vemos até certos purpurados – no contexto eclesial (civil ou militar) e não só – fazerem alardo da discordância, em vez de serem promotores da concórdia, tanto na vida de proximidade como no contexto nacional, consideramos que exemplos de mulheres como esta são desafios à humildade sem rótulo nem condecoração, agora ou no futuro!

= Quando vemos uns tantos indícios de assalto à família, empurrando as mães para tarefas (ditas) importantes, mas um tanto descartáveis da sua feminilidade,  sentimos que esta mulher ‘a caminho dos altares’ nos dá lições de cuidado aos outros sem protagonismo nem (talvez) não usufruindo de uma remuneração correspondente à atenção aos que estavam à sua volta!

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Mesmo que duma forma um tanto simples como que podemos colher algumas lições para a nossa vida, tendo em conta o que foi dito da vida de Dora del Hoyo:

- A santificação no nosso dia a dia, fazendo o trabalho que nos é dado realizar e nas condições em que somos chamados a viver;

- Estar em atitude de serviço, fazendo das pequenas coisas, grandes momentos de partilha e de edificação para com os outros;

- Dedicação ao trabalho – seja qual for a ‘categoria’ ou até a (pretensa) remuneração – como meio de comparticipação na obra criadora de Deus, hoje;

- Viver o momento presente como etapa de maior crescimento humano, espiritual e cultural.

Pelo muito que temos a aprender, queira esta venerável interceder por nós, já!

  

António Sílvio Couto

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Futebol sem fé ou fé no futebol?

Por estes dias tem estado a decorrer, na Polónia e na Ucrânia, o europeu de futebol em seleções seniores. De 9 de junho a 1 de julho, a toda a hora e momento há coisas do futebol nos meios de comunicação social:   preparação dos jogos, transmissão das partidas, debate de táticas e de resultados... e mesmo as conjeturas sobre as mais díspares questões que o futebol faz emergir...

Este epifenómeno do futebol envolve paixões e interesses, move multidões e milhões na economia, cria expetativas e dilui decepções, gera entusiasmo nas vitórias e obriga à gestão das tristezas nas derrotas, catapulta os vencedores e como que avilta os vencidos... arrasta muito público e faz dos bestiais bestas (e vice-versa) em segundos, serve de bandeira nacionalista ou de arma de arremesso entre adversários políticos/partidários ou regionais, dizem que parece servir para branquear uns certos dinheiros sujos ou também de alçapão para habilidosos em maré de (in)sucessos...

Há quem introduza Deus e a religião nas coisas do futebol, atribuindo as vitórias à proteção divina – como se as derrotas fossem devidas a algum castigo! – exibindo mesmo imagens e gestos de devoção antes, durante e depois dos jogos. Por seu turno, outros parecem envergonhar-se da sua (pretensa ou possível) fezada quando estão em público, como se isso pudesse tornar-se uma manifestação de debilidade e/ou de reconhecimento de que as suas forças não precisam (ainda) do divino...

Como ‘liturgia’ o futebol tem ritos e cerimoniais muito próprios e que, por serem tão difundidos, quase o torna uma religião, gerando até a adaptação de termos que são usados nas várias religiões tradicionais: quando se apelida um estádio de ‘catedral’, um certo chefe de clube de ‘papa’ e outro de ‘cardeal’, os patrocinadores de ‘padrinhos’, as designações clubísticas com epítetos neo-pagãos (sob figuras e símbolos mitológicos), os adeptos com ritmos de comunhão entre os idênticos e inimizade para com os adversários... Cresce, deste modo, uma nova religião onde a mística se faz à custa de envolvências coloridas e as próprias cores manifestam mais do que a identidade das equipas em confronto.

Por vezes o futebol – e quanto com ele está relacionado – torna as pessoas quasi-irracionais. Com efeito, temos visto e ouvido pessoas com instrução, com cargos de relevo e profissionais de destaque na sociedade que ficam, emocionalmente falando, transtornadas com a sua clubite, defendendo posições quase bizarras e sem qualquer lógica humana e mesmo intelectual. Enquanto fenómeno que se arrasta por paixões, o futebol precisa de ser mais estudado e, cada um de nós que possa gostar deste desporto, terá de se deixar analisar para se conhecer melhor e para que os outros nos conheçam tão bem... como somos.

= Breves questões em maré de campeonato europeu... e para depois dele:

- Não será o futebol uma alienação coletiva e uma espécie de suporte em engano para as dificuldades sociais?

- Como poderá um jogo de futebol contribuir para o bem-estar de um povo em depressão e desemprego?

- Seremos mais solidários na vitória ou na derrota?

- Como poderemos viver as agruras da vida se não houver vitórias no futebol?

- Será a vida como um jogo ou um jogo poderá alimentar a vida?

- Com tantos lamentos económicos como poderemos entender os estádios (quase sempre) cheios?

- Haverá critérios de conduta no e pelo futebol que possam ajudar os mais frágeis da nossa sociedade?

- As manifestações de alegria/tristeza veiculadas pelo futebol são reais ou ilusórias?


Porque há vida para além do futebol e do campeonato europeu, a decorrer na Polónia e na Ucrânia, temos de aprender a refletir mais sobre este fenómeno de massas... sócio-económico/religioso!


António Sílvio Couto

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Seis mil euros/anuais... por estudante

Em 2010/11, cada estudante do ensino superior custou, anualmente, cerca de seis mil euros. Atendendo aos dados revelados por um estudo universitário, divulgado, por estes dias, podemos inferir que cada estudante do ensino superior (universitário ou de outro grau académico com idênticas exigências... ao nível teórico) custou ao Estado  três mil e seiscentos euros... num universo de mais de trinta mil utentes/clientes desta fase de instrução... comparticipando, por seu truno, o setor privado (estudantes e famílias) com mais de sessenta por cento dos custos.

Diante destes números como que temos refletir sobre vários aspetos subjacentes à questão e de nos perguntarmos sem receio sobre outros problemas mais profundos:

= Ao vermos o esforço e o sacrifício de tantas famílias para que os seus filhos e outros parentes possam usufruir de maior capacidade de instrução, perguntamos:

- Os nossos estudantes sabem aproveitar, devidamente, este esforço das suas famílias e mesmo dos contribuintes em geral?

= Quando vemos muitos dos nossos estudantes a gastarem muitas das suas energias mais em festas e em divertimentos do que nos estudos, perguntamos:

- Com certos forrobodós – semanas académicas e queimas das fitas, recepções ao caloiro e rituais de final de curso – poderemos levar a sério quem prepara o seu futuro com tais comportamentos?

= Quando vemos uma maior promoção de atividades extra-curriculares do que a atenção dada aos estudos, como que inquirimos:

- Certos adereços (pretensamente) estudantis – como tunas e até torneios desportivos, seja qual for a modalidade – servem de cobertura ou de distração para quem estuda?

= Perscrutando mais ou menos como funcionam certos mecanismos estudantis, temos de ser minimamente sérios no trato dos gastos de cada estudante e, por isso, perguntamos:

- Quando vemos crescer mais a copofonia entre os mais novos do que a propensão para o estudo, qual será a futuro das gerações agora cambaleando sob efeitos etílicos?

= Com tantos interesses em jogo à volta da classe estudantil, sobretudo, no âmbito de ensino superior, como que ousamos perguntar:

- Quem faz a gestão – órgãos diretivos e projetos de valorização em classe, categoria e formação – destes ingredientes não estará a explorar as fragilidades dos ‘estudantes’ em vez de os concentrar na sua valorização mínima e suficiente?

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Precisamos de ter ideias claras, distintas e razoáveis para que não nos andemos a enganar uns aos outros, fazendo de conta que tudo está bem, mesmo que clamando pela tendência para a gratuidade do ensino superior. Diz o povo e com razão que aquilo que é gratuito pode não ser de boa qualidade. Deste modo não podemos valorizar aquilo que valor não tem nem endeusar quem pouco ou nada vale. Precisamos de fazer reverter em favor comum o esforço de que os nossos jovens tenham qualidade na sua formação e na capacitação em serem ainda melhores no exercício das suas profisssões. Não podemos é continuar a pactuar com incompetências nem com gente que pouco mais não sabe do que prolongar, por tempo indeterminado, a adolescência à custa dos sacrifícios alheios. Urge, por isso varrer das escolas de ensino superior quem não estuda e ajudar quem, por seu turno, quer crescer na sua valorização cultural, servindo os outros. Com efeito, mais do que um custo o estudo é um investimento, seja qual for o curso ou a escola. Assim consigamos criar condições para promover os melhores e relegar para a berma quem não presta, porque explora os familiares e até os contribuintes!... Faça-se a seleção, já e depressa!



António Sílvio Couto

quinta-feira, 7 de junho de 2012

30% de crianças carenciadas... em Portugal


Segundo  dados de um relatório da Unicef, publicado por estes dias, três em cada dez crianças, em Portugal, vivem em situação de carência económica. Embora os dados sejam de 2009 – hoje talvez estejamos muito pior! – tudo poderá ainda agravar-se mais se tivermos na devida conta que os parâmetros de avaliação tendem a situar-nos na cauda dos países da União Europeia... piores do que nós só a Letónia, a Hungria, a Bulgária e a Roménia.

O estudo da Unicef avaliou a situação financeira e habitacional, a alimentação e o vestuário, a educação e os tempos livres, a ‘comunidade’ (onde se incluem ítens como o ruído, a poluição e a criminalidade) e o ‘social’, que engloba festas, amigos e viagens escolares das crianças...

Segundo os investigadores da Unicef, é considerada “carenciada” uma criança que não tem acesso a duas ou mais das 14 variáveis de base, tais como três refeições por dia, um local tranquilo para fazer trabalhos de casa, livros educativos em casa, uma ligação à internet... ter pelo menos dois pares de calçado, possibilidade de celebrar, por exemplo, o aniversário...

Em Portugal, o maior problema é ao nível financeiro, atingindo 43,3% das crianças, seguindo-se a questão dos tempos livres (29,4%), do problema ‘social’ (26,4%) e temática da educação (25,8%).

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- Quando vemos crescer uma certa rotina da valorização dos animais em detrimento das crianças, não estaremos a construir uma sociedade sem filhos, sem futuro e sem saída?

- Quando vemos crescer o espaço, nas áreas comerciais e em grandes superfícies de distribuição, para alimento de animais em detrimento dos cuidados das crianças, não estaremos a cavar a nossa desgraça à custa dum certo bem-estar egoísta?

- Quando vemos florescer a aposta no filho único e se faz, por seu turno, o cultivar do passeio, a preferência pelas férias ou por um carro melhor, não estaremos a lançar fogo à consolidação da família e dos critérios altruístas mais mínimos?

- Quando vemos as pessoas serem tratadas como clientes (sejam as crianças ou os velhos), sobretudo numa agora atualizada linguagem da segurança social, não estaremos a fomentar, particularmente, uma visão utilitária das pessoas, tornando-as números e parcelas de um lucro/prejuízo nessa tal mentalidade economicista?

- Quando nos apercebemos de que há tantos interesses materialistas e ideológicos, que vão vingando a sua perspetiva em irem fazendo da pessoa humana uma mera peça da engrenagem hedonista, não estaremos a reduzir-nos  (mesmo que inconscientemente) à simples aritmética do capitalismo liberal ou de socialismo de Estado...  sem pátria, sem rosto e sem nome?

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Por isso, ousamos dizer – cuidado:

= porque estão a tirar o coração aos nossos filhos, sugando-lhes o sentido da vida, mesmo que estejam a dar-lhes coisas, mas que não saciam a vontade mais profunda do ser humano: ser feliz com os outros, abrindo-nos à dimensão do divino em nós.

= porque também não será com festivais de música (seja qual for o estilo, a frequência ou a influência) nem com representações romanas ou medievais revivalistas que daremos sinais de dignidade às crianças de hoje, que serão os homens/mulheres de amanhã.

= porque importa ter como horizonte de visão mais do que o alcance dos pés da estátua, urge, portanto, valorizar as vivências que perduram pela vida fora mais do que as sensações do momento epicurista.

De fato, na medida em que vivermos com o olhar na meta do mais alto, do mais longe e do mais profundo, seremos capazes de cativar outros para a sua inesquecível vivência... em Deus e pela Igreja.



António Sílvio Couto