Esta frase pensei-a muitas vezes, quando via o comportamento de um certo element das forças de segurança, que se tornava arrogante e intransigente – nas regras de trânsito – para com toda a população, inclusivé para com os da sua família: multava a torno-e-a-direito tudo e todos sem apelação.
Já nessa ocasião considerava que correria risco de ter problemas com tal ‘autoridade’, podendo mesmo vir a ser detido, dependendo da interpretação do interlocutor. Por isso, agora deixo uma breve reflexão para com tantos ‘fardados’ – e não são só elementos policiais, mas também tantos outros que parecem assumir outra personalidade fora da sua condição civil…
1. Será que a ‘farda’ confere outra personalidade a quem a veste? A dita farda terá simbolicamente a capacidade de alterar a personalidade de quem dela se reveste? Não será que as ‘profissões’, que são exercidas sob a tutela de alguma farda, levam quem a assume esse ‘algo’ que ultrapassa a personagem por ela assumida? Talvez estas deambulações possam confundir quem exerce a sua profissão tendo de usar alguma forma de farda. No entanto, podemos e devemos ser capazes de saber discernir o alcance mais profundo e com implicações sociais dessa identificação para que isso não condicione nem atrapalhe o que somos e como vivemos…
2. Antes de mais convém considerar que quem é (ou pensa que é) superior, ostentando uma farda pode, mesmo sem disso ter total consciência, apresentar a propensão de abuso de autoridade. Cada vez mais vão surgindo casos em que os subalternos apresentam queixa por abuso de poder ou mesmo por exercício de abuso emocional, psicológico… podendo até verificarem-se casos de assédio em razão da farda usada. Estas formas de abuso ou assédio revestem várias formas, desde as verbais, passando pelas físicas ou até de índole moral/ético.
3. Há, no entanto, no espetro nacional, outras figuras que, em razão de terem usado farda, quase se apresentam como personalidades titulares de mais regalias do que o comum dos cidadãos. Para tal até ser servem de ações de índole cívica, mas que os aureola de personagens pretensamente superiores: só porque cumpriram o seu dever – mesmo militar – já olham os outros da sua altivez sobranceira… E não é que uns tantos papalvos vão na cantiga, com se fossem arregimentados pela descrença reinante sobre os agentes politicos e que são catapultados pela pretensão de sairem do anonimato ou do limbo a que foram votados pelos correlegionários de antanho… De novo sou levado a questionar: é sempre assim ou só quando usava e se aproveita da farda?
4. Se há questão que me desagrada, senão mesmo que abjure, é essa de haver pessoas que usam a farda – seja beca, batina, seja bata com estetoscópio ou mera referência de receção – para aviltarem os que precisam de algum serviço e que possa ser triado porque quem ostenta tal superioridade. Embora não tenha muitas nem más experiências de tais pessoas, considero uma ofensa aos demais cidadãos que sejam obrigados a prestar vassalagem a quem ofende os mais vulneráveis.
5. Em tempos ouvi a um militar (padre) de alta-patente dizer a um outro oficial do mesmo ramo: ‘aqui dentro o senhor é respeitado pelos galões que apresenta, mas lá fora, sem farda, não impóe mais respeito… do que eu que sou sempre a mesma pessoa, esteja onde estiver’… Aprendi a lição e tento ser o mesmo com ou sem indumentária de vocação, que não de mera profissão!
António Sílvio Couto
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