Encurralados
por díspares atitudes de empregadores, de sindicalistas, de trabalhadores e
mesmo de políticos, parece que não vivemos no mesmo país ou, pelo menos, não
estamos ao mesmo ritmo psicológico e até cultural...
Baralhados
pelas propostas de solução, onde cada qual se reveste dos objetivos que mais lhe
interessa, nem que seja confundindo as turbas para tirar proveito do mal-estar...
Colocados
mais ao sabor do imediato, numa sensação de que o momento presente pouco parece
ter com as boas ou as más opções do passado, parecendo pode inferir-se que o
futuro poderá ser melhor por arte e engenho de algum demiurgo....
Estão,
no entanto, a ser dados indícios (reais ou virtuais) para a inversão do
discurso da austeridade, criando, por outro lado, outros clichés mais ou menos
populistas, como empreendedorismo, recuperação económica, mudança de atitude,
sair do desemprego, mobilizar as forças positivas, semear esperanças... Onde e
quando?
***
Estando a viver uma época de (dita) crise, que tem tanto de cultural e moral como de económica ou social, onde muitas das certezas foram colocadas em causa pelos efeitos nas faixas mais vulneráveis – é preciso dizer, de fato, ‘pobres’! – da população pelo desemprego, nas tensões sociais, na precariedade na saúde e na segurança... importa mais do que fazer um diagnóstico exaustivo dos sinais negativos que, por seu turno, possamos encontrar desafios ousados e sensatos, sérios e simples, serenos e superiormente capazes de envolver o maior número de cidadãos conscientes e mesmo de cristãos comprometidos.
- Sistema de poupança – mais que tentar impor um certo
regime de poupança, aferindo as necessidades de consumir às possibilidades
ponderadas do ter, importa que saibamos aprender a viver com o essencial e não
só maledizendo quem nos possa ter
obrigado a reduzir ao mínimo aquilo que deveria ter sido opção de vida.
- Trabalho e não só emprego – após um tempo de faz-de-conta
que ganha dinheiro sem trabalhar, temos de aprender a agradecer o dom do
trabalho, que é muito mais do que o ganha-pão (pessoal ou da família) para ser,
verdadeiramente, um projeto de realização humana, cultural e psicológica.
- Harmonia social e política – num certo clima de azedume, de
crispação e mesmo de confronto, tanto nas relações humanas como sociais –
vejam-se nas notícias as facetas de negatividade com que fomos bombardeados
diariamente – é urgente favorecer sinais e fatos de boa convivência – que é
muito mais do que paz podre! – tanto na vizinhança como nos vários estratos da
sociedade... portuguesa e até europeia.
- Justiça pela caridade – citando esta frase de Santo
Agostinho, gostaríamos de ir fazendo uma constante descoberta destes conceitos
(humanos e, sobretudo, cristãos) para que se dê ao outro o que ele merece, por
justiça, e se lhe faculte o que ele precisa, por caridade. De pouco basta fazer
do Estado, o pai previdente, se não se acredita e se coloca na vida em Deus, o
Pai providente. Um certo estatismo tem feito crescer muita preguiça, gerando
uns certos paladinos do dito ‘Estado social’, que mais não é do que uma capa
para nada fazer se não for na linha da ideologia... reinante, isto é, laica,
republicana e agnóstica.
***
Agora
que já sabemos (quase) tudo sobre a austeridade, importa criar laços de
fraternidade em que o bem comum seja mais do que uma treta de circunstância nem
discurso heróico em colóquios sobre os 50 anos do Concílio Vaticano II. Temos
de voltar a aprender a radicalidade do Evangelho ou tornar-nos-emos, cristamente
falando, dinossaúrios de uma promessa com mais de vinte séculos... para
realizar.
António Sílvio Couto
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