Este
epifenómeno do futebol envolve paixões e interesses, move multidões e milhões
na economia, cria expetativas e dilui decepções, gera entusiasmo nas vitórias e
obriga à gestão das tristezas nas derrotas, catapulta os vencedores e como que avilta
os vencidos... arrasta muito público e faz dos bestiais bestas (e vice-versa) em
segundos, serve de bandeira nacionalista ou de arma de arremesso entre
adversários políticos/partidários ou regionais, dizem que parece servir para
branquear uns certos dinheiros sujos ou também de alçapão para habilidosos em
maré de (in)sucessos...
Há quem
introduza Deus e a religião nas coisas do futebol, atribuindo as vitórias à
proteção divina – como se as derrotas fossem devidas a algum castigo! –
exibindo mesmo imagens e gestos de devoção antes, durante e depois dos jogos.
Por seu turno, outros parecem envergonhar-se da sua (pretensa ou possível)
fezada quando estão em público, como se isso pudesse tornar-se uma manifestação
de debilidade e/ou de reconhecimento de que as suas forças não precisam (ainda)
do divino...
Como
‘liturgia’ o futebol tem ritos e cerimoniais muito próprios e que, por serem
tão difundidos, quase o torna uma religião, gerando até a adaptação de termos
que são usados nas várias religiões tradicionais: quando se apelida um estádio
de ‘catedral’, um certo chefe de clube de ‘papa’ e outro de ‘cardeal’, os patrocinadores
de ‘padrinhos’, as designações clubísticas com epítetos neo-pagãos (sob figuras
e símbolos mitológicos), os adeptos com ritmos de comunhão entre os idênticos e
inimizade para com os adversários... Cresce, deste modo, uma nova religião onde
a mística se faz à custa de envolvências coloridas e as próprias cores manifestam
mais do que a identidade das equipas em confronto.
Por
vezes o futebol – e quanto com ele está relacionado – torna as pessoas
quasi-irracionais. Com efeito, temos visto e ouvido pessoas com instrução, com
cargos de relevo e profissionais de destaque na sociedade que ficam,
emocionalmente falando, transtornadas com a sua clubite, defendendo posições
quase bizarras e sem qualquer lógica humana e mesmo intelectual. Enquanto
fenómeno que se arrasta por paixões, o futebol precisa de ser mais estudado e,
cada um de nós que possa gostar deste desporto, terá de se deixar analisar para
se conhecer melhor e para que os outros nos conheçam tão bem... como somos.
= Breves questões em maré de
campeonato europeu... e para depois dele:
- Não
será o futebol uma alienação coletiva e uma espécie de suporte em engano para
as dificuldades sociais?
- Como
poderá um jogo de futebol contribuir para o bem-estar de um povo em depressão e
desemprego?
- Seremos
mais solidários na vitória ou na derrota?
- Como
poderemos viver as agruras da vida se não houver vitórias no futebol?
- Será a
vida como um jogo ou um jogo poderá alimentar a vida?
- Com
tantos lamentos económicos como poderemos entender os estádios (quase sempre)
cheios?
- Haverá
critérios de conduta no e pelo futebol que possam ajudar os mais frágeis da
nossa sociedade?
- As
manifestações de alegria/tristeza veiculadas pelo futebol são reais ou
ilusórias?
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