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segunda-feira, 18 de junho de 2012

Futebol sem fé ou fé no futebol?

Por estes dias tem estado a decorrer, na Polónia e na Ucrânia, o europeu de futebol em seleções seniores. De 9 de junho a 1 de julho, a toda a hora e momento há coisas do futebol nos meios de comunicação social:   preparação dos jogos, transmissão das partidas, debate de táticas e de resultados... e mesmo as conjeturas sobre as mais díspares questões que o futebol faz emergir...

Este epifenómeno do futebol envolve paixões e interesses, move multidões e milhões na economia, cria expetativas e dilui decepções, gera entusiasmo nas vitórias e obriga à gestão das tristezas nas derrotas, catapulta os vencedores e como que avilta os vencidos... arrasta muito público e faz dos bestiais bestas (e vice-versa) em segundos, serve de bandeira nacionalista ou de arma de arremesso entre adversários políticos/partidários ou regionais, dizem que parece servir para branquear uns certos dinheiros sujos ou também de alçapão para habilidosos em maré de (in)sucessos...

Há quem introduza Deus e a religião nas coisas do futebol, atribuindo as vitórias à proteção divina – como se as derrotas fossem devidas a algum castigo! – exibindo mesmo imagens e gestos de devoção antes, durante e depois dos jogos. Por seu turno, outros parecem envergonhar-se da sua (pretensa ou possível) fezada quando estão em público, como se isso pudesse tornar-se uma manifestação de debilidade e/ou de reconhecimento de que as suas forças não precisam (ainda) do divino...

Como ‘liturgia’ o futebol tem ritos e cerimoniais muito próprios e que, por serem tão difundidos, quase o torna uma religião, gerando até a adaptação de termos que são usados nas várias religiões tradicionais: quando se apelida um estádio de ‘catedral’, um certo chefe de clube de ‘papa’ e outro de ‘cardeal’, os patrocinadores de ‘padrinhos’, as designações clubísticas com epítetos neo-pagãos (sob figuras e símbolos mitológicos), os adeptos com ritmos de comunhão entre os idênticos e inimizade para com os adversários... Cresce, deste modo, uma nova religião onde a mística se faz à custa de envolvências coloridas e as próprias cores manifestam mais do que a identidade das equipas em confronto.

Por vezes o futebol – e quanto com ele está relacionado – torna as pessoas quasi-irracionais. Com efeito, temos visto e ouvido pessoas com instrução, com cargos de relevo e profissionais de destaque na sociedade que ficam, emocionalmente falando, transtornadas com a sua clubite, defendendo posições quase bizarras e sem qualquer lógica humana e mesmo intelectual. Enquanto fenómeno que se arrasta por paixões, o futebol precisa de ser mais estudado e, cada um de nós que possa gostar deste desporto, terá de se deixar analisar para se conhecer melhor e para que os outros nos conheçam tão bem... como somos.

= Breves questões em maré de campeonato europeu... e para depois dele:

- Não será o futebol uma alienação coletiva e uma espécie de suporte em engano para as dificuldades sociais?

- Como poderá um jogo de futebol contribuir para o bem-estar de um povo em depressão e desemprego?

- Seremos mais solidários na vitória ou na derrota?

- Como poderemos viver as agruras da vida se não houver vitórias no futebol?

- Será a vida como um jogo ou um jogo poderá alimentar a vida?

- Com tantos lamentos económicos como poderemos entender os estádios (quase sempre) cheios?

- Haverá critérios de conduta no e pelo futebol que possam ajudar os mais frágeis da nossa sociedade?

- As manifestações de alegria/tristeza veiculadas pelo futebol são reais ou ilusórias?


Porque há vida para além do futebol e do campeonato europeu, a decorrer na Polónia e na Ucrânia, temos de aprender a refletir mais sobre este fenómeno de massas... sócio-económico/religioso!


António Sílvio Couto

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