Segundo dados de um relatório da Unicef, publicado por estes dias, três em cada dez crianças, em Portugal, vivem em situação de carência económica. Embora os dados sejam de 2009 – hoje talvez estejamos muito pior! – tudo poderá ainda agravar-se mais se tivermos na devida conta que os parâmetros de avaliação tendem a situar-nos na cauda dos países da União Europeia... piores do que nós só a Letónia, a Hungria, a Bulgária e a Roménia.
O estudo da Unicef avaliou a situação
financeira e habitacional, a alimentação e o vestuário, a educação e os tempos
livres, a ‘comunidade’ (onde se incluem ítens como o ruído, a poluição e a
criminalidade) e o ‘social’, que engloba festas, amigos e viagens escolares das
crianças...
Segundo
os investigadores da Unicef, é considerada “carenciada” uma criança que não tem
acesso a duas ou mais das 14 variáveis de base, tais como três refeições por
dia, um local tranquilo para fazer trabalhos de casa, livros educativos em
casa, uma ligação à internet... ter pelo menos dois pares de calçado,
possibilidade de celebrar, por exemplo, o aniversário...
Em
Portugal, o maior problema é ao nível financeiro, atingindo 43,3% das crianças,
seguindo-se a questão dos tempos livres (29,4%), do problema ‘social’ (26,4%) e
temática da educação (25,8%).
***
- Quando
vemos crescer uma certa rotina da valorização dos animais em detrimento das crianças,
não estaremos a construir uma sociedade sem filhos, sem futuro e sem saída?
- Quando
vemos crescer o espaço, nas áreas comerciais e em grandes superfícies de
distribuição, para alimento de animais em detrimento dos cuidados das crianças,
não estaremos a cavar a nossa desgraça à custa dum certo bem-estar egoísta?
- Quando
vemos florescer a aposta no filho único e se faz, por seu turno, o cultivar do
passeio, a preferência pelas férias ou por um carro melhor, não estaremos a
lançar fogo à consolidação da família e dos critérios altruístas mais mínimos?
- Quando
vemos as pessoas serem tratadas como clientes (sejam as crianças ou os velhos),
sobretudo numa agora atualizada linguagem da segurança social, não estaremos a
fomentar, particularmente, uma visão utilitária das pessoas, tornando-as
números e parcelas de um lucro/prejuízo nessa tal mentalidade economicista?
- Quando
nos apercebemos de que há tantos interesses materialistas e ideológicos, que
vão vingando a sua perspetiva em irem fazendo da pessoa humana uma mera peça da
engrenagem hedonista, não estaremos a reduzir-nos (mesmo que inconscientemente) à simples aritmética
do capitalismo liberal ou de socialismo de Estado... sem pátria, sem rosto e sem nome?
***
Por isso, ousamos dizer – cuidado:
= porque
estão a tirar o coração aos nossos filhos, sugando-lhes o sentido da vida,
mesmo que estejam a dar-lhes coisas, mas que não saciam a vontade mais profunda
do ser humano: ser feliz com os outros, abrindo-nos à dimensão do divino em
nós.
= porque
também não será com festivais de música (seja qual for o estilo, a frequência
ou a influência) nem com representações romanas ou medievais revivalistas que
daremos sinais de dignidade às crianças de hoje, que serão os homens/mulheres
de amanhã.
= porque
importa ter como horizonte de visão mais do que o alcance dos pés da estátua, urge,
portanto, valorizar as vivências que perduram pela vida fora mais do que as
sensações do momento epicurista.
De fato,
na medida em que vivermos com o olhar na meta do mais alto, do mais longe e do mais
profundo, seremos capazes de cativar outros para a sua inesquecível vivência...
em Deus e pela Igreja.
António Sílvio Couto
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