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segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

‘Ricos’: premiados na América e combatidos na Europa?


Numa das muitas observações e comentários no dia de tomada de posse do novo presidente dos EUA, um general costumeiro nas apreciações televisivas disse que os ricos e os que têm ideias de desenvolvimento na América são premiados, mesmo que possam ser relativamente novos, enquanto na Europa os ricos e quem cria riqueza são perseguidos pela desconfiança e mesmo postos de lado sob suspeita. Será isso assim tão simplista? Haverá critérios tão diversos para apreciar quem pode fazer algo pelos outros? Estes tiques de discrepância não custarão caro aos europeus?

1. Desde logo vemos que as sociedades têm escalas de valorização das pessoas e das ideias com grande
diferença. A ser verdade aquela apreciação sobre a capacidade de riqueza, podemos constatar que nos nossos meios – europeus em geral e portugueses em particular – com facilidade é posto sob desconfiança senão em julgamento depreciativo moral e social quem tenha ou mostre sinais de riqueza: com que velocidade se lhe apega a suspeita, desde a mais banal até à mais complexa, criando-se um clima de inveja progressivamente generalizada. Na maior parte dos casos os fatores trabalho e mérito nem sempre são incluídos, pelo contrário são sobrelevadas questões obscuras e possibilidades menos favoráveis à honestidade e ao bom nome dos intervenientes.

2. Deste modo aquilo que se poderiam considerar ‘os melhores’ – pela competência, pelo mérito ou mesmo pelo risco – são varridos para debaixo do tapete da quase-criminalidade. Ora o que vemos, então, é que essas pessoas não sentem incentivo em participar no bem comum, podendo fechar-se no seu casulo de pseudo-ricos e fazerem do seu castelo dourado um refúgio não-proveitoso para os outros. Com efeito, conta-se que, um dia um dos paladinos da nossa revolução de abril foi visitar a Suécia e terá dito aos interlocutores que, em Portugal, estávamos a acabar com os ricos, ao que o outro respondeu: nós, aqui, queremos acabar é com os pobres. Eis uma visão que nos tem matado as aspirações em sermos, mesmo com tantos programas de ajuda ao nosso desenvolvimento, dos últimos na União Europeia: os nossos ‘ricos’ não são ajudados a criarem mais riqueza, pelo contrário, a sanha das taxas fá-los fugir daqui e vão investir onde são mais apreciados e valorizados.

3. Quem não se lembra de um velho chavão abrilino: os ricos que paguem a crise! Mas quem são esses ricos e qual é crise que devem pagar? Não será que o desnível salarial se pode ajustar, mas a mentalidade gastadora fará com que os rendimentos sejam sugados pelo consumo desenfreado? Não estaremos mais centrados no gastar do que no poupar? O despejar dinheiro sobre os problemas – das pessoas, das famílias e das classes sociais – não tem vindo a agravar a consciencialização da nossa incapacidade em gerir em vez de gastar? As políticas de subsidiodependência não serão uma artimanha de quem governa para iludir os pobres e os menos capazes de gerirem os vencimentos muito abaixo dos custos de vida? Por que não se faz uma educação para a poupança em vez da publicidade consumista desenfreada?

4. Da mesma forma que não há interesse em tirar os pobres da sua condição de pobreza e miséria, assim os ‘pensadores’ sociais e políticos não têm interesse em falar a verdade, criando bolhas de contentes com os subsídios e não como trabalhadores dignos e produtivos. Temos andado a adiar a assunção de que somos um país pobre gerido por pessoas sem visão de futuro, mas antes preocupados em terem aduladores que os mantenham no poder a todo o custo. Repare-se nas tricas e intrigas com que nos entretêm: parecemos crianças do jardim-de-infância a fazer de conta que somos grandes, mas só na asneira não-assumida.

5. Se eu fosse rico não investia em Portugal, pois quem dá o pão nem sempre tem a gratidão e o
reconhecimento do esforço em ser útil aos outros e deles merecer algo mais que não seja a contestação
reivindicativa… A mentalidade ainda está ancorada nos patrões e não nos empresários. Mude-se, já!


António Sílvio Couto

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