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sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Perceções a mais ou a menos?


‘Perceção’ é uma palavra que foi entrando no léxico generalizado da comunicação, sobretudo política, mas também social e até económica bem como ideológica. Gerou-se a sensação de que ter a perceção tem a ver com algo que é trazido à superfície – mental e psicológica – mas que ainda não tínhamos percebido que existia ou não era totalmente reconhecido… Estamos, de facto, perante uma nova grelha de leitura da realidade pessoal, social e quase eclesial.

1. Para ilustrar ou exemplificar situações deste fenómeno dito da ‘perceção’ olhemos para o tema da insegurança, o que implicaria o reconhecimento da falta de segurança. Alguns setores sociopolíticos têm trazido à colação estratégica a sua perceção de insegurança, servindo-se de sinais ou de fatores de menos boa segurança. Para isso têm-se servido de uma mentalidade desfavorável aos imigrantes (no todo ou nalguma das partes), fazendo-os fautores de atos e/ou presunções de práticas desviantes naquilo que se poderia relacionar com aspetos de agressividade ou mesmo de violência. Ao ser dada vez e voz a tais promotores destes aspetos desfavoráveis aos não-nacionais poderemos estar a criar uma perceção xenófoba, racista e persecutória daqueles que estão deslocados da sua terra em busca de melhores condições de vida para si e as suas famílias. Desde logo temos de proclamar que esta perceção é falsa na generalidade e pode ser negativa para todos…agora e no futuro.

2. Olhemos, por momentos, para outras situações de perceção que sentimos e que nos podem escapar: a perceção do frio/calor, a perceção de entendermos as coisas numa certa linha de pensamento, a perceção de que seria mais conveniente seguirmos uma certa proposta em desfavor de outras, a subtil perceção de poderíamos ganhar ascendência sobre outrem se nos colocarmos num patamar mais credível…

Sobre a sensação/perceção de frio ou de calor é algo subjetivo e que pode tornar-se suscetível de ser contraditado se as condições interiores se modificarem. Quantas vezes eu posso ter frio e ao meu lado alguém, pelo exercício físico ou mesmo se as qualidades anto-morfológicas forem diferentes das minhas…

De facto, é mais vulgar do que parece ver que certas posições podem dar a sensação de vitória, mas que só no final das contas é que se apura o verdadeiro vencedor… Que o digam os desiludidos pelas sondagens em maré de eleições!

Mesmo que possa parecer abusivo na interpretação há casos em que a colocação na linha de partida dá a impressão de vitória, tenho a perceção de que os resultados desmentem quem assim se iludiu… Será falsa ou melindrosa tal perceção!

3. Dá-me a perceção de que o ‘panteão nacional’ se está a converter num recurso para fazer dele uma espécie de vala-comum das grandes figuras nacionais, isto é, de que a bitola de quem é levado/colocado na Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa, está a ficar bastante lasso… Vejamos quem acolhe e homenageia o ‘panteão nacional’: personalidades homenageadas – Luís de Camões, Infante D. Henrique, Vasco da Gama, Afonso de Albuquerque, D. Nuno Álvares Pereira e Aristides de Sousa Mendes; personalidades sepultadas: Presidentes da República Manuel de Arriaga, Teófilo Braga, Sidónio Pais e Óscar Carmona; figura política: Humberto Delgado; os escritores Almeida Garrett, Aquilino Ribeiro, Guerra Junqueiro e João de Deus, Sophia de Mello Breyner Andresen e (recentemente) Eça de Queirós; da vida artística – Amália Rodrigues e do desporto – Eusébio da Silva Ferreira.

Talvez não fosse necessário nem recomendável que se retirassem de junto das populações certas figuras e personalidades de referência, lança-as na turbulência da capital, onde nem sempre se valoriza que ali é colocado…Quem ganha com este distanciamento?

4. Isto da perceção é, de facto, muito subjetivo e pode tornar-se nesta vaga de superficialidades reinante, mais um recurso para os inúteis e oportunistas… Ou será que isto é (só) a minha perceção?



António Sílvio Couto

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