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quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Apanhados nas redes da incongruência



Por estes dias temos tido excelentes oportunidades de vermos alguns dos atores políticos a fazerem jus às suas incongruências mínimas e significativas – os extremos do espetro partidários deram-nos bons ‘sinais’ de que não basta dizer, é preciso fazer com lógica e compromisso: de um lado alguém surripiou umas malas em aeroportos e com isso fez negócio mais barato; do lado umas certas (ditas) defensoras dos direitos das trabalhadoras despediram umas tantas que estavam a amamentar… caíram, assim, os moralistas (dos extremos) pelos seus próprios atos.

1. Neste quadro algo cinzento da vida política tivemos sinais concordantes com a incongruência. Embora nem todos sejam frequentadores da religião, aqui se adequa a expressão do rifoneiro popular: ‘bem prega frei Tomás, segui o que ele diz, mas não o que ele faz’. Com efeito, quem desejava moralizar, pelo combate à corrupção a vida social bem depressa deixou cair a máscara mal confecionada e pior colocada. Não que os atos de um lancem a suspeição sobre todos, mas que fica a perceção – termo por estes dias recorrente em tantos episódios – de que algo não corre bem quando alguém – pessoa ou agremiação – se quer tornar moralista e a lição faz ricochete… Embora quase imberbe (sete anos), o partido chegou rapidamente aos mesmos defeitos dos mais antigos.

2. Coisa mais grave, porque injusta, foi a cena do outro extremo: dito de esquerda, defensores dos trabalhadores e combatentes dos patrões, intransigentes na defesa dos direitos dos ditos assalariados, mas que, quando foram investidos em empregadores se converteram em iguais àqueles que contestam e vão atanazando de forma implacável: despediram algumas mulheres-mães que estavam a amamentar…Embora o assunto tenha sido gerido de forma acintosa – entre a negação dos factos e o reconhecimento envergonhado dos mesmos – ficou a sensação de, por vezes, a melhor forma de tentar passar desapercebido é atacar com que possa fazer mossa…

3. De vez em quando certos setores trazem à liça – sobretudo quando lhes convém ou o ambiente se lhes torna adverso – essa fastidiosa expressão da ‘ética republicana’ para tentarem fugir – quais enguias em maré de pesca e grande procura gastronómica – das consequências dos seus atos ou na ânsia de encobrirem os seus erros. Se bem que haja quem pretenda distinguir para confundir ética e moral são a mesma coisa na origem dos termos: ‘ethos’ do grego, ‘mor, moris’ do latim abrangem as questões relacionadas com o comportamento, embora se atenda, na evolução semântica das palavras, a moral com conotações mais do teor pessoal e a ética na vertente mais social e genérica.

4. De que consta a ‘ética republicana’ para ser tão reclamada em tempos de crise? Por que a desejam os que a pretendem manipular? Numa interpretação mais estrita dos conceitos em matéria politica, há quem considere que a república, num estado de direito democrático, proclama o primado da lei e a igualdade de todos os cidadãos perante ela, não aceitando que uns beneficiem de prerrogativas ou de direitos que assentem em razões de hereditariedade familiar ou de títulos nobiliárquicos concedidos pelas mesmas razões.

Numa visão ainda mais restrita os republicanos consideram que acima do mero cumprimento da lei deve prevalecer o interesse público em detrimento do interesse privado, isto é, a dimensão coletiva impõe-se, teoricamente, ao interesse do indivíduo.

5. Tendo em conta esta descrição precisamos de refletir sobre as implicações da tal ‘ética republicana’, exigindo de quem a serve que não se arvore em estar acima de nada nem de ninguém, antes se faça cumpridor da lei, mesmo que em seu prejuízo. Mal vai uma nação se os seus legisladores engendram preceitos que os favorecem. Mal vai um país onde os conotados com o poder usufruem de condições melhoradas e de favorecimento. Mal vai o todo nacional se os pequenos particulares se sobrepõem ao resto. Urge, tomar consciência de quem escolhemos para nos governarem, seja qual for a instância…



António Sílvio Couto


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