Aquando das JMJ de 1997, em Paris, França, o Papa João Paulo II deixou-nos uma frase tão provocadora quão emblemática: ‘França, filha predileta da Igreja, o que fizestes com o teu batismo’? Por ocasião da celebração da festa do Batismo do Senhor, podemos e devemos refletir sobre esta semente divina que nos foi concedida – em boa parte em tenra idade – e mesmo à mudança de atitude de tantos dos crentes sobre este sacramento da iniciação cristã.
1. Numa leitura histórica do papel da França na dinâmica do cristianismo podemos ver a sua importância atendendo às diversas manifestações de Nossa Senhora – Lourdes, La Sallete e Paris ou ainda as centenas de santos e santas, doutores da Igreja ao mundo, sendo ainda palco de vandalismo às suas igrejas e Notre Dame (que sobreviveu à Revolução francesa e a duas grandes guerras mundiais) teve um incêndio em abril de 2019... Enquanto isso a França de hoje presencia o número de cristãos em redução e ao invés o número de islâmicos vai crescendo e o paganismo alastrando, sobretudo entre os jovens...
2. Atendendo àquilo que João Paulo II disse na França e à França ainda no século passado precisamos de aferir o que devemos mudar na Igreja, como Igreja e para a Igreja, quanto ao sacramento do batismo. Desde logo é questionável que se tenha vindo a afirmar uma tendência de fazer deste sacramento mais um ‘ato social’ do que uma celebração da fé. Por que se há de adiar o batismo de uma criança, se os pais têm um mínimo de fé? Devemos ter em conta que não será preciso que os pais sejam batizados para ser dado o batismo à criança, pois ela recebe essa semente de vida em Deus e pode, se devidamente acompanhada, crescer em ambiente de fé na Igreja. Quem nos diz que será perdida para Deus a semente de fé que lançamos nesse novo cristão?
3. Por vezes as exigências quanto aos padrinhos – em certos lugares (dioceses ou paróquias) requerendo o crisma e até alguma idade quase-adulta – pode sofrer de algum complexo de cristandade, dado que muitos dos padrinhos apresentados não reúnem as condições suficientes para a tarefa que lhes é imputada e, nem por isso, deveríamos não-batizar uma criança...Alguns problemas gerados por causa deste tema tornam-se mais ocasião de conflito do que oportunidade de graça. Quanto mais torcermos as razões, piores ficarão as consequências, atendendo à ignorância de tantos dos nossos fregueses...
4. Pelo facto de muitos dos atuais cristãos/católicos terem sido batizados na condição etária de criança torna-se essencial que haja um tempo de catecumenato – seria de preparação anterior à celebração e agora necessário a posteriori – em que se reflita, aprofunde e consciencialize os efeitos do batismo na nossa vida. Vejamos o que nos diz o Catecismo da Igreja Católica sobre este aspeto: «O fruto do Batismo ou graça batismal é uma realidade rica que inclui: a remissão do pecado original e de todos os pecados pessoais; o renascimento para uma vida nova, pela qual o homem se torna filho adotivo do Pai, membro de Cristo, templo do Espírito Santo. Por esse facto, o batizado é incorporado na Igreja, corpo de Cristo, e tornado participante do sacerdócio de Cristo» (n.º 1279). Será assim mesmo que vivemos e assumimos a graça do batismo? Até onde irá a capacidade de distinguir entre o essencial e o secundário, em tantos que ainda solicitam a receção do batismo?
5. Por ocasião da celebração litúrgica da festa do Batismo do Senhor seria útil e conveniente que fosse facultada – em contexto da fé comunitária – a vivência em ação de graças para todos quantos celebraram o seu batismo ao longo do ano. Não deixa de ser preocupante e de colocar inquietação sobre a diminuição de batismos atualmente. Mesmo em ambiente de festa social – quando deveria ser de fé – o batismo é uma oportunidade de agradecer e de consciencializar esse dom que a Igreja nos deu há mais ou menos tempo...
António Sílvio Couto
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