Por esta ocasião do ano – final de um e dealbar de outro – surgem imensas propostas de previsão – noutras circunstâncias dizia-se augúrios – do que pode trazer o ‘novo ano’, atendendo aos diversos e costumeiros itens de ‘aúde-dinheiro-amor’ seja qual for o campo, a idade ou mesmo a condições económica… é o tempo do horóscopo nacional….Por outro lado, vemos que diversas pessoas – muitas delas da esfera da Igreja – manifestam uma irrequietude que incomoda, tal a vontade de aparecer, de falar, de estar na crista-da-onda.
1. Naqueles/as que fazem as previsões como que sinto algo que se torna confrangedor, pois parece que são bons a dar lições mas fracos a acertarem nas suas consequências… quantas vezes parecendo roçar a charlatanice e algo que tem a ver com o entretenimento, a diversão e a superficialidade. Se atendermos às previsões apresentadas, na sua maioria, servem-se do esquema do zodíaco para tentarem seduzir os consultores e adular os consultados. Aspetos como as cores dominantes ou o recurso a amuletos, sugestões para as (melhores) escolhas a fazer e tantas outras propostas em razão das apreensões para o bem-estar pessoal a curto e a médio prazo.
2. Não deixou de ser algo nesta linha de previsões de cartomantes e tarólogas – mais ou menos famosas ou principiantes – as leituras que quiseram fazer das palavras da mensagem do Presidente da República: aqui se tentaram ver cifradas algumas insinuações, alfinetadas e sugestões a outros atores políticos: mais do que no passado, a mensagem do PR pareceu uma lição – breve, não teve nem dez minutos – de previsão de mágico habilidoso...agora que está prestes a recolher o material da feira que armou ao longo dos dois mandatos.
3. De repente eis que vemos certas figuras da Igreja católica num frenesim quase doentio: mais do que o fermento na massa como que descobrimos pessoas que pretendem estar em todo o lugar, mesmo que pensem depois de falar e que bem espremido o que dizem pouco ou nada se retenha de suficiente. Num tempo em que a exibição rivaliza com a humildade não tenho visto esta a ser servida na dose correta e necessária. Com efeito, mais do que aparecer é preciso ser fermento eficiente e silencioso, capaz de salgar sem perder o sabor ou tornar-se-á pior que o esterco que corrompe e mata…E o pior que, em muitas dioceses, a irrequietude dos responsáveis parece tornar-se contagiosa de outros.
4. Sobre estas duas questões encontrei uma sugestão interessante que pode aquietar uns e outros. É a designada ‘oração da serenidade’ de um autor americano, tornada pública em meados do século passado.
«Concedei-me, Senhor a serenidade necessária
Para aceitar as coisas que não posso modificar.
Coragem para modificar aquelas que posso
E sabedoria para conhecer a diferença entre elas.
Vivendo um dia de cada vez,
Desfrutando um momento de cada vez,
Aceitando que as dificuldades constituem o caminho à paz,
Aceitando, como Ele aceitou
Este mundo tal como é, e não como eu queria que fosse,
Confiando que Ele acertará tudo
Contanto que eu me entregue à Sua vontade
Para que eu seja razoavelmente feliz nesta vida
E supremamente feliz com Ele eternamente na próxima».
Numa interpretação mais ou menos intensa poderemos encontrar nesta ‘oração da serenidade’ três desafios: à serenidade – aceitar as coisas que não posso mudar; à coragem – superar as dificuldades que podemos; à sabedoria – discernimento para aceitar a situação e enfrentá-la.
É assim que vivemos e queremos estar neste novo ano?
António Sílvio Couto
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