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segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Que qualidade de candidatos (políticos e não só)?

 

É assunto que ocupa bastante espaço na comunicação social, das discussões (privadas ou públicas), nos corredores do poder (geral, autárquico ou regional) e nas conjeturas de uns tantos para com outros: os candidatos são credíveis? Merecem ser apreciados ou podem ser descartados pela falta ou insuficiência de qualidade? Até onde irá a ousadia ou a ingenuidade de quem pensa impingir os seus candidatos? Teremos candidatos pela meritocracia ou pela manipulação dos pretendentes e dos potenciais apoiantes? Seja o que vier a acontecer veremos o estado em que está a nossa ainda frágil e continuamente debilitada democracia...

1. Porque é já este ano que devemos atender aos candidatos autárquicos: muitos deles sucedem a longos mandatos de figuras mais ou menos capazes de cativar o interesse dos eleitores. O que vemos emergir são ‘segundas linhas’ para serem votadas, embora possam ter vivido à sombra dos que agora saem e/ou que foram sendo preparadas para assumir as tarefas... Se houve quem preparou a sucessão, outros deixaram correr o tempo e agora podem perder para outro partido o posto em que estiveram investidos.

2. A limitação de mandatos torna-se assim uma forma de revitalizar quem manda, embora nem sempre signifique que tudo começa de novo: múltiplos interesses vegetam em surdina e podem trazer sobressaltos ao desenvolvimento das populações, se não forem acautelados os projetos essenciais nem se andarem ao sabor dos lóbis – sobretudo do cimento – subterrâneos mais ou menos percetíveis... Haver transfugas de município seria (ou será) o pior serviço de quem o protagoniza ou mesmo de quem o patrocina. O campo dos imprescindíveis rebenta pelas costuras e está a ser preciso aumentá-lo tal a desqualificação emergente.

3. Neste campo das autarquias há uma doença atroz: nem sempre os que são colocados no posto tiveram a preparação necessária e suficiente. Com efeito, faltam ‘escolas’ de preparação de cidadãos que não coloquem os interesses pessoais ou de grupo à frente das matérias de desempenho comum, isto é, que sirvam sem se servirem nem de serem os arietes de forças que deambulam nas trevas e que flutuam entre os vários partidos, desde que ganhem protagonismo, visibilidade e, por que não, uns cobres sem controlo das contas vistas... Ainda se admiram da dita corrupção, mas não é ela – segundo dizem – que faz avançar um município e outros ficarem para trás ou mesmo parados no tempo?

4. Pasme-se como está a decorrer o processo pré-eleitoral de candidatos a candidatos às eleições presidenciais de 2026: muitos dos apontados surgem mais como representantes dos partidos, havendo que diga que vai apresentar o ‘seu’ candidato... Ora, neste campo os ditos ou putativos candidatos são de proposta pessoal e não deviam sequer serem representantes de qualquer formação partidária, embora deva ser clara qual a ideologia que servem... A ver pela aragem dos falados estamos mesmo muito mal, pois os que querem não devem e os que deviam não querem...sobretudo para não sentirem a sua vida escrutinada e posto tudo ao sol, mesmo o que seria dispensável. Estamos a bater no fundo não só da vulgaridade mas pior da insalubridade mental e psicológica.

5. Se tivermos em conta outros campos de atividade ou espaços de compromisso humano veremos que os candidatos vão decrescendo em qualidade, não que os anteriores fossem muito melhores, mas nota-se que, em certos lugares, rareia já a seleção tal diminuição dos pretendentes. Cada época, cada sociedade, cada serviço tem os que merece e a julgar por muitos setores – forças de segurança, ministros de culto, justiça e defesa, etc. – o que temos e vemos revela que estamos em profunda crise de valores, de critérios e, sobretudo, de compromisso...É tempo de preparar um tanto melhor o futuro, pois a renovação das estruturas é feita pela qualidade dos intérpretes...

 

António Sílvio Couto

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