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sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Pais agredidos pelos filhos


Cerca de quatro mil pais – sobretudo na vertente da mãe – foram agredidos pelos filhos, entre 2004 e 2012. Estes dados são os que constam de elementos recolhidos pela associação portuguesa de apoio à vítima (APAV). Na sua maioria estes pais agredidos nem apresentaram queixa às forças policiais… No conjunto das agressões estão incluídos mais de nove nil crimes cometidos contra os progenitores… mas cuja denúncia surge, normalmente através de uma terceira pessoa, que se envolve no caso e que apresenta queixa.

De entre os crimes relatados a maior parte são de maus-tratos físicos e psicológicos, mas também há situações de coação e de ameaças, de difamação e de injúrias, de furtos e de roubos, de violação de obrigação de alimentos e, mesmo, de agressões de natureza sexual… A maioria das vítimas tem mais de 65 anos. Por seu turno, os filhos agressores são, na sua maioria do sexo masculino, e contam entre os 26 e os 45 anos, mas também já há casos de menores (5,7%) agressores dos seus progenitores.

= Sabendo que, em Portugal, um quarto da população tem mais de 65 anos, num total de dois milhões de pessoas, temos de estar cada vez mais atentos a esta faixa dos cidadãos, dando-lhes, já, as melhores condições de vida, de proteção e de segurança, tanto na sociedade como na família.

= Recentemente realizaram-se em Roma e nalgumas dioceses encontros envolvendo pessoas mais velhas, referimo-nos a encontros com avós. Foram momentos de algum significado tanto social como espiritual/cristão, pois se permitiu dar mais conta da importância dos mais velhos na construção da sociedade… hoje muito mais envelhecida, particularmente na Europa, do que noutras épocas.

= Ao longo do mês de outubro vai decorrer, no Vaticano, um sínodo extraordinário dos bispos sobre o tema da família, intitulado: ‘desafios pastorais sobre a família’, que terá continuação, em 2015, num outro sínodo ordinário… devendo só após estes dois momentos haver um documento orientador do Papa.

Questões a precisar de resposta… sincera e urgente

- Que podemos/devemos fazer, ao nível familiar, para que os mais velhos sejam bem cuidados e não meramente tolerados?

- Que dimensões podem/devem ser tratadas, para que os mais velhos sejam parte da sociedade e não pesos (quase) mortos?

- Até onde poderá ir a nossa capacidade de sensibilidade desde a mais tenra idade aos outros, atendendo à sua longevidade?

- Como poderemos/deveremos educar os mais novos para estarem atentos aos mais velhos em família, na rua e mesmo na igreja?

- Estaremos a ser dignos do esforço com que os mais velhos cuidaram de nós, quando agora os enxotamos para lares e casas (ditas) de repouso?

- Como seremos tratados pelos mais novos, quando formos velhos, nós que os desenraizamos colocando-os em estruturas coletivas de passatempo (e talvez de educação) na infância?

- Acreditando na força da Lei de Deus que nos diz para honrarmos pai e mãe, não estaremos a colher os frutos duma certa democratização do ‘tu cá, tu lá’ com que tantos pais/mães criaram seu filhos e agora também os netos?

- Não será de continuar a apostar na estabilidade da família para que pais/avós, filhos e netos sejam cuidados tendo em conta a visão personalista da pessoa e não essa outra visão dialético/marxista da qualidade/quantidade na produção?

Porque acreditamos que a família – nas suas várias etapas e configurações de índole espiritual/cristã – é e continuará a ser a base da construção da sociedade, temos algumas expetativas do que será dito e, sobretudo, decidido nos próximos sínodos em Roma… embora sejam precisas respostas, já.

 

António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)


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