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quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Triunfalismo e indignação


Nota-se nas hostes do maior partido da oposição um certo ar de triunfalismo, à medida daqueles clubes, que olhando para os adversários mais ou menos fragilizados, pensam e dizem: vamos ganhar por quantos? Só que o jogo parece – para já – vir a ser disputado pelas reservas, que, noutras ocasiões, foram derrotadas… à saciedade! Se olharmos à seleção nacional de futebol poderíamos tirar, desde já, as devidas lições! Será que aprendemos com os erros, tanto os nossos como os dos outros? Os atores têm de ser diferentes!

Entretanto, recomeçou a época de manifestações, sendo criados novos figurinos, mas o objetivo parece ser sempre o mesmo: contestar, mobilizar, ocupar as ruas, desgastar… até à pretensa vitória final! Não está em causa o direito a tomar posição como muito bem cada um (pessoa, associação ou até força sindical e partidária) achar, talvez possa ser é ser questionável se, desta forma, vamos recuperar o país, criar emprego, fazer crescer a riqueza de todos para se repartida mais atentamente… Precisamos de trabalho!

Aparentemente estes dois itens de avaliação da nossa vida política (partidária) e social (económica e sindical) como que podem ser os extremos de uma outra leitura neste outono chuvoso, num misto de quente e húmido, bem como de efervescente e (quase) imprevisto.

= De fato, temos vivido episódios – vistos e ouvidos, narrados e pretendidos – duma espécie de fim-de-regime na nossa política… à portuguesa em que todos acusam todos, embora todos possam ser acusados daquilo que apontam aos outros…. Com efeito, vemos voltarem a surgir na ribalta figuras que deveriam ser retiradas de circulação, tal foi o mal que (já) fizeram ao país no seu todo e especificamente nas dimensões de índole económico/financeira. Será que temos de deitar a perder os sacrifícios que nos foram exigidos? Será que saberá governar o país quem se endividou nas autarquias? Será que se lava o passado só porque se pretende vingar as derrotas mesmo interpares?

Se tal acontecer – como se perfilha numa certa comunicação social orientada – poderemos considerar que o ‘povo’ não tem memória e que se deixa comprar por certos ‘pratos de lentilhas’, que tresandam a recesso e que nada acrescentam ao já visto!

Efetivamente, como já referimos: temos de ter atores diferentes, que falem, essencialmente, a verdade, que queiram pedir perdão pelo mal feito e que sejam capazes de apresentar projetos que não mais nos encurralem no contexto da Europa comunitária… Temos de ser levados a sério na condução do nosso futuro coletivo, pois os guias da última década deixam muito a desejar… senão na forma, pelo menos no conteúdo!

= Na militância da contestação estamos quase a chegar à saturação, pois, tendo em conta alguns dos faladores poderemos considerar, que profissionalmente são mais isso de estarem na rua do que no exercício da profissão – seja na educação, seja na laboração, seja mesmo na motivação do operariado – na medida em que o país não produz com contestações nem com faixas e palavras de ordem… no contra tudo e todos!

A indignação não pode ser uma etapa de ocupação (ou será manipulação?) dos reformados e pensionistas, de desempregados e de beneficiários de subsídios e, muito menos, de pessoas fragilizadas pela inconstância do tecido económico, que se podem tornar vulneráveis a artimanhas de habilidosos, mas em que estes nada fazem para valorizar a força de trabalho dos que servem as suas causas.

De fato, é trágico que haja tantas famílias sem o mínimo para sobreviverem, mas será ainda mais dramático se lhes tentam insuflar o veneno do ódio e duma certa dose de resignação de salvadores sem solução… Quando, um dia, se aperceberem que foram usados para campanhas de cosmética, então a revolta será ainda mais contundente e feroz!

É verdade que o povo é sereno, mas pode enfurecer-se contra quem o usa como descartável e (quase) acrítico. Não cozinhem argumentos com as armas que podem voltar-se contra os mentores da indignação, se esta for indigna de ser credível, já!

Do triunfalismo à indignação vai um passo de bom senso… coisa que precisamos, urgentemente.  

 

António Sílvio Couto

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