Foi uma
conversa telefónica de mais de meia hora em que, do outro lado, alguém meu
conhecido, desde criança, tentava convencer-me que isto de ‘ser pai’ mesmo fora
do casamento era algo bom…de que não estava arrependido e de que já estava na
hora de assumir a (tal) paternidade.
Admirava-se
do silêncio de outras pessoas a quem tinha comunicado a notícia e queria, à
viva força, que lhe dessem a opinião sobre o assunto. Essoutros interlocutores
consideraram que o silêncio e (e é) a melhor forma de tomar posição… seja pela
discordância, seja pela estupefação do caso.
Filho de
mãe solteira, acolhido por uma instituição que tudo (e muito mais) lhe deu,
achou, há anos, que era tempo de alargar asas e voar por si… embora, de forma
cíclica, se vá refugiar no ninho de criação... Até que agora, querendo
constituir a sua (pretensa) família, se ufana de vir a ser pai sem vínculo com
o casamento.
A minha
resposta à situação é essa que está no título deste texto: e daí, tenho de
concordar?
De fato,
hoje vemos crescer um novo conceito de vinculação das pessoas, andando muitas
na etapa da experimentação, outras na fase da rodagem e tantas outras na
vivência epicurista do ‘dá-me gosto’, ‘não me arrependo’ ou, mais
subliminarmente, ‘é por amor’… até que dure!
= Entre o ‘já’ e o ‘ainda não’
Embora
esta expressão seja de teor teológico e tente apreciar o tempo em já estamos
salvos, mas ainda não se manifestou essa salvação totalmente, poderá servir-nos
de grelha de leitura para algumas das situações da família no contexto do nosso
tempo.
- De
fato já não vivemos no quadro de uma família constituída de forma estável e em
conceitos de total normalidade, pois bastará ver as nossas crianças – nas
escolas, na catequese, nos infantários, etc. – são resultado de muitas
disfunções sociais e afetivas. Estas são as que nasceram e tantas outras que
nunca chegaram a ver a luz do dia!
- A
volatilidade – emocional, afetiva e mesmo comportamental – de tantas/os
adolescentes e jovens revela a intranquilidade familiar, seja nos laços entre
pais, seja na conjuntura entre irmãos, pois alguns são-no só de uma parte e, em
muitos casos, vivendo sob o mesmo teto. Isto não acontece só nas famílias
(ditas) carenciadas, mas também nas que vivem de fachada e sob o rótulo de evoluídas.
-
Quantas vezes vemos adolescentes (até aos 18 anos) deambularem pelas ruas até
altas horas da noite… enquanto seus pais vivem ‘tranquilos’ em casa, pois os
filhos/as têm de gozar a vida… sabe-se lá a que preço. Foi-me contado um caso
em que uma adolescente de treze anos chegava a casa altas horas da madrugada e
a mãe não sabia o que fazer… Pudera, se a própria mãe já ia numa terceira
relação afetiva!
Em breve
iremos pagar a fatura de tanta atrapalhação à família, pois não havendo
estabilidade no seio familiar, as pessoas – mais velhos ou mais novos – terão
tendência a sair de casa e a abandonar essa que é a expressão mais simples da
sociedade: o vínculo de sangue. Se este falir, então entraremos em maior colapso.
Não é
preciso que nos resignemos à rutura da família, mas tentemos lançar nos mais
novos o amor àqueles e aquelas que os cuidam, educando-os para a oblação de
vida e não para o mero interesse daquilo que o adulto me convém…
É
verdade que nem tudo está perdido, mas precisamos de unir-nos em ordem a sermos
família onde os valores cristãos sejam vivos, partilhados e testemunhados… nas
pequenas como nas grandes coisas.
Há
periferias onde se espera uma palavra de conforto e de perdão. A família merece
mais do que aquilo que nos tentam ludibriar com benesses de impostos e de
incentivos à (possível) natalidade. Ninguém nasceu por decreto também não será
por decreto que se salvará a família, mas pela apresentação do verdadeiro
salvador: Jesus Cristo, filho da Família de Nazaré… Quando Ele for aceite nas
nossas famílias muita coisa vai mudar, desde os critérios até aos
comportamentos!
António
Sílvio Couto
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