Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



terça-feira, 21 de outubro de 2014

E daí, tenho de concordar?

Foi uma conversa telefónica de mais de meia hora em que, do outro lado, alguém meu conhecido, desde criança, tentava convencer-me que isto de ‘ser pai’ mesmo fora do casamento era algo bom…de que não estava arrependido e de que já estava na hora de assumir a (tal) paternidade.
Admirava-se do silêncio de outras pessoas a quem tinha comunicado a notícia e queria, à viva força, que lhe dessem a opinião sobre o assunto. Essoutros interlocutores consideraram que o silêncio e (e é) a melhor forma de tomar posição… seja pela discordância, seja pela estupefação do caso.
Filho de mãe solteira, acolhido por uma instituição que tudo (e muito mais) lhe deu, achou, há anos, que era tempo de alargar asas e voar por si… embora, de forma cíclica, se vá refugiar no ninho de criação... Até que agora, querendo constituir a sua (pretensa) família, se ufana de vir a ser pai sem vínculo com o casamento.
A minha resposta à situação é essa que está no título deste texto: e daí, tenho de concordar?

De fato, hoje vemos crescer um novo conceito de vinculação das pessoas, andando muitas na etapa da experimentação, outras na fase da rodagem e tantas outras na vivência epicurista do ‘dá-me gosto’, ‘não me arrependo’ ou, mais subliminarmente, ‘é por amor’… até que dure!

= Entre o ‘já’ e o ‘ainda não’
Embora esta expressão seja de teor teológico e tente apreciar o tempo em já estamos salvos, mas ainda não se manifestou essa salvação totalmente, poderá servir-nos de grelha de leitura para algumas das situações da família no contexto do nosso tempo.
- De fato já não vivemos no quadro de uma família constituída de forma estável e em conceitos de total normalidade, pois bastará ver as nossas crianças – nas escolas, na catequese, nos infantários, etc. – são resultado de muitas disfunções sociais e afetivas. Estas são as que nasceram e tantas outras que nunca chegaram a ver a luz do dia!
- A volatilidade – emocional, afetiva e mesmo comportamental – de tantas/os adolescentes e jovens revela a intranquilidade familiar, seja nos laços entre pais, seja na conjuntura entre irmãos, pois alguns são-no só de uma parte e, em muitos casos, vivendo sob o mesmo teto. Isto não acontece só nas famílias (ditas) carenciadas, mas também nas que vivem de fachada e sob o rótulo de evoluídas.
- Quantas vezes vemos adolescentes (até aos 18 anos) deambularem pelas ruas até altas horas da noite… enquanto seus pais vivem ‘tranquilos’ em casa, pois os filhos/as têm de gozar a vida… sabe-se lá a que preço. Foi-me contado um caso em que uma adolescente de treze anos chegava a casa altas horas da madrugada e a mãe não sabia o que fazer… Pudera, se a própria mãe já ia numa terceira relação afetiva!

Em breve iremos pagar a fatura de tanta atrapalhação à família, pois não havendo estabilidade no seio familiar, as pessoas – mais velhos ou mais novos – terão tendência a sair de casa e a abandonar essa que é a expressão mais simples da sociedade: o vínculo de sangue. Se este falir, então entraremos em maior colapso.
Não é preciso que nos resignemos à rutura da família, mas tentemos lançar nos mais novos o amor àqueles e aquelas que os cuidam, educando-os para a oblação de vida e não para o mero interesse daquilo que o adulto me convém…
É verdade que nem tudo está perdido, mas precisamos de unir-nos em ordem a sermos família onde os valores cristãos sejam vivos, partilhados e testemunhados… nas pequenas como nas grandes coisas.
Há periferias onde se espera uma palavra de conforto e de perdão. A família merece mais do que aquilo que nos tentam ludibriar com benesses de impostos e de incentivos à (possível) natalidade. Ninguém nasceu por decreto também não será por decreto que se salvará a família, mas pela apresentação do verdadeiro salvador: Jesus Cristo, filho da Família de Nazaré… Quando Ele for aceite nas nossas famílias muita coisa vai mudar, desde os critérios até aos comportamentos!

António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário