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segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Uma certa cobardia dos anónimos



De vez em quando surge na comunicação social a referência a investigações, iniciadas pelos serviços de justiça, decorrentes de denúncias de anónimos sobre os assuntos mais díspares. Os campos de intervenção, por referência ao papel dos anónimos, são muito variados e às vezes faz parecer que quem tal subterfúgio usa é mais do âmbito da conhecimento do caso do que de fora da situação… camuflada.

Diante desta onda de tais ‘anónimos’ – dirão alguns, mas muito bem conhecidos – como que temos a sensação de estarmos a ver incentivar uma nova cultura do medo, de todos podemos ser vítimas de suspeição (senão clara pela menos tacitamente), de que tais atos como que revelam ataques sem rosto e até de que passaremos a viver na desconfiança de todos e para com todos…sem sabermos quem é quem, porquê e onde!

= Cultura do medo

É significativo que o medo seja, hoje, uma das armas a que recorrem os mais medrosos, incompetentes e até espertos mas não inteligentes, criando nos outros a sensação de que estão sujeitos a serem usados por quem, escondendo-se sob a capa do anonimato, usa os demais como trunfos…em seu favor.

Muito deste medo é mais psicológico do que real e os tais anónimos podem usá-lo com subtileza para assim se sentirem – como julgam – superiores, embora manifestando um complexo de inferioridade não assumido. Com efeito, o medo é algo que cresce, sobretudo, no campo da manipulação, da desinformação e da ignorância… onde as vítimas estão ao sabor dos intentos mais sórdidos de quem se considera capaz de instrumentalizar os outros… até vir a ser descoberto!

Quem não se sentiu já vítima de medo, por alguém que, mesmo a coberto do anonimato, tenta lançar fumos de má-fé, de difamação e mesmo de desonra!... Bastará um boato, uma carta anónima ou um mero trejeito de menos boa reputação para que se possa instalar o medo em nós e à nossa volta.

= Vítimas da suspeita

Quando um tal anónimo faz uma denúncia lança – correta ou em difamação – uma suspeita sobre esse outro/a que quer acusar. Essa suspeita, se investigada pelas autoridades judiciais, pode tornar-se algo mais do que um trazer para a luz do dia algo que coloca essa pessoa em estado de réu… podendo exigir alguma investigação e até ser levado a julgamento.

As vítimas dos anónimos não conhecem, na maior partes das vezes, os seus acusadores, pois estes se acobardam sob a capa de não darem a cara nem de se saber quem são. De algum modo (quase) todos nós podemos ser vítimas dos intentos de anónimos… e tanto mais quando podemos estar em ação pública e nem sempre agradarmos às vontades de todos. Dito de outra forma: (quase) todos estamos sob suspeita, se alguém nos quiser mal ou se interpretar menos bem o que dizemos e/ou fazemos.

= Ataques sem rosto

O que mais ofende nos anónimos é o de se esconderem sob a pretensa ideia de que, não tendo rosto, não serão reconhecidos. Ora, pelos seus atos, muitos deles deixam-se perceber nas insinuações que, por vezes, fazem, senão de forma direta pelo menos nas entrelinhas, nos olhares e nos comportamentos.

De fato, muitos dos anónimos são tão cobardes que nem cara têm para levar um murro bem assente, pois se tivessem capacidade de mostrar a cara seria com todo o gosto – e sem ofender a mais lídima linguagem cristã do perdão! – que seriam esbofeteados por aqueles a quem ofendem, desonram e atacam.

É a esses que se escondem no número privado de tlm, que enviam mensagens sem remetente, que escrevem cartas a computador para não se ver a caligrafia e tantos outros subterfúgios de anonimato, que queremos denunciar e exigir que saiam do obscuro campo da mentira, pois as diferenças de opinião não se combatem com cobardias nem com denúncias soezes e ressabiadas…mesmo a longo prazo.

Às autoridades judiciais lamentamos que levem a sério quem sério não é, pois se o fosse daria a cara e não se esconderia num certo anonimato cobarde, ignóbil e filho do mal.     

 

António Sílvio Couto

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