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segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Cenas de um tempo sem Deus

Os tempos que correm estão agressivos, as pessoas andam (normalmente) irritadiças, as notícias de violência e agressividade ocupam a maior parte dos noticiários… e como que pululam por toda a parte sinais de algo que se reporta a aspetos mais profundos e inquietantes.
Se atendermos às prevenções dos Papas mais recentes poderemos entender que é claro que muita gente vive como se Deus não existisse – dizia Bento XVI ou que Deus foi tirado do coração das pessoas – como tantas vezes advertiu João Paulo II. Se entendêssemos bem o significado da frase proferia por Paulo VI, em Fátima, em 1967 – ‘homens sede homens’ – teríamos tido um outro comportamento pessoal, familiar, social e mesmo eclesial…
É, dramaticamente, verdade: Deus foi expulso da vida da maior parte das pessoas e, em seu lugar, foi sendo colocado o consumismo…como se fosse uma nova forma de conduta mais experiencial e experienciada.
«O grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração consumista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada» (Francisco, Alegria do evangelho, 2).

= Neopaganização… anticristã?
Por ocasião de certas datas míticas de religiões pré-cristãs vemos surgirem muitas iniciativas que congregam pessoas, algumas delas com instrução, mas que quase recuam aos seus ancestrais… recriando ambientes e tempos envoltos em exoterismos e com práticas a roçar um razoável neopaganismo. Veja-se, por estes dias, o culto do halloween, com os rituais mais vulgares e até populares. Mas também os ciclos de ritmo de mudança das estações do ano com as vivências voltadas para a natureza, como grande mãe e senhora dos diferentes rituais iniciáticos.
Se atendermos à visão cristã desses mesmos tempos e ambientes poderemos ver que o cristianismo tentou dar resposta a esses ritos, substituindo muitos deles por festas religiosas com incidência na fé judaico-cristã. Foram tempos, foram ritmos, foram vivências… mas que agora estão a ser postas em causa pela onda neopagã mais ou menos subtil e com cobertura de uma certa comunicação social bem orquestrada nos valores anticristãos.
Pequenos exemplos: a solenidade de Todos os Santos e dos Fiéis Defuntos foi uma cristianização da festa das bruxas (hoje rebatizada de halloween), no início do século XI. O Natal foi uma cristianização da celebração do ‘deus da luz’, após a queda do império romano do ocidente, bem como a festa de São João Batista foi como que uma tentativa de tornar cristã uma festa em honra do deus sol, no solstício de verão…
Hoje, ao vermos despirem de conteúdo cristão algumas destas festas e outras mais regionais ou nacionais, como que sentimos a perda de sabor do cristianismo como expressão de fé e, sobretudo, de vida, pois alguns vão tentando viver numa certa mistura, usufruindo dos conteúdos com novas formas e expressões festivas…onde Deus não conta. Bastará ver a ocorrência de halloween em infantários e escolas de índole cristã!

= Remar contra a maré?
Será possível remar contra esta maré de neopaganismo galopante que estamos a viver, sobretudo na cultura ocidental? As investidas (atuais e do passado) do islamismo não nos dizem nada nem criam incómodo à nossa pasmaceira cultural? Os sinais de crise (mais de valores do que económica) terão servido para mudar hábitos e comportamento ou só serviram para agudizar a nossa fome consumista? Teremos aprendido a lição de que nem só de pão vive o homem, de hoje?
Tudo poderá ficar igual ou poderemos continuar a seguir o nosso caminho rotineiro como se Deus não existisse, mas depois seremos assaltados por esse vazio de vida e de ética. Tudo poderá ser, afinal, diferente se aceitarmos Jesus na nossa vida, na nossa família e na nossa sociedade. Queremos já ou vamos adiar?      

António Sílvio Couto

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