Os tempos que correm estão agressivos, as pessoas andam
(normalmente) irritadiças, as notícias de violência e agressividade ocupam a
maior parte dos noticiários… e como que pululam por toda a parte sinais de algo
que se reporta a aspetos mais profundos e inquietantes.
Se atendermos às prevenções dos Papas mais recentes
poderemos entender que é claro que muita gente vive como se Deus não existisse
– dizia Bento XVI ou que Deus foi tirado do coração das pessoas – como tantas
vezes advertiu João Paulo II. Se entendêssemos bem o significado da frase
proferia por Paulo VI, em Fátima, em 1967 – ‘homens sede homens’ – teríamos
tido um outro comportamento pessoal, familiar, social e mesmo eclesial…
É, dramaticamente, verdade: Deus foi expulso da vida da
maior parte das pessoas e, em seu lugar, foi sendo colocado o consumismo…como
se fosse uma nova forma de conduta mais experiencial e experienciada.
«O grande risco do mundo atual, com sua múltipla e
avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do
coração consumista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais,
da consciência isolada» (Francisco, Alegria do evangelho, 2).
= Neopaganização…
anticristã?
Por ocasião de certas datas míticas de religiões pré-cristãs
vemos surgirem muitas iniciativas que congregam pessoas, algumas delas com
instrução, mas que quase recuam aos seus ancestrais… recriando ambientes e
tempos envoltos em exoterismos e com práticas a roçar um razoável neopaganismo.
Veja-se, por estes dias, o culto do halloween, com os rituais mais vulgares e
até populares. Mas também os ciclos de ritmo de mudança das estações do ano com
as vivências voltadas para a natureza, como grande mãe e senhora dos diferentes
rituais iniciáticos.
Se atendermos à visão cristã desses mesmos tempos e
ambientes poderemos ver que o cristianismo tentou dar resposta a esses ritos,
substituindo muitos deles por festas religiosas com incidência na fé
judaico-cristã. Foram tempos, foram ritmos, foram vivências… mas que agora
estão a ser postas em causa pela onda neopagã mais ou menos subtil e com
cobertura de uma certa comunicação social bem orquestrada nos valores
anticristãos.
Pequenos exemplos: a solenidade de Todos os Santos e dos
Fiéis Defuntos foi uma cristianização da festa das bruxas (hoje rebatizada de halloween),
no início do século XI. O Natal foi uma cristianização da celebração do ‘deus
da luz’, após a queda do império romano do ocidente, bem como a festa de São
João Batista foi como que uma tentativa de tornar cristã uma festa em honra do
deus sol, no solstício de verão…
Hoje, ao vermos despirem de conteúdo cristão algumas
destas festas e outras mais regionais ou nacionais, como que sentimos a perda
de sabor do cristianismo como expressão de fé e, sobretudo, de vida, pois
alguns vão tentando viver numa certa mistura, usufruindo dos conteúdos com
novas formas e expressões festivas…onde Deus não conta. Bastará ver a
ocorrência de halloween em infantários e escolas de índole cristã!
= Remar contra a
maré?
Será possível remar contra esta maré de neopaganismo
galopante que estamos a viver, sobretudo na cultura ocidental? As investidas
(atuais e do passado) do islamismo não nos dizem nada nem criam incómodo à
nossa pasmaceira cultural? Os sinais de crise (mais de valores do que
económica) terão servido para mudar hábitos e comportamento ou só serviram para
agudizar a nossa fome consumista? Teremos aprendido a lição de que nem só de
pão vive o homem, de hoje?
Tudo poderá ficar igual ou poderemos continuar a seguir o
nosso caminho rotineiro como se Deus não existisse, mas depois seremos
assaltados por esse vazio de vida e de ética. Tudo poderá ser, afinal,
diferente se aceitarmos Jesus na nossa vida, na nossa família e na nossa
sociedade. Queremos já ou vamos adiar?
António Sílvio Couto
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