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segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Questões de patriotismo… à portuguesa


Por ocasião das comemorações do dia da implantação da República voltaram a ouvir-se apelos – uns inflamados, outros circunstanciais e tantos dececionantes – a um certo patriotismo… mais ou menos ao sabor das cores partidárias, dos lugares de comando e de inflexões ideológicas.

Até houve, nessa mesma data, o lançamento de um novo partido – há terrenos sociais onde certas iniciativas têm tanto de vulgar, quanto de necessário para difundir certos egos e protagonismos – numa tentativa de (quase) balcanizar o espectro partidário… que mais tarde terá de reconstruir o que, por agora, não passa de dividir para reinar.

= Neste país/nação que é Portugal vemos emergirem figuras que, aproveitando-se de possibilidades na comunicação social, se catapultam para a ribalta política com a mesma destreza com que trocam de camisola ou de fato… de exibição. Só num país decrépito de valores morais se acredita em gente que denuncia os ordenados dos deputados (europeus ou nacionais), mas que auferem-nos sem pejo nem vergonha. Só num país onde vale tudo, se tenta derrubar na rua quem foi legitimado nos votos. Só num país em vésperas de se afundar na lama da sua ética (dita republicana) se permite deixar impune quem usa programas de opinião para se fazer novamente valer de salvador, mesmo que isso implique faltar aos compromissos para com quem o elegeu… há tão pouco tempo!

= Temos estado a viver, em Portugal, sob um regime de contenção de despesas públicas, rateando pelos mais diversos meios os recursos do povo trabalhador. Às frases feitas e aos chavões de rua, não conseguimos perceber a que horizonte nos querem levar, sejam os atuais sejam os futuros governantes. Já se perfilam na linha de partida mentores de gastar sem olhar a recursos… Já se adivinham mentores da facilidade, pois o futuro será mais risonho com ‘pão e jogos’ com que, desde a antiguidade romana, se entretinham os incautos e manipulados.

= Há situações que devem ser faladas a sério, custe o que custar, pois encobrir as causas não costuma ser boa política para defender das consequências. Áreas como a saúde, a educação e a segurança social correm riscos contínuos, pois faltam meios de capitalização para que esse serviço público seja bem feito e os custos sejam os mais corretos e honestos. O que temos visto são números que não condizem com a realidade, descobrindo-se quase sempre lacunas e desvios que fazem encarecer tais serviços. Será ainda mais difícil perceber a continuidade dessas vertentes de bem comum se o fator trabalho não for educado desde a mais tenra idade. Com efeito, se temos quase vinte por cento de jovens (15-29 anos) que nem estudam nem trabalham e se um quarto da população (com mais de 65 anos) vive de reformas, como poderemos construir um país saudável e com futuro?

= O patriotismo não se semeia à custa da maledicência militante com que tantos se desgastam. O patriotismo não tem coloração partidária, ou tornar-se-á uma espécie de chauvinismo ou de internacionalismo, que só vale quando reverte a nosso favor, de contrário pode ser arma de arremesso contra adversários ocasionais ou permanentes. O verdadeiro patriotismo deve ser servido em doses de consenso, tendo em vista mais aquilo que nos une do que aquilo que nos separa. Já é tempo de termos dignitários na arte da política que olham para os problemas e que tentam dar-lhes solução a médio prazo e não se limitando a resolver questões dos seus comparsas… votantes ou eleitores,

A bem da Nação, urge mudar de atores, pois alguns dos, por agora, recauchutados trarão os resultados que já vimos e não servem o nosso futuro coletivo…

Não pode ser só o futebol a puxar pelo nosso patriotismo! Outras modalidades, que não meramente desportivas, também são patriotas.

    

António Sílvio Couto

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