Por ocasião das comemorações do dia da implantação da República
voltaram a ouvir-se apelos – uns inflamados, outros circunstanciais e tantos
dececionantes – a um certo patriotismo… mais ou menos ao sabor das cores partidárias,
dos lugares de comando e de inflexões ideológicas.
Até houve, nessa mesma data, o lançamento de um novo
partido – há terrenos sociais onde certas iniciativas têm tanto de vulgar,
quanto de necessário para difundir certos egos e protagonismos – numa tentativa
de (quase) balcanizar o espectro partidário… que mais tarde terá de reconstruir
o que, por agora, não passa de dividir para reinar.
= Neste país/nação que é Portugal vemos emergirem figuras
que, aproveitando-se de possibilidades na comunicação social, se catapultam
para a ribalta política com a mesma destreza com que trocam de camisola ou de
fato… de exibição. Só num país decrépito de valores morais se acredita em gente
que denuncia os ordenados dos deputados (europeus ou nacionais), mas que auferem-nos
sem pejo nem vergonha. Só num país onde vale tudo, se tenta derrubar na rua
quem foi legitimado nos votos. Só num país em vésperas de se afundar na lama da
sua ética (dita republicana) se permite deixar impune quem usa programas de
opinião para se fazer novamente valer de salvador, mesmo que isso implique
faltar aos compromissos para com quem o elegeu… há tão pouco tempo!
= Temos estado a viver, em Portugal, sob um regime de
contenção de despesas públicas, rateando pelos mais diversos meios os recursos
do povo trabalhador. Às frases feitas e aos chavões de rua, não conseguimos
perceber a que horizonte nos querem levar, sejam os atuais sejam os futuros
governantes. Já se perfilam na linha de partida mentores de gastar sem olhar a
recursos… Já se adivinham mentores da facilidade, pois o futuro será mais
risonho com ‘pão e jogos’ com que, desde a antiguidade romana, se entretinham
os incautos e manipulados.
= Há situações que devem ser faladas a sério, custe o que
custar, pois encobrir as causas não costuma ser boa política para defender das
consequências. Áreas como a saúde, a educação e a segurança social correm
riscos contínuos, pois faltam meios de capitalização para que esse serviço
público seja bem feito e os custos sejam os mais corretos e honestos. O que
temos visto são números que não condizem com a realidade, descobrindo-se quase
sempre lacunas e desvios que fazem encarecer tais serviços. Será ainda mais
difícil perceber a continuidade dessas vertentes de bem comum se o fator
trabalho não for educado desde a mais tenra idade. Com efeito, se temos quase
vinte por cento de jovens (15-29 anos) que nem estudam nem trabalham e se um
quarto da população (com mais de 65 anos) vive de reformas, como poderemos
construir um país saudável e com futuro?
= O patriotismo não se semeia à custa da maledicência
militante com que tantos se desgastam. O patriotismo não tem coloração
partidária, ou tornar-se-á uma espécie de chauvinismo ou de internacionalismo,
que só vale quando reverte a nosso favor, de contrário pode ser arma de
arremesso contra adversários ocasionais ou permanentes. O verdadeiro
patriotismo deve ser servido em doses de consenso, tendo em vista mais aquilo
que nos une do que aquilo que nos separa. Já é tempo de termos dignitários na
arte da política que olham para os problemas e que tentam dar-lhes solução a
médio prazo e não se limitando a resolver questões dos seus comparsas… votantes
ou eleitores,
A bem da Nação, urge mudar de atores, pois alguns dos,
por agora, recauchutados trarão os resultados que já vimos e não servem o nosso
futuro coletivo…
Não pode ser só o futebol a puxar pelo nosso patriotismo!
Outras modalidades, que não meramente desportivas, também são patriotas.
António
Sílvio Couto
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