Sem entrar em conjeturas nem em teorias de
conspiração, nota-se que vivemos num tempo propício à desconfiança, tanto
pessoal como institucional, sem esquecer os labéus lançados por muita da
comunicação social – pouco independente – à mistura com esse novo fenómeno das
redes (ditas) sociais…onde tudo se diz, mas não é preciso ser verdade nem tem
de provar o que é dito!
Bastou um sopro vindo do Oriente e tudo se decompôs
de forma volátil, rápida e transversal. Parece que nada nem ninguém esteve,
está ou estará a salvo desta onda viral. Mais parece que estamos a sair de uma
fita de terror e de ficção do que a lidar com algo racional e entendível. Num
instante o que parecia certo passou a estar sob suspeita; o que era sucesso
virou pesadelo; o que parecia fazer sentido deixou de ter nexo…Esta onda de
perplexidade atingiu tudo e todos, desde os mais simples e crédulos até aos
mais responsáveis e colocados nos altos postos decisores.
- Nos últimos dias ouvimos ministros dizerem tudo e
o seu contrário daquilo que outro tinha afiançado com toda a convicção… e do
chefe nada, nem um pio para qualquer dos lados! A certa altura fica-nos a
sensação de que os membros do governo estão não só desfasados da realidade como
desconexos com a meta…tais são as tiradas ao acaso, como se de amadorismo se
tratasse! Cuidem-se que nos próximos doze meses terão de estar a governar, dado
que a seis meses das presidenciais não pode haver legislativas, bem como
decorridos mais seis meses não poderemos ser chamados a votos. Mal ou bem, não
se fiem nas sondagens – segundo dizem – um tanto favoráveis. Isto é que devia
ser discutido e não os projetos de conquista pessoal, que têm emergido no
executivo em funções!
- Nas coisas relacionadas com o coronavírus covid-19
percebe-se que, decorridos já cinco meses, ainda não sabemos se podemos ir em
frente, se os riscos são menores, se devemos continuar a seguir as indicações
dos responsáveis, tais são as soluções imprecisas, avulsas e à deriva. Nota-se
que o vírus descoordenou o cérebro de muitos dos intervenientes… Os dados
tornados públicos não se acertam com as razões mais simples de conduta. Depois
de serem apresentados como não suscetíveis de contágio, os mais novos são agora
as vítimas diretas e os difusores de novos contágios. Ainda não compreenderam
que não se pode aliviar as rédeas de um povo estruturalmente desobediente? Que
falta captar de tão básico para que tenhamos de sentir os aprumos de pessoas
quase irresponsáveis em matéria de lidar com a liberdade pessoal e coletiva?
- Em matéria de economia continuamos a viver mais do
desenrascanço primário do que da programação atenta, cuidada e previsional.
Querem-nos fazer crer que, por estarmos no contexto europeu do consumismo, já
temos mentalidade de europeu na qualidade de trabalho, de dedicação ao bem
comum ou até de paciência no investimento. Somos daqueles que investem dez e
querem ganhar o dobro com metade do esforço, enquanto noutras culturas se
investe agora para colher daqui a cinco ou dez anos, passando esse intervalo a
cuidar do investimento, não a querer ganhar só porque lançou a semente…é
preciso esperar até que possa haver frutos.
- Não será por apetrechar um restaurante com todos
os utensílios básicos para cozinhar e ter clientela que se fará do lugar um
espaço de sucesso e de grande nome no meio… É isso que estamos a ver na
ascensão e queda de tantos dos nossos mais recentes restaurantes em estrados na
falência; bastou perigar um pouco nos resultados que bem depressa vimos fechar
aquilo que antes era algo de bem-sucedido. Mais uma vez o dito setor de suporte
do turismo ruir como montanha construída sobre um monturo de entulho
não-sedimentado. Eis que, de repente, se quer fazer da economia o motor de uma
sociedade, que está sem bases na saúde. Como sempre a pressa foi má conselheira
de governantes, de políticos, de autarcas e mesmo de patrões…pois, não temos
classe de empresários.
- Agora que foram suspensas, canceladas ou acertadas
a maioria das festas populares e religiosas, valeria pena introduzir o tema nas
programações das dioceses e das paróquias, pois este tempo poderia ser propício
para ir ao essencial e não nos quedarmos em lamentos, alguns deles sem nexo nem
conteúdo. Cuidemos em valorizar o sentido cristão das festas e deixemos a
outros os enfeites de distração, por agora retirados. Cuidemos de trazer à luz
do dia de forma séria e serena a fundamentação das nossas festas sob a
cobertura dos santos. Falemos a verdade uns aos outros, sem subsídios nem
manipulações baratas!
António Sílvio Couto
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