Numa
tentativa de interpretar alguns dos momentos mais significativos e esquisitos
da nossa ‘res-publica’, ousamos servir-nos de uma palavra em dinâmica
denotativa – ‘saloio’ (do árabe ‘sahroi’ (deserto), como identificativo de quem
vive no norte litoral de Lisboa, alguém um tanto grosseiro) – com o sufixo
‘ice’, no sentido de ato prolongado no tempo e num certo espaço… ‘saloiice’,
numa palavra composta e complexa de compreender… ‘onde alguma esperteza
pretende enganar os outros como se fossem ignorantes, usados e manipuláveis’!
Esta
atitude/comportamento/ambiente cultural consideramo-la ‘encriptada’ – isto é, a
precisar de ser desmontada, explicada ou entendida – dado que nem sempre os
dados disponíveis ajudam a entender o que é dito, aquilo que é percebido ou
mesmo quanto se pretende atingir com as atitudes, os gestos e as soluções
propostas.
Vejamos
alguns factos e acontecimentos:
* Crise – solução da TAP
Pela enésima vez a transportadora aérea portuguesa
andou nas bocas do mundo com mais uma crise de identidade, de capital…à mistura
com dinheiro a rodos lançado sobre aquele sorvedouro incontido. Troquem os
figurinos e mudem até as datas, que os discursos serão quase sempre os mesmos,
pretendendo mais e mais fundos para tentar salvar um náufrago inveterado.
As soluções propostas andaram entre duas grandes
vertentes: a renacionalização ou a continuidade com maioria de pendor privado.
Na ocasião recente como noutros momentos anteriores emergiram defensores
ideológicos de uma ou de outra parte… agora respaldados os da nacionalização
num (dita) maioria de esquerda – os da geringonça e adstritos – em confronto
com os da pretensa direita mais favoráveis aos privados e, por conseguinte,
avessos à intervenção estatal… Travou-se uma dura batalha e podemos ver as
oscilações no barómetro das notícias, tendo em conta quem era o patrão da
estação ou qual o ‘servidor’ do canal em agência. Nesta questão da
transportadora aérea foi claro que muitos setores se ergueram para defenderem
os seus interesses mais ou menos explícitos…embora nem sempre totalmente
assumidos.
*
Turismo – da ilusão à realidade
Desgraçadamente continuamos a insistir num setor tão
vulnerável quanto inconsequente, que é o turismo. Se há um ano atrás era uma
fonte de receita, hoje é um caso de desgraça. Se uns tantos iam vivendo da
exploração da ‘galinha de ovos de ouro’, agora foi extinta a obra de sucesso
etéreo. Se os cofres públicos e privados iam prosperando sem haver quem
questionasse a faturação, agora vemo-los a fechar sem glória nem riqueza.
Dá a impressão que os nossos políticos têm vivido
numa bolha fictícia, pois não se aperceberam que a imagem difundida lá fora
continua a ser a ruralista, senão na tela ao menos na mentalidade. Bastará
observar um canal de notícias europeu ou mais americano e veremos que ‘lisboa’
não consta nem sequer na informação meteorológica, quanto mais para poder ser
lugar aprazável desde o centro da velha Europa ou da leitura transatlântica.
A mais recente polémica com as restrições de vários
países à entrada de passageiros procedentes de Portugal mostra assazmente que
pouco valemos e raramente somos levados a sério…pelos nossos pares. Até os
ditos aliados (ingleses) nos destratam com laivos de negligência, faltando
coragem para que haja retaliação a condizer. Cresce a sensação de que não
passamos de uns saloios…
As figurinhas de serviço nesta época de pandemia –
essas do alto setor do estado – deveriam assumir que não têm dito totalmente a
verdade ou, então, não passam de figurantes em filme de baixa categoria. Isto
mostra à saciedade que o nível de liderança anda muito arredio daquilo que
seria desejável. Não passamos, afinal, de uns saloios que entram pela porta dos
fundos, pois os outros têm vergonha das figuras caricatas que fazemos…na sala
do baile! Quando começarem a falhar os jogos e vier a falta o pão, veremos como
vai reagir o dito povo cordato e pacífico, entretido e manipulado, vergado e
iludido… Acordem!
António
Sílvio Couto
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