As
mensagens do Papa Francisco e do Bispo de Setúbal para a Quaresma dão-nos oportunidade
para tentar coser dois aspetos essenciais para a vivência do tempo de
preparação para a Páscoa…deste ano – o dom do outro, sobretudo, em família…numa
descoberta contínua e necessitada de aprofundamento.
O Papa
intitula a sua mensagem – ‘A Palavra é um dom. O outro é um dom’, enquanto D.
José Ornelas Carvalho submete a sua mensagem à temática – ‘Converter-se em
família’.
Respigamos
alguns excertos dum e doutro das nossas referências em Igreja universal e
particular, colocando, posteriormente, breves questões.
* «Quaresma é um tempo propício para abrir a
porta a cada necessitado e nele reconhecer o rosto de Cristo. Cada um de nós
encontra-o no próprio caminho. Cada vida que se cruza connosco é um dom e
merece aceitação, respeito, amor. A Palavra de Deus ajuda-nos a abrir os olhos
para acolher a vida e amá-la, sobretudo quando é frágil».
Esta
citação da mensagem do Papa faz-nos centrar no essencial: o outro é um dom, mas
o pecado pode ofuscar a nossa capacidade de vermos isso de forma tão simples e até
para conseguirmos discernir como a Palavra de Deus é também dom, que nos faz
descobrir o essencial, pois, como diz o Papa, «fechar o coração ao dom de Deus
que fala, tem como consequência fechar o coração ao dom do irmão».
* «’Converter-se em família’ significa, antes
de mais, que o caminho de conversão quaresmal, assumido por cada um de nós
diante de Deus, tem de começar no relacionamento com os membros da nossa
família, aqueles que nos são próximos e com os quais partilhamos o mais
importante da vida. Tantas vezes, vivemos na família como se ela fosse
simplesmente um endereço postal comum, uma pensão onde passamos a noite e
usufruímos de alguns outros serviços funcionais.
(…) ‘Converter-se em família’ quer dizer também
que o caminho de conversão não pode ser apenas uma questão individual. Temos de
estar juntos como família para que ela mude. Nesta Quaresma, somos chamados a
sentar-nos juntos, em família, e decidir que sinais vamos dar, que atitudes
vamos assumir para sermos mais família, mais família cristã.
(...) A conversão ao Evangelho comporta sempre uma dimensão de atenção aos outros, para além da porta da nossa casa, do círculo dos amigos, da coesão étnica ou nacional. Significa alargar os horizontes da nossa atenção e preocupação ativa à totalidade da família humana, como faz Deus, o Pai comum de toda a família humana.
(...) ‘Converter-se em família’ tem igualmente um horizonte fundamental que é a família de Deus, a Igreja, que é uma família de famílias».
(...) A conversão ao Evangelho comporta sempre uma dimensão de atenção aos outros, para além da porta da nossa casa, do círculo dos amigos, da coesão étnica ou nacional. Significa alargar os horizontes da nossa atenção e preocupação ativa à totalidade da família humana, como faz Deus, o Pai comum de toda a família humana.
(...) ‘Converter-se em família’ tem igualmente um horizonte fundamental que é a família de Deus, a Igreja, que é uma família de famílias».
Estes
excertos da mensagem de D. José deseja pôr o dedo na ferida: a família é muito
mais do que aquilo que queremos fazer dela, seja porque isso nos convém
interesseiramente, seja porque não temos capacidade de entender melhor o que é,
de facto, a família. Será em família – de sangue ou da fé – que havemos de nos
converter, dando mais atenção aos outros, dando-lhes sinais dessa conversão
contínua e continuada…
= Se a
família não é o lugar onde estimamos o outro, como poderemos sobreviver na
confusão, na convulsão e na concorrência da rua?
Se a
família não for mais do que um espaço de interesses, como poderemos sentir e
fazer sentir respeito duns pelos outros e de todos entre si?
Se a
família não nos souber educar para a dádiva mútua, como poderemos ser
construtores duma sociedade saudável e sensível aos mais fragilizados?
Se a
família não se converter em espaço de dom e de mistério, tanto de Deus como ao
nível humano, como poderá ela sobreviver aos contínuos ataques e
ridicularizações de certos lóbis anti-família?
António Sílvio Couto
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