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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

‘Erro de perceção mútuo’


À confusão de interpretações sobre a troca de informações – escritas (de forma tradicional e publicável) e outras aduzidas de comunicação pessoal (sobretudo na forma digital) – entre um ministro e um potencial/ex-presidente dum banco, surgiu esta expressão que vai, certamente, fazer furor nos tempos mais próximos, particularmente quando estiver em causa algo que se pretenda esconder: ‘erro de perceção mútuo’… podendo vir a ser de bom-tom pensar que esta expressão pode servir para tudo e quanto se quiser… apensar-se-lhe! 

= Até agora estamos um tanto atónitos, pois só temos visto e ouvido uma parte do ‘mútuo’, isto é, aquela que fala e dá explicações sobre o que se terá passado, mais desculpando-se do que elencando as causas, pois quanto às consequências ainda não se vislumbra nada de essencial…

Não deixa de ser sintomático para a nossa conduta coletiva que se possam usar palavras mais ou menos aplicáveis a situações pessoais, que correm o risco de se virem a generalizar…mesmo que do particular se entre na fulanização das gravidades e dos agravos duns para com os outros!  

= De facto, quem não deixará de usar esta expressão até para poder – intencional ou capciosamente – chamar mentiroso a outrem, só por que ele não conseguiu entender o que lhe foi dito? Quem não se servirá – mais ou menos distraidamente – desta expressão para corrigir a capacidade de entendimento do interlocutor, só porque lhe dá jeito ou até favorece? Quem não hesitará – seja qual for a intenção – em recorrer a esta expressão, se estiver em causa amedrontar os adversários, condicionando-os e tentando-os manipular? 

= Num tempo e num país onde se gasta tanto tempo com coisas secundárias, fazendo crer que são importantes, esta expressão – ‘erro de perceção mútuo’ – tem tanto potencial para não dizer nada como para arranjar condições para dizer tudo…mesmo podendo roçar a mentira e/ou alienando quem não pensa como quem usa a dita expressão. 

= Talvez agora possamos aprender a tratar os assuntos da vida coletiva e pessoal com mais acerto e profundidade, cuidando em que as questões não se resolvem com superficialidades nem jogos-do-empurra, mas antes assumindo cada qual as responsabilidades que lhe competem numa crescente atitude de adultez que sabe enfrentar as consequências das suas decisões e que não se esconde sob a capa da interpretação daquilo que os outros possam pensar… Aquela expressão – erro de perceção mútuo – não poderá tornar-se uma espécie de alibi duns tantos irresponsáveis para prolongarem uma certa impunidade perante tudo e todos… Com efeito, já bastava termos de aturar a ascensão dalguns oportunistas para termos ainda de condescender com a vulgaridade que reina e campeia…  

= Sabendo que nem todos assumem os seus erros e falhas – isso faz arrepender-se e pedir perdão – precisamos de fomentar na nossa sociedade novos promotores (mas não senhores) da verdade, onde a palavra dada é mesmo honrada e os atos são paradigma da personalidade de quem os pratica. Efetivamente para que haja ‘erro de perceção mútuo’ teremos de ser dignos de aceitar os erros, percebê-los e perante os outros aceitá-los…Tudo o resto poderá ser conversa barata e discurso sem nexo. Até quando iremos aturar tais desfaçatezes? Coerência, precisa-se!   

 

António Sílvio Couto

 




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