Pareceu
soar a heresia aos laicistas do Estado – sobretudo numa certa comunicação
social – que um ministro, de visita às enxurradas, no Algarve, tenha dito:
‘Deus nem sempre é amigo’… ‘a força demoníaca da natureza’… que Deus receba junto
de si o senhor que faleceu…
À boa
maneira de fazer notícia condicionando a interpretação, houve reportagens que
até classificaram as palavras do ministro – que se assumiu como vindo duma
família e região pobre – como uma espécie de sermão…pouco harmonizado com a
ação de politiquês… entendível, circunstancial ou razoável.
= Não
está em causa questionar as razões das enxurradas – não foi naquela localidade
que houve um (dito) ‘programa polis’ dispendioso e muito publicitado? – mas
antes tentar colocar alguma ordem nos apartes de certas fontes jornalísticas
para quem – ao que parece – é perigoso incluir a referência a Deus sobre as coisas
do nosso dia a dia. E mais: parece incomodar que, alguém investido em poder ou
talvez em autoridade, possa ousar trazer para a vida pública a (possível) fé
que professa.
= É
verdade que, neste tempo que nos é dado viver, se torna muito complicado
assumir a sua fé…desde que seja cristã, pois uns tantos lóbis logo emergem
confundindo liberdade com obstinação na descrença. Talvez se o tal senhor
ministro – que não conheço nem precisará que o defenda, pois tem reputação
suficiente no meio intelectual em que desenvolve a sua atividade – falasse uma
linguagem estereotipada de politiquês mais ou menos encriptado, seria mais
entendido, mas como deixou transparecer uma fé que vê Deus nas coisas que
acontecem, logo poderá cair na desgraça dos entendidos na bitola do Estado
laico e republicano.
=
Sabemos que se torna cada vez mais exigente ser cristão em qualquer campo de
atividade. Sabemos que muitos se envergonham da fé que parecem ter. Sabemos que
nem sempre são bem entendidas as posições daqueles que ousam testemunhar a sua
fé nos locais de emprego ou nas atividades culturais mais diversificadas.
Sabemos que outras confissões preparam os seus crentes – que facilmente são
rotulados de fanáticos! – para que tenham força e capacidade de incómodo… ao
anódino de tantas fés.
= Por
estes dias foi de ver várias localidades a revestirem de vestes sinistras, em
ordem a ‘celebrarem’ o halloween. Houve mesmo uma das povoações atingidas pelas
enxurradas no Algarve em que se fez uma corrida noturna alusiva à data. Que
haverá de nexo entre tais ‘celebrações’ e as chuvas impiedosas, que fustigaram
a região e o país? Quando o ministro deu a entender que ‘Deus nem sempre é
amigo’, não estaria a querer dar interpretação para além da banalidade destes
festejos neopagãos?
= Talvez
o ministro ‘a prazo’ possa ter de enfrentar ironias e jocosidades de maior ou
menor nível, mas esta sua breve intervenção pode-nos fazer refletir a todos
sobre coisas simples, onde teremos de confrontar a nossa fé com a vida e de
colocarmos esta ao serviço da glorificação de Deus, mesmo que possa haver
provações como estas que aconteceram com as enxurradas. Urge, por isso, elevar
o nível das intervenções dos políticos com religião e de tornar a religião uma
força de intervenção política… não-partidária. A construção da cidade terrena
faz-se com valores e princípios e os cristãos não podem ficar à margem nem
serem marginalizados.
Fé
cristã, a quanto obrigas!
António
Sílvio Couto
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