Ó meu Deus, porquê? – é a pergunta que surge diante dos atentados de
6.ª feira, 13 de novembro, em Paris e arredores. Tal como noutros momentos
trágicos da história da Humanidade, poderemos sentir que algo de grave temos
contra Deus para que Ele assim nos queira, desta forma, corrigir, avisar e
fazer refletir.
Se nos atentados ao
‘Charlie Hbdo’ considerei que, apesar da condenação dos atos praticados não me
sentia na obrigação ‘de ser Charlie’ – pois muito do que aconteceu, embora abjeto
e condenável, era como que o colher dos frutos dalguma irreverência acintosa –
agora sinto repugnância pela forma cobarde e indiscriminada com que se tentou
atingir muitos inocentes…fazendo o maior número de estragos, sem olhar a meios
nem à destruição.
Se usarmos o tríptico da
revolução francesa – liberdade, igualdade e fraternidade – poderemos encontrar
matéria para questionarmos a nossa cultura ocidental, tanto em aspetos
benéficos como em dimensões mais subtis… que nos exigem uma profunda reflexão
pessoal e coletiva.
= Liberdade
Há quem cultive a
liberdade e a viva com responsabilidade, mas muitos outros fazem dela um
pretexto para cada um fazer o que lhe apetece, tornando-a, nalguns casos, mais
uma matéria de libertinagem do que de valor de autonomia e de ética. Ora,
quando a liberdade ‘só’ permite fazer o que eu quero, sem me fazer respeitar a
liberdade dos outros, já não estaremos a viver em liberdade, mas antes numa
espécie de ditadura do egoísmo de uns sobre os outros, usando-os e criando para
com eles comportamentos de duvidosa liberdade filosófica ou social.
Não terá sido isto que
temos andado a semear na nossa sociedade ocidental: sou livre se faço o que me
apetece ou de resto entro em conflito com quem me obstaculiza tais razões e
vivências? Não se tem dado excesso de informação – noticiosa, intelectual,
cívica ou moral – para que os mais fanáticos nas suas ideias possam conquistar
as nossas sem custo ou usando a violência com as armas que lhes fornecemos?
Será que a liberdade tem cor e distingue antes de unir?
No atribulado caminho da
democracia, a liberdade é essencial, mas a segurança não pode ser questionada,
quando está em causa o bem comum…
= Igualdade
Também este valor
intrínseco da nossa convivência coletiva tem andado a ser um tanto maltratado,
pois, se quisermos usar a analogia dos ‘porcos’ dum autor do século passado,
temos de concordar que há uns que são mais iguais do que outros. Sabemos como
todos – teoricamente – somos iguais perante a lei, mas nem sempre a lei trata
de forma igual todos os cidadãos. Mesmo na França republicana – quanto mais em
Portugal! – não é difícil de encontrar discrepâncias, atendendo às ideologias
de cada interveniente… e as ideologias já não são só políticas e filosóficas,
mas também ‘de género’ ou até de delito de opinião. Com efeito, bastará atender
à divulgação de iniciativas de certas forças para percebermos que nem tudo é
tão igual como se pretende insinuar…
= Fraternidade
Neste item da
fraternidade temos uma longa e sinuosa história de atropelos aos sinais da
conquista e da vivência da fraternidade, seja ao nível das culturas, seja dos
povos e mesmo das línguas. Veja-se o alinhamento de fações e de grupos na cena
internacional. Reparemos na promoção de umas certas modas de pensamento e de
critérios de moralidade. Observemos quem manda no mundo e quais os valores que
promove, difunde e vive. Hoje, temos uma espécie de propensão para a rejeição
da dimensão espiritual – sobretudo se for de índole cristã – enquanto se vai
tentando criar a consciência do ´sem-Deus’… numa espécie de diatribe ao serviço
do consumo, do prazer e do hedonismo.
Os atentados de 13 de
novembro devem-nos fazer pensar e exigem seriedade de questionamento à nossa
liberdade, igualdade e fraternidade como temos estado a viver…até gora!
António Sílvio Couto
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