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segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Oh, mon Dieu, porquoi?


Ó meu Deus, porquê? – é a pergunta que surge diante dos atentados de 6.ª feira, 13 de novembro, em Paris e arredores. Tal como noutros momentos trágicos da história da Humanidade, poderemos sentir que algo de grave temos contra Deus para que Ele assim nos queira, desta forma, corrigir, avisar e fazer refletir.

Se nos atentados ao ‘Charlie Hbdo’ considerei que, apesar da condenação dos atos praticados não me sentia na obrigação ‘de ser Charlie’ – pois muito do que aconteceu, embora abjeto e condenável, era como que o colher dos frutos dalguma irreverência acintosa – agora sinto repugnância pela forma cobarde e indiscriminada com que se tentou atingir muitos inocentes…fazendo o maior número de estragos, sem olhar a meios nem à destruição.

Se usarmos o tríptico da revolução francesa – liberdade, igualdade e fraternidade – poderemos encontrar matéria para questionarmos a nossa cultura ocidental, tanto em aspetos benéficos como em dimensões mais subtis… que nos exigem uma profunda reflexão pessoal e coletiva.

= Liberdade

Há quem cultive a liberdade e a viva com responsabilidade, mas muitos outros fazem dela um pretexto para cada um fazer o que lhe apetece, tornando-a, nalguns casos, mais uma matéria de libertinagem do que de valor de autonomia e de ética. Ora, quando a liberdade ‘só’ permite fazer o que eu quero, sem me fazer respeitar a liberdade dos outros, já não estaremos a viver em liberdade, mas antes numa espécie de ditadura do egoísmo de uns sobre os outros, usando-os e criando para com eles comportamentos de duvidosa liberdade filosófica ou social.

Não terá sido isto que temos andado a semear na nossa sociedade ocidental: sou livre se faço o que me apetece ou de resto entro em conflito com quem me obstaculiza tais razões e vivências? Não se tem dado excesso de informação – noticiosa, intelectual, cívica ou moral – para que os mais fanáticos nas suas ideias possam conquistar as nossas sem custo ou usando a violência com as armas que lhes fornecemos? Será que a liberdade tem cor e distingue antes de unir?

No atribulado caminho da democracia, a liberdade é essencial, mas a segurança não pode ser questionada, quando está em causa o bem comum…

= Igualdade

Também este valor intrínseco da nossa convivência coletiva tem andado a ser um tanto maltratado, pois, se quisermos usar a analogia dos ‘porcos’ dum autor do século passado, temos de concordar que há uns que são mais iguais do que outros. Sabemos como todos – teoricamente – somos iguais perante a lei, mas nem sempre a lei trata de forma igual todos os cidadãos. Mesmo na França republicana – quanto mais em Portugal! – não é difícil de encontrar discrepâncias, atendendo às ideologias de cada interveniente… e as ideologias já não são só políticas e filosóficas, mas também ‘de género’ ou até de delito de opinião. Com efeito, bastará atender à divulgação de iniciativas de certas forças para percebermos que nem tudo é tão igual como se pretende insinuar…

= Fraternidade

Neste item da fraternidade temos uma longa e sinuosa história de atropelos aos sinais da conquista e da vivência da fraternidade, seja ao nível das culturas, seja dos povos e mesmo das línguas. Veja-se o alinhamento de fações e de grupos na cena internacional. Reparemos na promoção de umas certas modas de pensamento e de critérios de moralidade. Observemos quem manda no mundo e quais os valores que promove, difunde e vive. Hoje, temos uma espécie de propensão para a rejeição da dimensão espiritual – sobretudo se for de índole cristã – enquanto se vai tentando criar a consciência do ´sem-Deus’… numa espécie de diatribe ao serviço do consumo, do prazer e do hedonismo.

Os atentados de 13 de novembro devem-nos fazer pensar e exigem seriedade de questionamento à nossa liberdade, igualdade e fraternidade como temos estado a viver…até gora!      


António Sílvio Couto
 
 

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