Bater com os dedos numa mesa, balançar a perna, morder a tampa da caneta ou enrolar o cabelo com os dedos são exemplos de comportamentos repetitivos que podem causar aversão ou irritação intensa a quem os observa. Segundo um estudo recente sobre esta alteração psicológica, realizado numa universidade do Canadá, designada de misocinesia, esta doença afeta uma em cada três pessoas.
1. O que é a misocinesia? Quais os síntomas? Estaremos preparados para detetarmos tal doença de índole psicológica? Como se pode ‘curar’? Será uma doença fácil de conviver? Estas e outras questões vamos tentar atender na abordagem a um tema que pode e deve ser aprofundado, particularmente para quem tem trato com outras pessoas e sobre elas fazer alguma avaliação...
2. Com raízes gregas, ‘misokinesia’ vem de “miso”, que significa ódio, e “kinesia”,que se refere a
movimentos. A misocinesia é a rejeição dos movimentos pequenos e repetitivos de outras pessoas. Eles provocam uma reação de forte intensidade. Segundo especialistas sobre este tema dizem que quem sofre desta perturbação é afetado ‘emocionalmente de forma negativa e experimenta reações como a raiva, a ansiedade ou a frustração, bem como um menor prazer em situações sociais, no trabalho e em ambientes de aprendizagem’. Ainda segundo psicólogos especialistas nesta matéria algumas pessoas ‘chegam mesmo a evitar atividades sociais por causa dessa perturbação’.
Os sintomas da misocinesia podem variar de pessoa para pessoa. No entanto, os principais sintomas são:
- Nervosismo e irritação com os movimentos repetitivos dos outros,
- Desconforto, querer sair do local ou se afastar da pessoa que realiza os movimentos repetitivos,
- Isolamento social como medida para evitar a exposição a movimentos repetitivos,
- Dificuldade de concentração e conclusão de tarefas devido ao desconforto.
3. Sendo esta doença bem mais comum do que se julgava – basta reparar que atinge uma em cada três
pessoas –, talvez seja conveniente olhar para ela com uma visão mais holística e tendo em conta a pessoa toda, isto é, na sua configuração psicológica, somática e mesmo espiritual. Sobretudo neste tempo após a pandemia tornou-se mais acutilante ter em conta as reações das pessoas aos mais díspares movimentos de reação psicológica de todos e de cada um de nós. De uma forma quase sintomática passamos a estar sob a possibilidade de nos desequilibrarmos nas pequenas como nas grandes coisas. Os outros tornaram-se para nós mais do que um espelho da nossa complexidade de trato mas também uma forrma de nos aferirmos uns diante dos outros.
4. Quem não terá já reparado que cada um de nós também reflete o ambiente em que vive. Ora, por vezes, nem sempre esse ambiente é (ou será) tão equilibrado quanto seria desejável. Também as circunstâncias de família ajudam ou complicam as condições para que o nosso desenvolvimento seja salutar.
Sem pretender desviar a atenção do tema que temos estado a refletir, dizia alguém sobre uma senhora que intervém na ‘campanha eleitoral’ sempre – a propósito ou a despropósito – traz a ‘violência doméstica’ à liça, como que dando a entender que, ou foi vítima dessa violência ou das pessoas com quem vive ou habita pode estar sujeita à tal violência... de outra forma não se compreende a fixação no tema a toda a hora e momento.
5. Temos, então, de aprofundar esta misocinesia, na medida em que, estando em condições sociais de interdependência, precisamos de cuidar uns dos outros para que consigamos construir uma sociedade – ambiente social, espaço familiar, nas condições de trabalho e até na vivência em Igreja – mais atenta aos problemas dos outros, dado que interferem com a nossa condição relacional. Seremos capazes de ajudar-nos, assim, fraterna e solidariamente?
António Sílvio Couto
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