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quinta-feira, 22 de maio de 2025

Precisamos de políticos ‘profissionais’ (preparados, competentes, servidores)

 


Quem imaginaria ouvir e, sobretudo, submeter-se a alguém que fosse um médico ‘não-profissional’, isto é, que exercesse a profissão sem preparação ou sem dedicação exclusiva? Deixaríamos ir para escola crianças que não fossem ensinadas por professores ‘não-profissionais’? Entregaríamos o carro aos cuidados de um indivíduo que se dissesse mecânico e que não fosse ‘profissional’? Então porque entregamos as decisões sobre o nosso futuro coletivo a pessoas que afirmam que não são políticos ‘profissionais’, isto é, que estão na atividade política (pública) mas não se vinculam nas decisões pelos outros ou que usufruem de vencimentos pagos pelo erário público, mas que funcionam como ocasionais ou parecem predadores à la carte?

1. Em qualquer atividade da vida deveríamos exigir que se verificassem, entre outras, estas qualidades ou caraterísticas: vocação para o exercício da atividade, preparação (mínima, suficiente ou máxima) e sentido de serviço mais do que de usufruto de regalias ou de proventos materiais.

2. Vem esta deriva que aqui partilho, sem querer ofender nada nem ninguém, a propósito de frases algo desconexas no conteúdo e na forma, que se ouvem de pessoas que se apresentam (ou aparecerão) como querendo ser sufragadas pelo voto popular e que reclamam que não são políticos ‘profissionais’, que têm outra atividade e a ‘perninha’ que se propõem fazer na política – autárquica ou outra – é mais um lóbi ou forma de ocupar o tempo em entretenimento. Isto já foi habitual, mas não deveria ser aceite nem autorizado, pois, para além de vermos certos ‘patos-bravos’ de arribação chegarem e saírem muitas vezes de mãos cheias, corremos o risco de entregar, nem que seja por engano, os destinos de uma certa porção de decisões políticas a sujeitos que só querem tirar proveito da função em que se encontram, mesmo que temporariamente ou de beneficiarem os seus apaniguados ou correlegionários mais espertalhões...

3. Retomemos a caraterização daqueles que devem ser políticos ‘profissionais’, isto é, fazendo profissão com todas as condições exigências para o exercício do ato de estar na vida pública e trabalhando para o bem comum. Antes de tudo devem ter ‘vocação’, quer dizer chamamento em fazer algo pelo bem dos outros. Mesmo que possam vir do exercício de uma outra profissão, não podem renegar que, ao entrarem na vida política (serviço de cidadania), têm de manifestar vontade de dar antes de receber, de estar disponível antes de colher regalias ou benesses, de saber que aqueles que neles votaram esperam que dignifiquem a confiança depositada neles. Não será esta premissa uma espécie de utopia e quase desilusão para tantos dos nossos ‘políticos’ quase incompetentes?

4. Abona pouco ou nada em favor dos políticos ‘profissionais’ que não estejam preparados para a função que assumem. Embora possam ter assessores para certas tarefas específicas, os políticos ‘profissionais’ têm de ser arautos de humanismo, escutando mais do que decidindo à pressa. Se tivessem de ter preferidos deveriam ser os mais vulneráveis e indefesos do que os poderosos e caciques, que muitas vezes vegetam à volta da cadeira do poder. Com efeito, este, se não for exercido como serviço, tornar-se-á um antro de clientelismo, de favorecimentos e até de corrupção até ser tudo posto a descoberto...

5. Temos de corrigir, urgentemente, o chavão: os políticos são todos iguais! Há os que são mais honestos e os oportunistas (nestes incluo muitos dos ditos independentes). Há os que são dignos de credibilidade e os camuflados (nestes observo tantos que aparecem para cobrir favores e encapotar outros interesses). Há os que são sérios e os que só o parecem sê-lo quando não se riem (neste encontro os populistas e bem-falantes sem mensagem). Há os que sabemos quem são pelas provas dadas e outros que só os conheceremos se nos deixarmos enganar colocando-os no poder. Diz o povo e com razão: se queres conhecer o vilão põe-lhe o pau na mão!

António Sílvio Couto

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