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quinta-feira, 22 de maio de 2025

Caminho das pedras

 

Os resultados na noite eleioral de 18 de maio podem ser lidos por muitas prespetivas e colocando-nos em diversos ângulos. Veio-me à lembrança uma passagem bíblica em que Pedro, solicitando a Jesus que o fizesse ir com ele caminhando sobre as águas(cf. Jo 6,16-21); então, aquele ao ver a força dos ventos e a profundeza do mar, começou a afundar-se, ao que (em jeito anedótico) o Mestre teria dito aos que viam temeroso em risco: João, ensina-lhe o caminho das pedras... para que ele não se afunde de vez!

De fato, há alguns dos intervenientes na resfrega eleitoral que precisam de seguir o conselho – aprender o caminho das pedras – para que não se afundem irremediavelmente e com eles o projeto político que dizem servir!

1. Antes de tudo vejamos a insignificância a que foram reduzidos os partidos da ‘dita’ esquerda: no futuro parlamento, no seu conjunto, são menos de um terço (do quadro geral): 70. Por seu turno os outros grupos (quatro no total) – apelidados/rotulados de ‘direita’, por contraste com os do outro lado – somam mais de dois terços do hemiciclo: 156... A balança desequilibrou-se de forma repentina e quase dramática. Este fenómeno exige reflexão para todos, desde os vencedores aos vencidos e, sobretudo, para quem não se deixe ficar pela espuma dos episódios mais ou menos simpáticos para as suas preferências

2. Houve agremiações partidárias que ficaram reduzidas ao mínimo e tornaram-se residuais naquilo que já foram num passado não muito longínquo. O BE que já teve dezanove deputados, fez festa por eleger apenas uma representante simbólica. Os comunistas que já tiveram quarenta e sete eleitos, depois de virem a diminuir de eleição para eleição, quedam-se por três resistentes bastiões de zonas em foram quase exclusivos. O partido mais expressivo da esfera da esquerda, para além de perder (vinte deputados desde a última eleição), pode ser ultrapassado por um outro partido que só tem seis anos de história...

3. Há questões que saltam à vista dos mais distraídos – e parecem que são tantos! – qual a explicação do fascínio que certas forças – do quadro da pretensa ‘direita’ – manifestam sobre boa parte da população mais nova? Sendo tantos o que têm mais de sessenta e cinco anos – que viveram a revolução de abril de 74 na sua adolescência – porque se foram afastando das ideias da esquerda ou pelo menos de uma certa esquerda mais radical? O que explica – colhendo as causas e não ficando-se pelas consequências – que ao sul do Tejo já não colham aceitação popular forças que se diziam defensoras ‘dos trabalhadores e do povo’? Mais uma vez as empresas de sondagens foram desacreditadas por parte significativa dos resultados finais – haverá encomenda ou os factos desmentem as pretensões? Não será que a forma de fazer política e, sobretudo, os meios de campanha eleitoral, estão esgotados e podem ser enganadores dos atores em bolha?

4. As pedras por onde têm de caminhar são mais visíveis para uns e algo subtis para outros. Dá a impressão que todos temos de refletir sobre a chegada do fenómeno do populismo a este recanto da Europa. Até agora víamos que lá fora certas forças vingavam à custa de ideias eivadas de intolerância, de propagação do medo, da manipulação contra a convivência entre os povos e as culturas, de uma certa supremacia dos residentes sobre os emigrantes... Tudo isto e muito mais subterrâneo está cá dentro e atingiu foros de arrogância, tanto nas palavras como nos gestos e ações.

5. Não vai ser fácil convencer algumas gerações que não voltaremos para traz, até porque muitos dos favores e regalias foram-lhes dados sem esforço nem como recompensa por qualquer trabalho realizado em favor dos outros. A Europa e a sociedade ocidental têm ajudado a fazer crescer a mediocridade, elevando-a ao poder. De muitas e variadas formas estamos em risco de colapso, se não soubermos perceber que o nosso futuro corre riscos, pois a maior parte vive sem valores morais/éticos e centrando-se no materialismo de vida.



António Sílvio Couto

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