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quarta-feira, 5 de junho de 2024

Migrantes – bem-vindos ou malditos?

 


“Seria útil que os europeus recordassem as suas raízes migratórias (...) É uma pena que, após uma ou duas gerações, uma família se esqueça”, afirmou o Cardeal canadiano Michael Czerny, secretário do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.

Segundo este prelado da Santa Sé, “muitas vezes, a propaganda ou a ideologia sugere que os migrantes fogem por prazer ou aventura: isto é falso, falso, falso. É lamentável que tenhamos de continuar a insistir nisto. É muito importante compreender o que significa ser impelido pela realidade, pela história, para fugir”.

1. O tema da migração deve ser, hoje, uma das questões mais prementes na sociedade europeia, não só pelo número de migrantes que estão nos vários países, como pelo significado que revestem para a nossa cultura, na medida em que muitos deles são provenientes de outras paragens mais ou menos longínquas ou mesmo pelas mais diferentes razões e consequências.

2. As razões que levam alguém a emigrar são muito diversas e complexas, e por isso costuma-se dividir os migrantes por três categorias - refugiados, trabalhadores temporários e migrantes definitivos - e os fatores principais de impulso e atração também em três categorias - sociopolíticos, demográficos e económicos e, porque não, humanitários.
Quais os tipos de migrações? Migração externa ou internacional: deslocamentos entre países, chamada também de imigração. Migração interna: aquela que acontece dentro das fronteiras de um mesmo país. Migração inter-regional: fluxo que se dá entre diferentes regiões dentro de um mesmo país.

3. Embora tenhamos ouvido posições extremadas - restringir, sem controlo ou sem regras - não podemos deixar de ter em conta que todos são pessoas e se deixam a sua terra - com maior ou menor consciência da aventura em que se lançam - não podemos perder de vista as nossas raízes de povo em caminho, umas vezes mais nítido noutras mais simbólico. O pior de tudo será quando, por razões ideológicas (tácitas ou explícitas), se tomam posições que têm tanto de inoportuno quanto de insensato e/ou irracional...

4. Algo parece claro: depois do inverno demográfico que a Europa estava a viver, as vagas de imigrantes rejuvenesceram as sociedades e deram capacidade de mão-de-obra para tantos dos trabalhos que os europeus já não querem nem sabem fazer. Este tema das migrações - sobretudo de pessoas vindas de outros países - na Europa exige capacidade de saber ver (diagnóstico), de julgar (avaliar) e de agir, sem filtros preconceituosos seja sobre ângulo possa ser argumentado.

5. Vejamos alguns dados do nosso país, seguindo o designado ‘plano de ação para as migrações’, recentemente apresentado. A população estrangeira em Portugal aumentou cerca de 33% no ano passado, totalizando mais de um milhão de imigrantes a viver legalmente no país. A população imigrante aumentou de forma significativa no último ano, passando de 781.247 em 2022 para 1.040.000 em 2023... em 2015 seriam 383.759 os imigrantes residentes em Portugal.

6. Porque quem nos guia não é a pretensão política - embora esteja subjacente nas eleições para o Parlamento Europeu - mas a palavra e e as indicações do Papa, deixamos um excerto da mensagem para o 110.º (repare-se na numeração) dia mundial do migrante e do refugiado, que ocorre a 29 de setembro.
«Muitos migrantes fazem experiência de Deus companheiro de viagem, guia e âncora de salvação. Confiam-se-Lhe antes de partir, e recorrem a Ele em situações de necessidade. N’Ele procuram consolação nos momentos de desânimo. Graças a Ele, há bons samaritanos ao longo da estrada. Na oração, confiam a Ele as suas esperanças. Quantas bíblias, evangelhos, livros de orações e terços acompanham os migrantes nas suas viagens através dos desertos, rios e mares e das fronteiras de cada continente!
Deus caminha não só com o seu povo, mas também no seu povo, enquanto Se identifica com os homens e as mulheres que caminham na história – particularmente com os últimos, os pobres, os marginalizados –, prolongando de certo modo o mistério da Encarnação».



António Sílvio Couto

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