Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



quarta-feira, 5 de junho de 2024

Carta-aberta a um tal político (dito) ‘católico praticante’

 


Ouso escrever a V.ª Ex.cia (AV), se bem que, quando nasceu, já eu era quase padre ordenado.

Desde já lhe digo do respeito como pessoa, mas não como mentor partidário.
Desde que tive oportunidade de votar, sempre o fiz e reiteradamente na mesma formação, de que me escuso dar a conhecer.
Dizem que é ‘católico praticante’ e que até chegou atrasado a uma tomada de posse, como deputado, por ter ido à missa.
Tendo em conta estes aspetos desse ‘seu’ catolicismo, não consigo perceber como concilia o gesto de comunhão, se é que o faz na missa sacramentalmente, com a descomunhão com tantos cidadãos e, porque não dizê-lo, católicos em consonância com as diretrizes do Papa, como Mestre na fé e na disciplina.
Ouso, por isso, citar a mensagem para o 110.º (repare-se no número, com mais de um século) ‘dia mundial dos migrantes e dos refugiados’, que o Papa Francisco nos deu desde finais de janeiro, mas tornada pública por estes dias.
«Deus caminha não só com o seu povo, mas também no seu povo, enquanto Se identifica com os homens e as mulheres que caminham na história – particularmente com os últimos, os pobres, os marginalizados –, prolongando de certo modo o mistério da Encarnação.
Por isso o encontro com o migrante, bem como com cada irmão e irmã que passa necessidade, «é também encontro com Cristo. Disse-o Ele próprio. É Ele – faminto, sedento, estrangeiro, nu, doente, preso – que bate à nossa porta, pedindo para ser acolhido e assistido» (Homilia na Missa com os participantes no Encontro «Libertos do medo», Sacrofano, 15/II/2019). O Juízo Final narrado por Mateus, no capítulo 25 do seu evangelho, não deixa dúvidas: «era peregrino e recolhestes-Me» (25, 35); e, ainda, «em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (25, 40). Então cada encontro ao longo do caminho constitui uma oportunidade para encontrar o Senhor, revelando-se uma ocasião rica de salvação, porque na irmã ou irmão necessitado da nossa ajuda está presente Jesus. Neste sentido, os pobres salvam-nos, porque nos permitem encontrar o rosto do Senhor (cf. Mensagem para o III Dia Mundial dos Pobres, 17/XI/2019)».

- Ao ler isto senti que não podemos harmonizar, de forma leviana, missa com juízo final... este será sobre o que fizemos aos outros. Que não podemos dizer-nos em comunhão com Cristo, se desprezamos os outros; se nos entretemos com celebrações religiosas, mas excluímos os mais fragilizados da nossa sociedade...sejam ou não crentes: são. antes de tudo, pessoas com dignidade como qualquer um de nós!

- Neste tempo em que devemos ser testemunhas de fé pela vida, não entendo que se possa falar de justiça sem a praticar. Não me refiro à justiça das leis humanas - de que V.ª Ex.cia é paladino e arauto - mas das leis divinas, que só podem ser servidas por quem está centrado na dignidade da pessoas humana e não nas aleivosias ideológicas, por exemplo.

- Certamente não se deixará impressionar com estas letras, dado que tem outros areópagos para ser fazer ouvir e ver, mas seria de bom serviço a Deus, à Igreja e à Pátria, que quem se diz cristão possa credibilizar o que fala com as tomadas de posição de acordo com os seus valores e critérios cristãos-católicos.

A bem de todos,
me subscrevo



António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário