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segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Da chantagem…ao confronto


Com breves horas de permeio vimos duas das mais altas figuras da nossa vida política a protagonizarem as duas palavras deste título: o chefe de governo a disparar sobre os seus parceiros de geringonça: se não houver acordo/aprovação do OE2021 haverá uma crise política… Por seu turno, o chefe de estado foi confrontado por uma cidadã – ainda não se sabe a coloração – na feira do livro do Porto sobre a não-concretização de ações daqueles que deviam, em seu entendimento, fazê-lo…

Sobre a atitude do PM poderemos considerar que terá esticado a corda da viola para a festa dos seus interlocutores do passado e que ele bem desejaria que continuassem a sê-lo no futuro próximo. Só que nem todos estarão pelos ajustes de serem figurantes da farsa como anteriormente. Houve quem considera-se que não seria com ameaças que se fariam acordos… enquanto outros se vão entretendo com as tricas da ‘sua’ festa e uns tantos adereços à la carte.

Quanto ao episódio do PR poderemos considerar que, por entre milhares de selfies de simpatia, emergiu esta agridoce, que poderá colocar em maior atenção a segurança, não vá tornar-se moda de reclamação quem se pretenda pronunciar em tempos de contestação, de mal-estar e de vozearia da populaça…  

= Será legítimo e correto que se pretenda criar uma crise política, isto é, em que caia o governo a curto prazo? Qual a data limite para convocação de eleições legislativas nos próximos tempos? Em caso de cair o governo, até novas eleições, como seríamos governados? Estaremos diante de algum truque do dito ‘habilidoso’, a quem falhou o tempo mais exato de insurreição? Terá estalado o verniz da incongruência a poucos dias de decidir quem manda no quê? Quem precisa de quem para sobreviver antes que entremos no pântano? Será natural tanto azedume – nas entrevistas, nas declarações e nos tempos de intervenção pública – em tempo de pós-férias? O silêncio de tantos dos intervenientes não soa a cumplicidade ou a ‘deixar ver até onde vai’ o estendal de afundamento? 

= Vejamos dados das regras gerais da nossa República.

O atual PR termina o mandato legal a 9 de março de 2021, devendo haver eleições para o cargo talvez a 10 de janeiro de 2021, em conformidade com o artigo 125.º da Constituição da República Portuguesa (CRP).
Segundo o artigo 172.º da mesma CRP, depois de 9 de setembro deste ano – no último semestre do mandato do PR atual – já não pode ser dissolvida a Assembleia da República. 
   

= Atendendo a estes dados, por vezes surripiados à informação do público em geral, não deixa de ser um tanto inquietante esse tal ambiente criado pelos responsáveis governamentais, sabendo que, na maior parte dos casos, terão de continuar em regime de gestação até às próximas eleições, que nunca poderão acontecer antes de junho de 2021… Isto é, durante a presidência da União Europeia e com as crises – sanitária, económica/financeira, social – multiplicadas a gerir…

Nota-se algum frenesi em certas hostes partidárias, mais pela apatia gerada nos últimos anos do que pela capacidade em fazer crescer a reflexão do projeto comum para o país. Com facilidade vemos surgirem mais fantasmas do que soluções para os problemas gerados pela pandemia. Com relativa conformidade se procura arranjar mais quem iluda do que quem traga empenho em resolver as confusões sem rosto – nada tem a ver com o uso da máscara – e mesmo sem identidade.

Desgraçadamente são mais os profetas da desgraça do que os da esperança, os pregadores do infortúnio do que da vitória, os vencedores vencidos do que os conquistadores da unidade para a paz.

Sem querer pisar na tecla do mesmo, creio que a chantagem – usada pelo PM agora e já noutras ocasiões – é uma boa arma dos ditadores, quando aflitos e sem capacidade de empenharem outros nas suas lutas.  

Vamos ter mesmo de sofrer mais sacrifícios, todos. Dizer o contrário é mentir e os mentirosos só merecem um lugar: fora do espaço de serviço aos outros…o mais depressa possível. No passado isso custou-nos vários resgates… sempre com a mesma coloração e sem-responsabilidade.

 

António Sílvio Couto

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