Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Não acirrem os ‘ismos’


Por estes dias temos visto e ouvido setores – autoapelidados ou rotulados por outros – radicais extremistas a acirrarem-se com terminologia perigosa. Nesta como noutras situações não será totalmente necessário denunciar quem começou, até porque não parece fácil distinguir se os ditos acusados não tiveram cobertura dos promotores e/ou vice-versa...Efetivamente os extremos tocam-se ou até, por vezes, se confundem, senão nos princípios ao menos na prática. 

= À luz dos princípios e dos valores fundados no Evangelho toda e qualquer forma de racismo deve ser considerada ofensa à pessoa humana, tenha ela a tez que tiver ou possa exprimir-se no modo cultural que considere. Por isso, parece-me que os episódios mais recentes desta vaga de crepitação de ‘racismo’ não passa de um modo de iludir questões mais profundas. Com efeito, será mais fácil colar a etiqueta de ’racismo’, quando se agudizam os problemas de emprego do que ter coragem de usar a inteligência para ultrapassar as contigências de não-produção e da perda do poder de compra... Talvez possa ser mais rápido, na mentira articulada, colocar a referênca em questiúnculas de teor racista do que em assumir que já não se consegue iludir a incapacidade de responder à temática da habitação e do relacionamento entre setores sociais desfavorecidos...em bairros (ditos) problemáticos. Talvez seja mais recorrente atirar para os olhos dos eleitores a poeira das tensões de âmbito racista do que arranjar solução e saída para tantos jovens à procura de emprego compatível com a instrução recebida...    

= Apesar das teias de combate ao (dito) racismo irem funcionando, é de baixa presença (meras dezenas ou poucas centenas) e insignificante a adesão às manifestações programadas, após os surtos de conflitos. Quem nos garante que, sob a máscara do ‘ataque’ com tochas, num sábado à noite, nas ruas da capital, não estiveram os promotores-vítimas? Porque será que noutras ocasiões, sob outros ‘anonimatos’, deambularam ‘democratas’ de esquerda e não de outra coloração encapotada? Atirar pedras contra montras de produtos capitalistas não será também crime? Se formos ver os agentes de protesto não vestirão os produtos que tentam pilhar nas suas contestações? Até onde irá a manipulação informativa – preferencialmente ao serviço do ‘quanto-pior-melhor’ do passado no presente – que capta o ângulo da notícia sempre do mesmo palanque, o do olho esquerdo na mira? 

= Foi com um misto de surpresa e de bastante confusão que vi certos comentadores puxarem a culatra pistoleira da sua democracia para combaterem os ‘cobardes’ que se acoitam – dizem eles – sob a capa desse tal ‘racismo’, quando não exercem idêntica indignação por serem vilipendiados os valores mais essenciais da dignidade da família, com os velhos em regime de confinamento psciológico de longa duração e os mais novos em roda-livre de fazerem o  que quiserem antes, durante e depois dos tempos letivos daquilo que devia ser aprendizagem. Não serão estas situações sinais de racismo, de exclusão e de marginalização? A cartilha por onde ainda se guiam não estará desatualizada, tanto no índice como nas matérias mínimas e essenciais? O manual bolchevique por onde aprenderam e através do qual ensinaram não deveria ser reciclado em definitivo? 

= Duas citações...para ajudar na reflexão

«Deve superar-se e eliminar-se, como contrária à vontade de Deus, qualquer forma social ou cultural de discriminação, quanto aos direitos fundamentais da pessoa, por razão do sexo, raça, cor, condição social, língua ou religião. É realmente de lamentar que esses direitos fundamentais da pessoa ainda não sejam respeitados em toda a parte» – Concílio Vaticano II, Constituição pastoral ‘Gaudium et spes’ sobre a Igreja no mundo atual, n.º 29.
«Criados à imagem do Deus único, dotados duma idêntica alma racional, todos os homens têm a mesma natureza e a mesma origem. Resgatados pelo sacrifício de Cristo, todos são chamados a participar da mesma bem-aventurança divina. Todos gozam, portanto, de igual dignidade» – Catecismo da Igreja Católica, n.º 1934
.   

 

António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário