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segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Quem nos defende dessoutro racismo invertido?


Por não estar tanto sob os holofotes de certa comunicação social poderá parecer que não existe. Por ser ofuscado pelo barulho e a exposição de um racismo mais combativo não se percebe o seu alcance. Por ser silencioso e quase subtil não emergem os sinais da sua negligência.

Referimo-nos ao racismo exercido capciosamente sobre os brancos por outras cores – haverá mesmo essa designação de ‘cor’ para distinguir as pessoas? – de ‘raças’ – a quem interessa acirrar tais distinções? – ou até etnias – essas subdivisões artificiais são para quem pretende tirar proveito do ‘quanto pior melhor’!

Fique claro que nenhuma pretensão ideológica está subjacente a esta partilha/reflexão. Antes pelo contrário, sinto vergonha, apreensão e quase nojo que se tente trazer para a discussão pública/política/social algo que parece só servir a quem faz, na sua lide humana, o recurso a questiúnculas mais do que relacionamento daquilo que é trato substancial, adjetivando problemas que deveriam ser tratados no âmbito da educação e não das fraturas de civilização…Tenham cuidado para que não brinquem com o rastilho daquilo que os pode queimar!

= Se consultarmos alguma publicação sobre este tema do ‘racismo’ poderemos ser elucidados da natureza do problema: «racismo consiste no preconceito e na discriminação com base em percepções sociais baseadas em diferenças biológicas entre os povos. Muitas vezes toma a forma de ações sociais, práticas ou crenças, ou sistemas políticos que consideram que diferentes raças devem ser classificadas como inerentemente superiores ou inferiores com base em características, habilidades ou qualidades comuns herdadas. Também pode afirmar que os membros de diferentes raças devem ser tratados de forma distinta…Na sociologia e psicologia, algumas definições incluem apenas as formas conscientemente malignas de discriminação».

Este excerto da wikipédia poderia lançar alguns pontos de convergência na discussão e na apreciação de tantos dos comportamentos aligeirados na nossa sociedade (dita) democrática…

= Vejamos, então, alguns exemplos bizarros: se um negro (preto) é morto por um branco, isso é noticiado como sendo um ato de racismo; se um branco é morto por um negro (preto), tal é considerado como mero acidente. Se alguém de tez negra é protagonista de um conflito social (discussão, má vizinhança ou ruído em prédio), isso reveste com facilidade a configuração de racismo e/ou de xenofobia; se algo idêntico (altercação, desacato ou desordem) tem como interveniente alguém de cor branca ou não-negra, tal pode configurar um assunto de natureza policial. Se um indivíduo vai a uma repartição pública e tem de esperar na fila pelo atendimento, se é de um grupo não-europeu e não é atendido na pressa que deseja, o serviço arrisca-se a ser apelidado de praticar discriminação, mas se for um branco ou um europeu não-negro, sabe que tem esperar pacientemente pela sua vez ou até de voltar noutra ocasião…

= Tem vindo a crescer a sensação de que alguns setores – políticos e sociais, sindicais e partidários, de segurança ou de policiamento – reclamam para que se faça algo para atenuar o que possa haver de sinais de racismo, mas no seu comportamento pouco ou nada se vê a condizer com aquilo que proclamam. O parlamento quantos deputados/as apresenta que estejam fora do circuito de brancos e afins? Onde estão, a sério, as políticas de promoção dos não-brancos ou de etnias ‘rebeldes’ nas fileiras partidárias? Certos setores da ‘esquerda marxista e trotskista’ já se deram conta das incongruências entre o falar e o fazer? Não será que acirram os ânimos fora de portas, mas narcotizam os seus – na construção da vontade coletiva – na hora da efetiva dignificação? Não haverá uma corrente de comunicação social – televisiva, em redes sociais e de imprensa – que se tem tornado lóbi de interesses não-brancos, quando têm de relatar questões étnicas e raciais?

Há muitos ‘candés’, ‘floyds’ ou ‘giovanis’ que não são de tez negra e que sofrem de racismo em silêncio, múltiplos lugares onde vivem, trabalham ou se divertem Tantos/as de quem ninguém fala e que serão mera nota de rodapé nas notícias, sem espaço nas investigações e sem direito a manifestação…

Desgraçado mundo onde uns tantos se consideram superiores em razão da cor da pele, seja lá qual for a mais relevante ou reinante. Haja vergonha por todos os racismos do passado, do presente e no futuro!

O resultado do BB2020 não pareceu ser uma demonstração do ‘lóbi blake’ e dos seus tentáculos?

Ainda não nos percebemos do racismo invertido em que andamos todos envolvidos?

 

António Sílvio Couto

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