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quinta-feira, 20 de agosto de 2020

‘Completa anedota’


Foi desta forma um tanto ríspida e jocosa que um dirigente sindical, ligado ao setor do turismo, reagiu à pretensão do governo em transferir os desempregados daquela área profissional para o setor social, com incidência na resposta social de ‘erpi’ – estrutura residencial para idosos – vulgo ‘lares’.

De facto, só alguém muito desatento ou fora da realidade deste tempo poderá confundir e/ou querer substituir umas pessoas por outras, isto é, deixar de servir às mesas de cafés e restaurantes por mudar fraldas e atender às necessidades (higiénicas e de saúde) dos mais idosos! Como será, colocar as pessoas nas camas e em cadeirões geriátricos tem a mesma técnica de aprontar mesas, mudar talheres e fazer contas ao final do serviço?

É notório que os serviços de emprego (IEFP) não conseguem encontrar candidatos para colocar nos serviços de lares e de centros-de-dia, quando solicitam tais aconselhamentos e mesmo o preenchimento de lugares. Há meses que essa necessidade continua. Será agora, por uma espécie de golpe de sorte, que surgirão não só candidatos, mas pessoas preparadas correta e convenientemente? Isto não passa mesmo de uma anedota, que, por ser triste, faz chorar e não rir!

Esta pretensão do governo em iludir o povo quase-pacóvio só pode emergir de alguém que, no gabinete sem conhecimento da realidade, deseja mostrar serviço sem as mínimas condições de exequibilidade. Efetivamente quem vai pagar esses ‘novos empregados’? As instituições estão, na sua maioria, pelo limite financeiro e, agora, atiram-lhes novos encargos sem terem feito, devidamente, as contas? Mesmo que facultem a cada um dos ‘reconvertidos profissionais’, o equivalente ao ‘ordenado mínimo’ (635 euros), haverá quem queira ir trabalhar, se, no ‘fundo-de-desemprego’, aufere quase o mesmo e não tem de sair de casa? 

= Mais uma vez o setor social está numa espécie de leilão, só porque emergiram tantos e tão variados problemas que as soluções são algo confusas e quase-contraditórias. Os velhos não dão votos, mas podem criar problemas. Muitos deles nem têm opinião política, mas podem colocar empecilhos na engrenagem da ‘política de sucesso’ com que nos andaram a ludibriar nos tempos mais recentes. Ninguém quer assumir que estamos mal e que vamos piorar mais rapidamente do que era desejável.  

A quem queira dizer a verdade – escassos políticos e ínfimos jornalistas – ser-lhe-á dado o epíteto de ‘populista’, só porque não deseja ser popular a qualquer preço. Enquanto os ditos defensores do povo e dos trabalhadores – com ou sem política nacionalista – trocarem os postos de relevo pela não-verdade ou pela mentira quanto baste (q.b.), andaremos em manifestações pelo mais, quando não conseguiremos atingir o mínimo.

Agora que andamos todos mascarados, haja coragem de dizer ‘olhos-nos-olhos’ – esse pouco que ainda se vê no nosso rosto e no dos outros – que o país está falido, o desemprego é dez mais do que aquilo que se divulga e que teremos de fazer sacrifícios a sério a muito curto prazo.

E não venham com cantilenas baratas que a culpa é da Europa, pois se não fosse essa UE onde nos encontramos há quase quatro décadas, estaríamos ainda pior. Ou só interessa estar lá, quando se colhem favores e benesses? Que os milhões prometidos cheguem a todos e não sempre aos mesmos, isto é, aos que deambulam pelos ‘passos perdidos’ e afins. Ou teremos de concluir: só mudam as moscas… se é que chegam a mudar!   

= Números a reter para reflexão:

407.032 desempregados no final de julho de 2020; casais no desemprego – 22% na mesma data.

6,9 milhões de doses da vacinas ‘covid-19’ para Portugal, com o custo de 20 milhões de euros;

26 milhões de euros para criar infraestruturas nos cuidados intensivos;

 

António Sílvio Couto

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