Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



domingo, 9 de agosto de 2020

Paróquia em renovação e reestruturação

«Neste processo de renovação e de reestruturação, a paróquia deve evitar o risco de cair na excessiva e burocrática organização de eventos e numa oferta de serviços, que não exprimem a dinâmica da evangelização, mas o critério de autopreservação».
Este excerto da Instrução da Congregação do Clero: ‘A conversão pastoral da comunidade paroquial a serviço da missão evangelizadora da Igreja’ (n.º 34), coloca-nos perante o desafio da conversão das pessoas à conversão das estruturas.
Tornada pública no final do passado mês de junho, esta Instrução do Vaticano procura ajudar-nos a consciencializar alguns aspetos sobre a paróquia e as suas implicações na vida atual e futura da Igreja católica.
Respigamos algumas ideias do ponto sexto da Instrução (n. os 34 a 41), fazendo os ‘nossos’ questionamentos, observações e propostas.
- ‘A conversão das estruturas, que a paróquia deve propor-se, exige “muito antes” uma mudança de mentalidade e uma renovação interior, sobretudo, de quantos são chamados à responsabilidade como guia pastoral. Os pastores e em modo particular os párocos, «principais colaboradores do Bispo», para serem fiéis ao que Cristo ordenou, devem advertir com urgência a necessidade de uma reforma missionária na pastoral’ (n.º 35). Embora o longo ponto oitavo -- com oito outros subtemas -- aborde as ‘Formas ordinárias e extraordinárias de confiar o cuidado pastoral da comunidade paroquial (n. os 62-65), aqui se faz um enunciado daquilo que se pretende que seja a ação dos párocos e seus colaboradores numa paróquia em ‘reforma missionária na pastoral’. Talvez a ousadia aqui apresentada se esbarre em questiúnculas de poderes subtis em tantas das nossas paróquias...
- ‘Os processos de reestruturação das comunidades paroquiais e, às vezes, diocesanas sejam conduzidas a realizá-las com flexibilidade e de modo gradual’ (n.º 36). Este conselho à prudência tenta fazer com que não haja rutura tanto na memória (familiar e comunitária) como no respeito pelas gerações passadas e os eventos que ‘marcaram os itinerários pessoais e familiares’. Não se pode fazer tudo como se não tivesse havido antes... Mas da prudência ao imobilismo vai pouco mais do que estar parado!
- Tenta-se depois esclarecer quem são os principais intervenientes neste processo de renovação - ‘tal renovação, naturalmente, não diz respeito unicamente ao pároco, nem pode ser imposição vinda do alto, excluindo o Povo de Deus’ (n.º 37).  Isto implica que todos - hierarquia, leigos e religiosos - queiram estar envolvidos num processo de ‘conversão que diz respeito a todos os integrantes do Povo de Deus’. Ninguém está excluído nem pode quer dar lições aos outros do seu pedestal...
- ‘É evidente quanto seja oportuno a superação tanto duma concessão autorreferencial da paróquia, quanto duma “clericalização da pastoral”... O sujeito responsável da missão é toda a comunidade’ (n.º 38). Pela fidelidade ao Espírito Santo e o exercício dos carismas recebidos acontecerá a evangelização, ‘no estilo e nas modalidades de uma comunhão orgânica’. Viveremos eclesialmente assim?
- ‘Será compromisso dos pastores manter viva tal dinâmica, para que cada batizado se perceba protagonista ativo da evangelizaçãoA comunidade paroquial na sua totalidade é habilitada a propor formas de ministério, de anúncio da fé e de testemunho da caridade’ (n.º 39). Numa paróquia dinamizada pela ação de Deus se perceberá que todos têm responsabilidade de ‘crescer e de amadurecer’ em cada etapa da sua vida em paróquia... O resto diferente disto poderá assemelhar-se a algo interesseiro...
- Daí decorre a gratuidade, expressa por excelência na eucaristia, onde ‘cada membro da comunidade se sinta responsável e diretamente envolvido a socorrer as necessidades da Igreja’ (n.º 40). Sentiremos e viveremos todos nesta dinâmica?
- ‘A missão que a paróquia é chamada a cumprir, enquanto centro propulsor da evangelização, diz respeito então a todo o Povo de Deus nos seus diversos componentes’ (n.º 41).  Não será que vemos muitos ‘desempregados’ de larga duração e desresponsabilizados nos meandros das nossas paróquias?

As paróquias têm futuro, mas com o compromisso de todos, sem exceção!

 

António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário