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quinta-feira, 2 de julho de 2020

Tendências sexistas…a corrigir


Num programa televisivo com alguma audiência – a crer naquilo que dizem de si mesmos – uma concorrente disse ‘tout court’: quero os homens todos fora da casa… entenda-se do programa!

Se a frase mudasse de sujeito, isto é, se tivesse sido um homem a diz aquilo sobre as mulheres, qual teria sido a reação? No mínimo diriam que era machismo…e logo se criaria um alarido de chinfrineira… à la carte. Mas como foi dito por uma mulher concorrente brasileira, não vi a mínima reação ou rejeição… ficando tudo impávido e sereno, na cumplicidade!

Noutras circunstâncias o ‘grande irmão’ fez soar a sua altissonante posição ameaçando, castigando e expulsando. Por agora a censura não se pronunciou. Será que concorda com o que foi dito ou não esteve atento à discriminação semeada? Haverá clichés que não passam pelo crivo de certos lóbis, enquanto outras atitudes são julgadas de forma implacável? Até onde irá alguma da tendência encapotada de defesa das mulheres, quando elas ofendem os homens e ninguém ousa pronunciar-se? 

= É notório que no último século se deu uma mudança do reconhecimento da função/papel da mulher na sociedade ocidental. Ainda bem que tal se verifica, pois o processo está em marcha e ainda faltam muitos degraus para a verdadeira igualdade na diferença e diferenciação no igualitarismo.

Através de múltiplas iniciativas se foi caminhando para uma maior assunção de direitos e de deveres entre homens e mulheres. Por vezes certas lutas tornaram-se de consequências pouco correlativas às causas, dado que algumas forças ideológicas em vez da emancipação da mulher foram criando estereótipos construídos na imitação do masculino. E nem as poucas mulheres que ascenderam ao poder – no governo-geral (pasme-se em Portugal só houve uma mulher a gerir um governo), nas autarquias (poucas sublimaram as resistências partidárias) ou mesmo nas empresas (muito poucas conseguiram vingar no campo da gestão ou nas tarefas de maior visibilidade) – conseguiram colmatar a mistura com situações a roçar quase a miséria senão moral ao menos económica de tantas mulheres com qualidade humana, social, cultural e mesmo espiritual.  

= Há ainda demasiadas questões em aberto, algumas delas com apreensão quanto ao seu desenvolvimento, na medida em que não basta dizer que não há obstáculos para que estes se diluam por arte mágica. Em quase todas as áreas de atividade as mulheres têm acesso, seja de forma ativa/profissional, seja pelo modo tácito de serem mulheres com ação num campo muito específico. Em razão do espaço de atividade em que me situo, gostaria de deixar algumas questões/sugestões sobre o modo como a mulher pode e deve estar/participar, viver/sentir e testemunhar a sua função na Igreja católica.

- Fique claro que mulher e homem batizados têm os mesmos direitos e deveres na Igreja, inerentes ao seu sacerdócio batismal, mas também em razão das funções real e profética. Por isso, não há ôntica e teologicamente qualquer discriminação por seu homem ou ser mulher. Com efeito, que seriam de tantos dos serviços – dos mais simples aos mais complexos – na Igreja se, um dia, por hipótese, as mulheres fizessem uma ‘greve de zelo’? A dedicação silenciosa e cuidada nas igrejas-templos mostram como elas são importantes na Igreja-comunidade. E nem o condicionamento no acesso ao exercício do ministério ordenado as menospreza, antes nos dá a noção da sua importância eclesial. Com efeito, não será o não-exercício do múnus eclesiástico que diminuirá o papel das mulheres na vida da Igreja católica.

- É um facto que a inserção das mulheres nos serviços litúrgicos tem vindo a evoluir sem grandes saltos nem solavancos. Na verdade, se repararmos, nas últimas três décadas, quantas mulheres foram instituídas como ‘ministros extraordinários da comunhão’. Como diz um teólogo francês: a Igreja não aprova, põe à prova… e prestadas as provas virá a aprovação!

- Há, no entanto, cuidados redobrados a tomar, pois a falta de sacristães (homens) nas paróquias não deveria servir para deixar à solta franjas que poderão feminizar em excesso a Igreja e quanto a ela se refere. Como se diz de certos adolescentes em maré de afirmação: temos de vigiar para que não haja uma espécie de eucaliptização da vida religiosa nas paróquias e similares…

Todos somos precisos, mas ninguém é imprescindível!   

 

António Sílvio Couto

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