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segunda-feira, 13 de julho de 2020

Oração de intercessão




«A intercessão é uma oração de petição que nos conforma de perto com a oração de Jesus. É Ele o único intercessor junto do Pai em favor de todos os homens, em particular dos pecadores. Ele ‘pode salvar de maneira definitiva aqueles que, por seu intermédio, se aproximam de Deus, uma vez que está sempre vivo, para interceder por eles‘. O próprio Espírito Santo ‘intercede por nós (…) intercede pelos santos, em conformidade com Deus’ (Rm 8, 26-27» (Catecismo da Igreja católica, n.º 2634).
No quadro geral da oração a intercessão ocupa um terceiro estádio: depois do louvor e da ação de graças e antes de petição, encontramos a intercessão.
Como poderemos descrever, então, a ‘intercessão’? Este tipo de oração é fundamentalmente voltado para o outro, focando-se no bem da outra pessoa. Por esta razão a oração de intercessão tem, como principal “característica [ser] de um coração sintonizado com a misericórdia de Deus”. Além disso, “na intercessão, quem ora ‘não olha aos seus próprios interesses, mas aos interesses dos outros’, e chega a rezar pelos que lhe fazem mal’ (CIC, 2635).
Num mundo onde parece que os interesses pessoais (individuais) se sobrepõem aos dos outros, como poderemos viver e testemunhar a força da intercessão, seja através da oração, seja pelo desenvolvimento de iniciativas que atendam aos problemas dos outros? Ainda recentemente, por ocasião da pandemia do coronavírus, tivemos de fazer escolhas entre defender-nos a nós mesmos – onde a máscara sanitária era um exemplo simples – e, ao mesmo tempo, cuidarmos dos outros para que não fossem infetados pelo vírus. Se houve casos de generosidade para que não se verificasse contaminação, a determinado momento, começou-se a verificar algum laxismo, próprio de quem pensa mais em si do que nos demais. Há, por isso, a necessidade de procurarmos, como cristãos, cultivar um espírito mais intercessor, colocando os interesses, necessidades e dificuldades dos outros em referência superior à nossa, por vezes, egoísta, interesseira e até egolátrica.
Vejamos alguns aspetos da fé católica, onde já se exerce este poder de intercessão, podendo ser melhorado ou mesmo sendo feito com o sentido original.
– Antes de tudo, a intercessão é um exercício do sacerdócio batismal. Os crentes não só louvam a Deus e o invocam por si mesmos, mas também lhe pedem pelos outros, ou seja, intercedem sacerdotalmente, como medianeiros, pela salvação do mundo.
– Na ‘Oração Universal’ ou dos fiéis, na Eucaristia, «o povo…, exercendo a função do seu sacerdócio batismal, apresenta preces a Deus pela salvação de todos» (IGMR, 69). Poderíamos ainda sugerir que se possa incentivar a colocação de pequenos cestos, à entrada do espaço da celebração, onde se colocam as intenções – como por exemplo aquando da celebração da ‘missa pro populo’, que cada pároco tem obrigação de celebrar cada domingo – que seriam levadas ao altar no momento do ofertório, juntamente com a partilha económica recolhida na assembleia… fazendo isso em atitude de intercessão e como expressão de comunhão entre todos, não havendo recurso a qualquer estipêndio…
– Na Oração Eucarística, desde o louvor inicial, brota espontânea a petição, as «intercessões» que, na segunda parte, se fazem pela Igreja, pelos oferentes, os presentes e os que de alguma maneira foram protagonistas da celebração (batizados, confirmados, esposos, professos, ordenados, defuntos).
– Na Liturgia das Horas também as intercessões têm especial significado, sobretudo em vésperas: em laudes, as preces, são para consagrar o dia ao Senhor; enquanto em vésperas, as súplicas são mais de intercessão. Em laudes, estas preces são «invocações» por nós, enquanto, em vésperas, tal como na Eucaristia, são «intercessões» pelos outros.
– Em certos campos de âmbito pastoral – grupos e movimentos, paróquias e comunidades – vão surgindo sugestões para o exercício deste aspeto da intercessão, seja pela organização de grupos de intercessão, seja através de iniciativas, como o ‘telefone SOS’ ou espaços de escuta e/ou colocação de intenções. Isto poderá acontecer como expressão do cuidado de uns pelos outros e como vivência intercessora humilde, fraterna e solidária. 

Quem intercede olha para os outros mais do que para si mesmo, cuidando dos mais frágeis em suas fragilidades.  

 

António Sílvio Couto

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